Em meio a um imbróglio judicial, o projeto de restauração do Casarão Aeropostale, localizado no Campeche, Sul da Ilha, volta a ser discutido entre a administração municipal e a sociedade. Em encontro na prefeitura, nesta quarta-feira (11), promovido pelo FloripAmanhã, estiveram presentes duas visitas ilustres diretamente da França, Roseline de Giraud d’Agay Sartre e Sophie de Giraud d’Agay Halleux, sobrinhas-netas do escritor e aviador Antoine de Saint-Exupéry.
As descendentes de Saint-Exupéry estão no Brasil para série de comemorações em torno da obra “O Pequeno Príncipe”, que está completando 80 anos. Elas são netas de Gabrielle de Saint-Exupéry, única irmã do escritor que teve filhos.
Em Florianópolis, além de percorrerem locais importantes da passagem do autor, tiveram a missão de encorajar a restauração do Casarão Aeropostale como um memorial, um espaço histórico-cultural de exposição permanente.
Ainda pela manhã, elas estiveram na Escola Alexandre Sérgio Godinho, em Biguaçu, para visitar o projeto de literatura infantil em torno do clássico, desenvolvido pela escola, com curadoria da pesquisadora e presidente da Amab (Associação em Memória da Aeropostale no Brasil), Mônica Cristina Corrêa. Nesta quinta (12), elas visitam o casarão, encerrando a passagem pela Ilha.
Projeto não sai do papel
Segundo Mônica, esse é um projeto que se arrasta há pelo menos quatro gestões municipais, sem expectativa de sair do papel. A esperança é que, com o assunto de volta à tona, e com o apoio da prefeitura, o projeto finalmente saia do papel.
“Eu achei muito oportuno trazê-las e mostrar também essa situação, já que o pai delas esteve aqui três vezes para ver se o projeto avança. Ele está com 98 anos, não pôde vir para o Brasil, e elas vieram em seu lugar”, conta Mônica.
Grande defensora da importância do casarão para o Campeche e a Ilha, a presidente da Amab explica como está a situação atual da estrutura.
“A prefeitura está nos prometendo encaminhar as tratativas jurídicas necessárias para que ocorra o restauro de um espaço comunitário, que é da prefeitura, em um local de memória de toda a população. E o que fizemos aqui hoje é debater quais são as estratégias para que saia do imbróglio judicial”, relata Mônica.
“O memorial resgata a história dos pilotos franceses e dos pescadores, e a cidade ganha mais um ponto turístico e cultural. A sociedade precisa conhecer a sua história, de importância singular, para poder preservá-la”, defende o vice-presidente da FloripAmanhã, Salomão Mattos Sobrinho.
Histórico do casarão e o imbróglio judicial
O casarão fechado e com aparência de abandono na avenida Pequeno Príncipe é a única construção com acesso ao público que resgata a memória do serviço aeropostal francês no Brasil.
Conforme Mônica, por volta dos anos 1940, passou a pertencer à União Federal, sob a guarda da Força Aérea Brasileira. Em 1945, foi implantada uma escola no local.
Nesse mesmo ano, o local teria sido ocupado pela professora Ivone da Silva e sua família. Depois, em 1957, foi habitado pela professora Carolina Inácia de Jesus Heerdt – falecida nos anos 1970 – e o marido José Lourenço Heerdt – morto em 2008.
Descendentes desse casal residem em uma parte que está em discussão judicial para ser desocupada. Vale ressaltar que, em novembro de 1989, a União Federal concedeu para uso gratuito do município uma área de 15.022 m2, que incluía o antigo casarão. O espaço foi tombado como patrimônio histórico pelo município em 2014.
Próximos passos
A assessora especial de projetos, Zena Becker, explica que não tem como a prefeitura tomar decisão sem o parecer final de um juiz. E é uma ação que já existe há anos, pedindo o imóvel, depois ação de despejo, porque na verdade as pessoas se apossaram de um bem e como ficaram muitos anos lá acabaram tendo o direito adquirido. Judicialmente existem complicações”, explica.
“É claro que queremos resolver. Eu mesma acompanho essa questão desde 2013, imagina eles que estão há mais anos. E nenhum prefeito vai resolver antes que se desenvolva o imbróglio. Quando fui secretária de Turismo, por exemplo, tínhamos até empresários dispostos a bancar o museu, só que não conseguimos porque não vamos fazer um museu com uma família ocupando a metade do imóvel nem comprar um terreno nosso”, acrescenta Zena.
Ela diz que vai se atualizar sobre a questão judicial novamente com a procuradora-geral do município, Christiane Egger Catucci, e ver como a administração pode resolver a questão.
“Vou conversar com a procuradora, com o prefeito, e ver como podemos tentar fazer uma negociação para que entendam que ali não é o lugar deles”, finaliza.
(ND, 12/10/2023)
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