Da coluna de Fábio Gadotti (ND, 22/01/2023)
O historiador Fábio Garcia conversou com a coluna sobre a utilização do prédio da Escola Antonieta de Barros, no Centro Histórico, que foi doado pelo governo do Estado à prefeitura. Ele tem participado das reuniões com o Executivo municipal como um dos representantes do movimento negro de Florianópolis.
Qual a expectativa do movimento negro sobre a reabertura da Escola Antonieta de Barros?
É a melhor possível. O escopo da lei que foi aprovada na Assembleia Legislativa determina a implementação do Museu Antonieta de Barros, além de um instituto de pesquisa dedicado à história e cultura da população negra em Santa Catarina.
Uma vez implementadas, essas duas grandes ações possibilitarão um maior entendimento sobre o passado da população negra em Santa Catarina, especialmente em Florianópolis, bem como a promoção dos artistas contemporâneos
Quais reivindicações estão sendo feitas à Prefeitura de Florianópolis e como foram as primeiras conversas?
Essas conversas já vêm desde 2019. Começou em tratativas do movimento negro junto à Udesc. Depois, quando a universidade devolve o imóvel e o governo do Estado decide ceder à prefeitura, houve a abertura de um canal de diálogo com o Executivo municipal. E fomos muito bem recebidos.
Na semana passada fizemos a primeira visita técnica para conferirmos o estado de conservação e as possibilidades de uso do equipamento. E, agora, o próximo passo será a publicação no “Diário Oficial” da comissão, que será composta pelo poder público e pelo movimento negro, para implementação do projeto.
Como historiador e pesquisador, fale um pouco sobre a importância da reativação da escola que leva o nome de Antonieta de Barros
Antonieta foi um símbolo que marcou o Brasil por ser a primeira mulher e negra eleita deputada estadual. Ela nasceu em 1901, pegou a cidade sendo iluminada a óleo de baleia, ruas de barro esburacadas e foi acompanhando todas as mudanças de Florianópolis. Tanto ela quanto a irmã, Leonor de Barros, foram mulheres agraciadas pelo esforço da mãe, dona Catarina, que era lavadeira na família Ramos e pagou os estudos das duas filhas com muito esforço. Antonieta e Leonor não exerceram trabalhos braçais, foram preparadas a atuarem como educadoras.
Mas Antonieta não estava sozinha, isso é bacana sempre pensar. Ela esteve com um conjunto de escritores, intelectuais e profissionais liberais negros do início do século XX, como Ildefonso Juvenal, Trajano Margarida e João Rosa Jr..
É bacana reforçar que Antonieta não foi exceção, ela foi uma vanguarda sem dúvida nenhuma no Legislativo. Mas no tange à educação e participação na sociedade, Antonieta fez parte de um coletivo. Assim como Cruz e Sousa fez parte de um coletivo negro no tempo em que ele viveu em Florianópois e depois no Rio de Janeiro.
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