Ponte Hercílio Luz, o sortilégio da nossa alma

Artigo de Lélia Pereira Nunes
Escritora e membro da ACL (Academia Catarinense de Letras)

Na mesa de trabalho reli o elegante convite para o aniversário de uma velha amiga. Sorri deliciada. Imperdível. Afinal, são 96 anos a pulsar livre e bela. Ponte Hercílio, parabéns! Pelo teu balançar passaram muitas gerações de ilhéus que miraram fascinados os teus braços alongados e amorosos a unirem a Ilha ao continente e, sem exagero, ao mundo e em mão dupla. De longe espio tuas linhas elegantes perfeitas, tal qual uma bailarina a dançar o Lago dos Cisnes de Tchaikovsky. Não podia perder a festa de aniversário com direito ao concerto da Camerata Florianópolis, sob a batuta do maestro J.Della Rocca, e o cavaquinho chorado do talentoso Wagner Segura. Até o sol de maio e o azul do céu e do mar iluminaram a aniversariante e Floripa, pensei enquanto admirava este jeito tão teu de nos abraçar por inteiro. És mesmo a nossa paixão! És pontemulher apaixonada que namora o mar e se deixa seduzir brejeira pelo vento sul…

Cantada em prosa e verso, escrita na arte pictórica, no desenho, na cromacia das aquarelas em imagens oníricas, na arte fotográfica – o poema em preto e branco, o ensaio em sépia, a crônica de muitas cores nas fotos do Joel Pacheco e da verve literária do Sérgio da Costa Ramos. Ou, ainda, os registros instantâneos de hoje, em milhares de selfie. Ficas aí a entisicar o nosso imaginário, a 28 metros do nível do mar, desde 13 de maio de 1926. Um novo desenho de cidade nasceu naquele dia de forte chuva e, agora, nesta manhã de tanto sol, voamos nas asas aladas do futuro. Se tu és fruto da ousadia de um governador, marco de engenharia da mais alta complexidade para a época. Nós, os 509 mil habitantes, os teus filhos, vamos ousar sonhar, lutar contra os muitos NÃOS e construir a Floripa moderna, altaneira, sustentável que ofereça qualidade de vida aos seus moradores. Afinal, estás na capital de Santa Catarina, um estado de excelência. És símbolo maior de Florianópolis, dos catarinenses orgulhosos e, para sempre, o sortilégio da nossa alma.

Voltei da festa saboreando na memória dos afetos…o som dos chorinhos na mestria de Wagner Segura, os acordes da Camerata e cantarolando baixinho o hino criado por Luiz Henrique Rosa: “ Ponte Hercílio Luz/Assim a olhos nus/O sol em lusco fusco/ É Linda…”

(ND, 14/05/2022)