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Novas perspectivas pela recuperação do casarão da Aéropostale

Imóvel serviu nas décadas de 1920 e 1930 para que os aviadores estrangeiros se reunissem com os nativos, a maioria deles pescadores – Foto: Emmanuel Carlson/DIVULGAÇÃO/ND

Enquanto os aviões comerciais decolavam do Floripa Airport, perto dali o antigo casarão do bairro Campeche que abrigou os pilotos da Aéropostale e Latécoère, nas décadas de 1920 e 1930, recebia duas sobrinhas-netas de Antoine de Saint-Exupéry, o escritor que cruzou os céus da América do Sul e entrou para a história da aviação e da literatura universal.

Em sua primeira viagem ao Brasil, Roseline de Giraud d’Agay Sartre e Sophia de Giraud d’Agay Halleux conheceram sexta-feira as instalações do imóvel onde os aviadores cozinhavam e descansavam em suas escalas, na rota que vinha da Patagônia e terminava na França.

Na visita, intermediada pela professora e tradutora Mônica Cristina Corrêa, as francesas também tomaram conhecimento do projeto que pretende transformar o casarão num centro de memória e espaço de uso comunitário pelos moradores e artistas do Campeche. Elaborado em 2008, ele continua na gaveta porque o abandono do imóvel estimulou famílias a ocupá-lo e depois reivindicar o direito sobre ele a título de usucapião. “Acompanho esse processo há quatro gestões municipais e posso dizer que falta vontade política para solucionar o caso”, diz Mônica, que preside a Associação Memória da Aéropostale no Brasil.

As expectativas agora se voltam para a nova administração municipal e para a parceria realizada com o FloripAmanhã, associação civil que luta para destravar questões que impedem o avanço de projetos na cidade. Mônica Corrêa afirma que a comunidade do Campeche foi consultada e aprova a reforma, porque o casarão é uma das primeiras construções do bairro e tem relação com a memória dos moradores mais antigos. As sobrinhas-netas de Saint-Exupéry consideraram “magnífico” o projeto, feito pelo escritório da arquiteta Lilian Mendonça.

Representando a prefeitura, a presidente da Fundação Franklin Cascaes, Roseli Pereira, falou da importância do edifício, porque era ali que os aviadores estrangeiros se reuniam com os nativos, a maioria deles pescadores, em suas escalas no campo de pouso do Campeche. Quando for resolvido o imbróglio jurídico que inviabiliza qualquer intervenção, a ideia “é recuperar e revitalizar este espaço, que faz parte da memória da cidade”. O ganho social também deve ser levado em conta, porque o casarão seria transformado em mais uma atração turística de Florianópolis.

Para elaborar o projeto, a arquiteta Lilian Mendonça fez um estudo profundo da edificação, das formas, dos materiais e elementos utilizados na construção. Além da recuperação, a intenção é integrar o espaço com o entorno, em especial o antigo campo de pouso, hoje uma área sem uso no bairro. “Aqui seria possível realizar oficinas e instalar um auditório de uso da comunidade”, reforça. O casarão fica numa área de 1.706 metros quadrados muito bem localizada, na esquina das avenidas Pequeno Príncipe e Campeche.

Outras visitas a cidades brasileiras

Roseline de Giraud d’Agay Sartre e Sophia de Giraud d’Agay Halleux gostaram muito do Brasil e, na estada na Grande Florianópolis, visitaram a escola Professor Alexandre Sérgio Godinho, em Biguaçu, onde é realizado um projeto de formação de professores em parceria com a tradutora Mônica Corrêa. As sobrinhas-netas de Saint-Exupéry também passaram pelo Rio de Janeiro, onde o shopping RioSul celebra os 80 anos da obra mais icônica do autor francês com a exposição “Pegadas do Pequeno Príncipe”. Foram ainda a Petrópolis (RJ), cidade que também serviu de abrigo para os pilotos da Latécoère e que mantém a Casa do Pequeno Príncipe, e a Curitiba, onde funciona o Hospital Pequeno Príncipe, o maior do Brasil na área da pediatria.

A professora Mônica Cristina Corrêa defende o projeto de recuperação do casarão da Aéropostale alegando que, sendo uma cidade que produz e exporta tecnologia, Florianópolis não pode ignorar o avanço que a aviação representou para o mundo. Todas as suas pesquisas indicam que o autor de “O Pequeno Príncipe” (e de “Voo Noturno”, “Terra dos Homens”, “Piloto de Guerra”, “Carta a um Refém”, entre outros) foi um dos aviadores franceses que pousaram no Campeche a partir de 1929. E foi voando que ele morreu: durante a segunda Guerra Mundial, em 31 de julho de 1944, o avião pilotado por Antoine de Saint-Exupéry desapareceu no mar Mediterrâneo.

(ND, 14/10/2023)

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