Um pedacinho de terra perdido no mar que oferece enorme potencial náutico, com pontos cobiçados e belezas naturais que poderiam receber mais turistas, investimentos e desenvolver a região.
São 230 quilômetros de costa marítima e lagoas com uma demanda náutica reprimida. O transporte aquaviário, por exemplo, é assunto antigo e muito desejado por moradores das regiões Norte e Sul da Ilha e dos municípios de São José, Palhoça e Biguaçu.
Trajetos que poderiam acontecer em menos de meia hora de navegação substituiriam as horas passadas dentro de ônibus lotados que em horários de pico percorrem as avenidas e rodovias disputando espaço com veículos, na maioria das vezes ocupados por uma pessoa.
Para atender esse anseio da população, um novo projeto traz um sopro de esperança. A ideia de construção de uma marina na Beira-Mar Norte tem animado prefeitura, organizações como a Floripamanhã e investidores.
O Parque Urbano e Marina Beira-mar será construído no trecho entre a Praça de Portugal até a Praça do Sesquicentenário e será dividido em duas partes: uma particular com capacidade para 624 embarcações, e outra pública, com disposição para 60 embarcações e por onde desembarcariam os passageiros do transporte marítimo.
O projeto contempla também que a Marina tenha um sistema de transporte integrado que ofereça deslocamento de BRT (Bus Rapid Transit) para locomoção dentro da Ilha.
O projeto já conseguiu a Licença Ambiental Prévia (LAP), que atesta a viabilidade de localização do empreendimento.
O próximo passo é conseguir até o final do ano a Licença Ambiental de Instalação (LAI), que concede o direito de implantar o empreendimento. Se tudo correr bem, 2024 será o ano em que a Marina começa a ser construída.
O sopro de esperança se tornaria grito de liberdade e desencadearia outras oportunidades de negócio, como a recuperação da indústria náutica de Florianópolis, segmento que seria desenvolvido com a demanda de embarcações particulares e para o transporte público marítimo.
Em Florianópolis, uma solução motiva outra
O futuro pode ser muito promissor, e as oportunidades de exploração do potencial náutico são inúmeras, como o projeto do ancoradouro de Canasvieiras, por exemplo.
A ideia prevê a oportunidade de o bairro se tornar ponto de parada de navios de cruzeiro, mas um dos principais impasses deste empreendimento é de que se os turistas que quisessem conhecer o Centro de Florianópolis gastariam muito tempo no trânsito e teriam poucas horas para passear.
Com um trecho de catamarã entre Canasvieiras e a Marina, os visitantes chegariam rapidamente aos pontos turísticos.
Um projeto muito perto de ser executado e que anima o presidente do Floripamanhã, ONG sem fins lucrativos que tem como objetivo apoiar as decisões assertivas para o desenvolvimento do município, Jaime de Souza, é o mangue do Itacorubi, pertencente ao Estuário Fritz Muller, que para ele é um dos pontos da orla náutica de Florianópolis que mais precisa de atenção.
A entidade já conta com o apoio da Prefeitura Municipal e busca agora parceria de empresas privadas que possam promover a revitalização do local que se tornou um local cheio de lixo e que é usado para a prática de atividades ilícitas.
Além do potencial turístico que poderia fornecer passeios em embarcações e ambientes de convivência para a comunidade, o local é rico em flora e fauna, que serviria tanto como campo de estudo para estudantes universitários e pesquisadores de diversas áreas quanto ponto potencial para a pesca e exploração de crustáceos.
A economia ancorada no mar também conta com uma pesquisa desenvolvida pela Universidade Federal de Santa Catarina que está avançando para a criação de fazendas marítimas para a criação de tainha.
Assim como acontece com a produção de ostras, a criação dos peixes seria controlada para que os animais tivessem um desenvolvimento melhorado a partir de cuidados com a alimentação, além da realização do sonho do manezinho: ter tainha no prato o ano inteiro.
