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Floripa e o Remo – Parte II

Artigo de Fernando Teixeira
Arquiteto e Urbanismo (UFSC), mestre em Geociências e Doutor em Educação Científica e Tecnológica (UFSC), natural de Florianópolis.

Como vimos na coluna anterior, as modificações ocorridas na dinâmica da região central de Florianópolis, na década de 1970, com a implantação do Aterro da Baía Sul, fizeram com que as atividades relacionadas à prática do remo também sofressem alterações significativas no seu desenvolvimento.

Foi um período complicado, principalmente para duas Associações cujas estruturas físicas encontravam-se muito próximas ao mar, passando a ficar distantes deste, pois a partir daquele momento tinham o aterro como obstáculo a ser transposto até poderem chegar à beira d’água.

Com os novos galpões disponibilizados pelo poder público, no então criado Parque Náutico Walter Lang, as três agremiações existentes em Florianópolis acabaram ganhando vida nova, prosseguindo sua vitoriosa caminhada no esporte catarinense e brasileiro. O mais antigo deles é o Clube Náutico Riachuelo, fundado em 11 de junho de 1915.

Sua denominação é uma homenagem à Batalha do Riachuelo, uma das mais importantes ocorridas na Guerra do Paraguai. Com as cores azul e branca, foi o primeiro campeão estadual de remo, e sua antiga sede ficava localizada no bairro Rita Maria, muito próximo da atual. Em 31 de julho do mesmo ano, surgia o Clube Náutico Francisco Martinelli, ostentando as cores vermelha e azul.

Seu nome é uma homenagem a um oficial da Marinha, nascido em Nova Trento, que em 1913 veio a falecer num acidente ocorrido no litoral do Rio de Janeiro, envolvendo um navio e o rebocador Guarany, onde este atuava.

Não obstante também possuir uma história centenária, o Clube Náutico Aldo Luz é o mais novo entre eles. Fundado em 27 de julho de 1918, tendo as cores vermelha e branca como sua principal identificação, chamava-se inicialmente Clube de Regatas Florianópolis. A atual denominação é uma homenagem a seu primeiro presidente e também remador, Aldo Luz, filho do Governador à época, Hercílio Pedro da Luz, e que faleceu ainda jovem.

Histórias interessantes relacionadas a essas três agremiações não faltam, fazendo-nos perceber como elas ajudaram e ainda ajudam a construir a história deste lugar, além de enaltecer Florianópolis no cenário esportivo mundo afora. Um exemplo clássico da força do remo florianopolitano são as participações de atletas locais em competições olímpicas.

Nomes como Fabiana Beltrame e Anderson Nocetti fazem parte de um rol de atletas que elevam sobremaneira o esporte catarinense, sendo destaques em nível olímpico. Nocetti, que começou no Aldo Luz, a exemplo de Beltrame, foi o primeiro remador a participar de quatro Olimpíadas consecutivas.

Nesse mesmo Clube, podemos encontrar uma figura simpática, dinâmica e repleta de histórias. Trata-se de Odilon Maia Martins, o mais antigo remador em atividade no mundo. Há dois meses, esse atleta de 94 anos participou do Campeonato Mundial Master, na França. Como a categoria em que disputa vai até 80 anos de idade, Odilon concorre com atletas bem mais jovens que ele, superando-os sem dificuldade.

Ele, juntamente com seu parceiro de Clube, Silveira, já falecido, foram campões mundiais de remo Master, vinte e oito vezes. Nessa última competição na França, ele nos conta que ao ser citado pela locutora da prova, foi ovacionado pela multidão que acompanhava a competição. Para Odilon, o remo de Florianópolis só não parou no momento da implantação do Aterro da Baía Sul, porque faz parte da alma do florianopolitano.

Outro aspecto interessante e que ajuda a entender a história do esporte na capital catarinense é a forte ligação existente entre o remo e os clubes de futebol, Avaí e Figueirense. Segundo Ricardo Mesquita, presidente do Aldo Luz, o time do Estreito surgiu no antigo bairro da Figueira, altos da Felipe Schmidt, onde atletas dessa agremiação, após praticarem seus treinamentos em nossas baías, paravam para jogar a famosa “pelada”. Desses encontros, surgiu a necessidade de formarem um time de futebol.

Resolveram escolher um nome para este e o mais apropriado que encontraram foi Figueirense, uma homenagem ao local. Segundo o dirigente, Aldo Luz e Figueirense chegaram a ter, num determinado momento da história, uma diretoria que comandava, em conjunto, as duas agremiações.

Já no Avaí a identificação se estabelece de forma mais intensa com o Riachuelo. Ambos possuem nomes relacionados a batalhas da Guerra do Paraguai, e conta a história que, para jogar sua primeira partida oficial, o Avaí solicitou por empréstimo os uniformes utilizados pelos remadores do clube. Como estes ostentavam as cores azul e branca, elas acabaram também sendo adotadas pelo centenário time do Sul da Ilha.

Hoje, Avaí e Riachuelo continuam a manter sua proximidade e sobretudo parcerias em projetos esportivos. Conhecer um pouquinho a história desses três ícones do esporte catarinense é também fazer uma viagem ao passado de Florianópolis. Os galpões estão abertos à visitação, com gente alegre e disposta a falar das conquistas vividas em cada uma dessas agremiações.

Recentemente o Clube Náutico Aldo Luz, a segunda casa do Senhor Odilon, inaugurou um belo museu, contando um pouco da história do Clube e, por que não dizer, do remo catarinense. Um trabalho primoroso, organizado por André Dutra, um remador e ex-presidente do clube. O espaço está aberto para todos aqueles que queiram conhecer um pouco mais essa linda relação de amor entre o remo e a cidade de Florianópolis. Que tal uma visita ao Parque Náutico Walter Lang?

(Imagem da Ilha, 11/11/2022)

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