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Não adianta engordar a praia em SC se não trata o esgoto, diz medalhista olímpico Lars Grael

Da Coluna de Renato Igor (NSC, 20/03/2023)

O medalhista olímpico Lars Grael, bronze em Seul 88 e Atlanta 96 na Classe Tornado, mantém uma forte
atuação social, no esporte e na saúde, com destaque para a defesa da universalização do saneamento
básico. Um tema que Santa Catarina tem debatido muito atualmente, em função dos recentes problemas que envolvem saúde pública, meio ambiente, turismo e economia.

Fundador do Instituto Rumo Náutico (Projeto Grael), que atendeu a mais de 14 mil jovens e já foi premiado pelo Criança Esperança, da Rede Globo, Lars Grael é embaixador do Instituto Trata Brasil, reconhecido por seu trabalho na área do saneamento.

A coluna acompanhou com exclusividade a entrevista que Lars Grael gravou para o podcast Futuro Azul,
do Grupo Atlantis, que vai ao ar nesta segunda-feira (20), às vésperas do Dia Mundial da Água (22).

Leia a seguir alguns trechos:

ESPORTE E CIDADANIA
A questão da relação entre o esporte e o meio ambiente é fato conhecido de várias modalidades esportivas, notadamente a prática da vela ou o iatismo, porque nós temos a nossa cancha de competição no mar, nas baías, lagunas, lagos, represas e rios. E nós observamos detritos, lixo flutuante, vazamento de óleo de embarcações, navios, mas sobretudo o esgoto. Então, o velejador torna-se um fiscal da natureza. O esporte não pode estar desconectado de questões como cidadania, educação, oportunidade, inclusão social, saúde pública e saneamento básico.

MINISTÉRIO DA DOENÇA
O país nas últimas décadas não deu a devida importância ao tema do saneamento básico. No Brasil, olhando pela ótica do cidadão, as políticas públicas são para cuidar da doença. Então nós temos um Ministério da Doença. O Ministério da Saúde deveria ter uma frente de igual ou maior importância que é a da saúde preventiva. Primeiro é erradicar a fome, isso é óbvio, mas também melhorar a qualidade nutricional e estimular a atividade física nos municípios. O terceiro vetor é o combate à ausência do saneamento básico. Nós convivemos com o fato de que só temos 51,2% do esgoto tratado. Isso é uma chaga inaceitável e é pela ausência do saneamento básico que você vê a transmissão de doenças diversas.

SANTA CATARINA
Santa Catarina é um estado desenvolvido em vários aspectos. Parque Industrial moderno, comércio atuante, a preservação de Mata Atlântica tem um índice acima da média brasileira, IDH elevado e destino turístico dos mais importantes do Brasil. Mas tem números que são muito menos animadores quando a gente fala de apenas 27,7% da população com o esgoto tratado. Isso é muito pouco, é quase a metade da média nacional. Recentemente, estive no campeonato brasileiro de vela da classe Sniper, em Santa Catarina. Um paraíso turístico, Jurerê, Canavieiras, aquele mar lindo, lugar agradável, mas a placa na praia dizia “interditado para banho”, a praia estava imprópria. O que isso representa no aspecto turístico? O estrangeiro que vem para o Brasil buscando lindas praias, acolhimento, chega lá e descobre que a praia está imprópria para banho. Por que está? Esgoto. Apenas 65,7% do esgoto de Florianópolis é tratado. É só dois terços. É muito pouco.

IMPACTO NA ECONOMIA
Como é que você vai fazer turismo em Governador Celso Ramos, em Bombinhas, em Balneário Camboriú,
se você tem esgoto nas galerias de águas pluviais, nos rios que chegam no mar, poluindo as praias? Do que
adianta você ampliar uma praia para poder aumentar a área de areia para as pessoas se banharem, pegarem
sol, se ali do lado sai um rio carregando esgoto? No fornecimento de água tratada, Florianópolis é 100%. É universalizado, ótimo. Agora, no tratamento do esgoto, o índice é muito baixo.

Estive há poucos dias fazendo palestra motivacional em Joinville. Uma bela cidade, parque industrial
enorme, todo o sistema de atacados, logística, abastecimento, mas você vê os rios que chegam no mar
totalmente contaminados, esgoto a céu aberto. Esse é um cenário que tem que mudar para o bem da
economia e da sociedade catarinense.}

REDUÇÃO DE MAIS DE R$ 8 BILHÕES NOS CUSTOS DA SAÚDE
Se Santa Catarina conseguir atingir a universalização com relação ao saneamento básico, em 35 anos a saúde do estado teria uma redução de custos de R$ 8,8 bilhões. Economizar no Sistema Único de Saúde tem que ser a bandeira do prefeito, do governador, do presidente da República, dos congressistas, do Judiciário, do Ministério Público.

NÃO É DISCURSO DE ESQUERDA OU DE DIREITA
A conscientização tem que vir da sociedade. Espero que nós possamos mudar, porque saneamento básico não é discurso de esquerda ou de direita. Vivemos num país com uma uma fratura exposta na sociedade, com opiniões ideológicas distintas. Nós temos que buscar o equilíbrio, ter o saneamento básico como bandeira de todos, não de partido político.

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