Dentre os benefícios econômicos, haveria a mudança de posicionamento dos pescadores, que deixariam de ser exploradores dependentes da safra e se tornariam produtores.
Alternativas importantes esbarram na legislação
Para especialistas em infraestrutura, mobilidade urbana e demais áreas, a Marina seria um local de oportunidades de desenvolvimento para a cidade e novos negócios.
Mas assim como outros projetos de melhorias para Florianópolis, acabam encontrando barreiras nas normas impostas por órgãos ambientais e dificuldades em compreender e dividir as responsabilidades de município, Estado e até União.
A Constituição Federal de 1988, no artigo 20, inciso IV, determina que todas as ilhas da Costa Brasileira pertencem à União, à exceção de territórios que sejam sede de municípios.
Com isso, Florianópolis possui autonomia para realizar quaisquer atos administrativos. Contudo, as terras da Marinha e faixa de praia pertencem à União (artigo 18), o que faz com que a Ilha de Santa Catarina seja autônoma, porém sua orla pertença à União.
Outro exemplo de entrave na legislação é de que se a condução marítima tiver integração com o Continente, precisará estar ancorada em duas bases: o transporte municipal é de responsabilidade de Florianópolis enquanto o intermunicipal é de responsabilidade do Estado.
Empecilhos como esses se tornam discussões demoradas e acabam ficando no papel. Além disso, obras como as que estão previstas para a exploração náutica são grandes e demandam altos investimentos e prazos extensos para execução.
Jaime de Souza afirma que projetos dessa dimensão requerem entusiasmo.
“Seria necessário um planejamento enorme e de longo prazo, vontade dos políticos atuais e de seus sucessores e principalmente coragem para dar os primeiros passos e encarar a imensidão de cada projeto”, comenta.
Mesmo assim, Souza se mostra otimista com os projetos que são sugeridos para a transformação de Florianópolis e região, como por exemplo aqueles que estão registrados nas agendas para 2030, 2040 e 2050, que serão apresentadas em agosto deste ano.
Nelas, especialistas demonstram estudos, sugestões e possíveis soluções para problemas como saneamento básico, alternativas para transporte coletivo veloz e de qualidade e moradia social, por exemplo. São temas importantes que acabam se cruzando com a necessidade de projetos náuticos.
“Todos esses pontos, explica o engenheiro de comunicação que participou da construção das agendas, Neri dos Santos, se conectam com a exploração do potencial náutico da região. Se tivermos transporte marítimo de qualidade, o número de carros nas vias terrestres tende a diminuir, favorecendo a mobilidade urbana, por exemplo.”
Para Santos, a Marina Beira-mar é a chave que abrirá a porta de uma nova Florianópolis, mais conectada, organizada e com melhor mobilidade.
Um passo que desenvolverá o município e que trará mais turistas para a Ilha que deu ao poeta tanto pra cantar.
Potencial marítimo de Florianópolis é aproveitado por atletas e simpatizantes de esportes aquáticos
Surf na Joaquina, stand up paddle na Lagoa da Conceição, windsurf no Campeche. Florianópolis e suas praias oferecem a oportunidade ideal para todos os tipos de esporte aquático.
Basta escolher a modalidade e encontrar o endereço perfeito, seja em águas calmas ou mar agitado pelo vento sul, o atleta ou praticante do esporte vai encontrar o lugar ideal para treinar ou se divertir.
Dentre todos os esportes praticados nas águas de Florianópolis, o remo é o que se destaca como a principal tradição e referência nacional.
A atividade esportiva carrega um ar de romantismo e é herança passada de geração em geração há mais de um século.
A primeira equipe, o Clube de Regatas de 29 de abril, foi criada em 1903. Nos anos seguintes surgiram os clubes que estão em atividade até hoje: Clube Náutico Francisco Martinelli (1915), Clube Náutico Riachuelo (1915) e Clube de Regatas Aldo Luz (1918). A Federação Catarinense de Remo foi fundada em 1919.
(ND, 11/08/2023)
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