Artigo de Fernando Teixeira
Arquiteto e Urbanismo (UFSC), mestre em Geociências e Doutor em Educação Científica e Tecnológica (UFSC), natural de Florianópolis.
Quem visita a recém-recuperada Ponte Hercílio Luz, se depara, em sua cabeceira insular, com uma imensa área verde destoando da massa de edifícios que circundam aquela região da cidade. O que muitos não imaginam, no entanto, é que até pouco tempo atrás, esse importante espaço de convivência e lazer encontrava-se praticamente abandonado e prestes a ser ocupado por edificações públicas e privadas. Nem mesmo algumas autoridades viam com bons olhos a transformação do estratégico terreno em área para uso comunitário, defendendo que este seria o local adequado para abrigar a sede do poder público municipal.
Não fosse a imensa luta travada por moradores da região, a área teria sucumbido à voracidade da especulação imobiliária e Florianópolis hoje não conheceria o emblemático Parque da Luz. A ideia de sua criação, que partiu, principalmente de Etiene Luiz Silva, e toda a movimentação da comunidade, procurando garantir que esse desejo se tornasse algo concreto, coincide com a semente do tombamento da Ponte Hercílio Luz e de sua reabertura para pedestres e ciclistas em meados da década de 1980. Alguns anos depois, em 1997, foi criada a Associação dos Amigos do Parque da Luz. A mesma teve, desde o início, o propósito de salvaguardar e preservar essa área de grande valor histórico e paisagístico e transformá-la num local em que as pessoas pudessem usufruir de atividades ao ar livre, cercados por muito verde e por um cenário de tirar o fôlego, como é este onde o parque encontra-se inserido.
Dois anos após a criação da Associação, em 1999, a área de 3,7 hectares, através da lei 051/99, passou a fazer parte do Plano Diretor Municipal, sendo definida como uma AVL (Área Verde de Lazer), o que garante que apenas algumas atividades relacionadas ao lazer comunitário possam ser desenvolvidas em seu interior. Em 2007, também através de lei específica, a área finalmente passou a ser reconhecida oficialmente pela municipalidade, como “Parque da Luz”.
Para consolidar essa ocupação e fazer com que o parque pudesse ser compreendido e assimilado pela cultura urbana, foi necessário que se estabelecesse um calendário permanente para sua utilização, que incluíam atividades esportivas, encontros artísticos, como teatro, música e dança , moções científicas e políticas, além de um árduo, mas prazeroso trabalho de plantio de árvores de diferentes espécies, por pessoas da comunidade, no interior daquele descampado que nada lembra o que atualmente presenciamos ao visitá-lo.
Na verdade, esse tipo de atividade tem sido a tônica que faz com que o parque esteja sempre repleto de gente de todas as idades, como a que aconteceu nesse último fim de semana, quando artistas locais transformaram muros em belas e coloridas telas gigantes, enquanto outros expuseram seus criativos trabalhos numa movimentada feira de arte.
Cada uma dessas ações faz crescer ainda mais a vontade de mantê-lo e preservá-lo, trazendo benefícios para as atuais e futuras gerações. O local que num passado distante já abrigou o cemitério de Florianópolis é hoje um lugar carregado de muita vida e repleto de intensa luz! Uma das áreas verdes mais procuradas e frequentadas da cidade.
Não obstante tudo isso, é importante destacar que, nesse momento em que acontecem discussões em torno da revisão do Plano Diretor, e que nele estão contidas possíveis alterações de uso nos diferentes zoneamentos, faz-se necessário que a comunidade permaneça atenta, evitando que surpresas desagradáveis venham a ocorrer, principalmente no que diz respeito à possibilidade de que às AVLs sejam incorporadas às atividades que hoje não condizem com seu objetivo primordial. Portanto, zelar pela sua manutenção deve ser um compromisso de todos, pelo bem de nossa cidade.
(Portal Imagem da Ilha, 03/08/2022)
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