O governo do Estado transferiu o prédio da antiga Escola Antonieta de Barros para o município de Florianópolis. Em 14 de dezembro foi aprovada na Alesc a cessão do imóvel, por proposição da deputada Luciane Carminatti (PT). A obrigação é fazer do local um centro de arte e cultura africana e um museu de Antonieta, ampliando-se não apenas a homenagem à primeira parlamentar negra do Brasil, mas também seu legado, com ações de inclusão e memória. Nesse início de ano, Antonieta de Barros foi reconhecida como heroína nacional.
Nesta sexta-feira (13/1) o governador, Jorginho Mello, e o prefeito, Topázio Neto, fizeram um ato de assinatura da lei e transmissão do imóvel, localizado na Rua Vitor Meireles, região histórica do Centro de Florianópolis, e falaram sobre a importância da homenagem e o trabalho a ser desenvolvido no futuro equipamento.
O prédio, construído na década de 1940, está abandonado e chegou a ser invadido por pessoas em situação de rua. Agora o local será reformado para permitir uma nova vivência. O vereador Renato da Farmácia, presente na breve cerimônia, lembrou que o ato de resgate do edifício homenageia também o centenário de atuação de Antonieta de Barros como educadora: “Ela criou o EJA aqui há 100 anos. Sem querer está sendo feita essa homenagem também. Será um ponto de encontro de historiadores”.
Correio SC – O que representa a transferência do imóvel da Escola Antonieta de Barros e quais as intenções de uso?
Prefeito Topázio – Esse é um sonho antigo de Florianópolis, a primeira audiência pública para discutir a transferência do estado para o município, foi feita em 2014. A cidade tem a convicção de que esse espaço transformado num espaço cultural vai trazer nova vida para essa parte da cidade, e mais que isso, vamos resgatar a importância da Antonieta de Barros com a cidade, uma professora, uma mulher negra, a primeira parlamentar negra e mulher de Santa Catarina, e vamos aqui trazer o centro cultural focado na cultura negra, vamos trazer o Museu Franklin Cascaes, vamos trazer oficinas de economia criativa, fazendo desse espaço uma grande área de inclusão. A escola está fechada há muito tempo, está muito degradada, vai passar por uma grande limpeza. Como é um prédio tombado temos que fazer um restauro e eu gostaria muito de até o final do ano entregar esse equipamento como presente de Natal para a cidade, requalificando toda essa área no Centro.
Correio – Falando nessa área, nessa semana a prefeitura iniciou a reforma do piso depois de dois anos de conflitos, e mesmo assim parece que não acabou, o Iphan se manifestou sobre paralisação; o senhor tem uma atualização sobre essa questão?
Topázio – Há mais de dois anos que a gente vem lutando para restaurar as ruas do Centro Leste. E por que restaurar? Porque precisamos da acessibilidade, reformar o paralelepípedo, reformar as calçadas. Desenhamos o projeto, discutimos e está aprovado e o Iphan gerou algumas dúvidas com relação à drenagem, se haveria necessidade de um projeto específico. Então não tem projeto da drenagem atual mas estamos fazendo com todo o cuidado e vamos mexer muito pouco. Fizemos uma reunião com o Iphan hoje pela manhã, a superintendente Regina foi muito sensível e estamos mandando hoje para ela um roteiro das obras. Nós vamos poder retomar as obras da Rua João Pinto, que ficarão prontas antes do carnaval e aí as pessoas poderão ver como vamos fazer nas outras ruas.
Correio – Sobre Antonieta de Barros, até hoje é raro haver uma parlamentar negra em Santa Catarina. O senhor acredita que é papel do Estado mudar um pouco essa relação? Há algum tipo de política possível?
Governador Jorginho Mello – Não tenha dúvida, é um resgate, um reconhecimento, é um imóvel num ponto privilegiado, completamente abandonado e agora vamos fazer, vamos restaurar. Fiz a doação para a prefeitura com lei aprovada na Assembleia, emenda da deputada Luciane Carminatti. Sobre o museu também, não só da cultura negra, mas o museu dessa primeira deputada negra, professora, sofredora, enfrentou um monte de dificuldades. A dona Orilda, dona da Kibelândia, nos contou toda a história, ela estudou aqui, ela teve o privilégio da Antonieta de Barros ser diretora dela, então que Deus dê muita saúde para ela para que possa estar junto para cortar a fita na inauguração. Então é um resgate da cultura, a gente precisa não só falar, mas precisa agir, trazer gente afrodescendente para participar do governo, de funções importantes, isso é um resgate da nossa cultura, as pessoas que sofreram muito com discriminação. Eu não tenho dúvidas que isso é um resgate que vamos começar a fazer.
Correio – Em relação aos bens móveis do governo do estado, o senhor tem alguma relação do que pretende fazer, leiloar ou outras doações, existe algo nesse sentido?
Jorginho – Estamos levantando agora todos os imóveis do governo de Santa Catarina, que passam de cinco mil, vamos fazer uma avaliação rigorosa em cada município para a gente fazer um fundo imobiliário para transformar isso em obras para Santa Catarina, recuperar, algumas doações, vender, fazer leilão para aplicar no estado. Não vamos deixar abandonados pontos importantes que o estado tem. Estão levantando direitinho, revisando as escrituras, toda a documentação legal para que a gente possa fazer cessão.
(Por Lucas Cervenka, CorreioSC, 13/01/2023)
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