Da Coluna de Ânderson Silva (NSC, 10/02/2022)
As promessas eram de que em poucos meses o sistema de despoluição, inaugurado no mês de março de 2019 na Beira-Mar Norte, em Florianópolis, surtiria efeito e as pessoas poderiam tomar banho no local. Na prática, a água estaria balneável. Três anos e R$ 18 milhões de investimentos depois, os testes feitos no local pelo Instituto do Meio Ambiente (IMA) mostram que o cenário ainda não é este. Nos cinco resultados divulgados em 2022, em somente um dos três pontos monitorados na Beira-Mar Norte houve uma semana em que o local estava próprio para banho. Mas a realidade já mudou, e agora todos estão impróprios, o que deixa as promessas políticas de três anos atrás apenas na memória.
O sistema foi implantado pela Casan, responsável pelo sistema de água e esgoto em Florianópolis, através de um contrato com a prefeitura. A companhia insiste que, desde a inauguração, o projeto vem se comportando dentro do que se esperava tecnicamente e que o banho na Beira-Mar Norte depende de outros fatores. Os prazos dados à época da inauguração são tratados pela companhia como “promessas de políticos”.
Pelo projeto de balneabilidade, foi instalada uma Unidade de Recuperação Ambiental (URA).Toda a água da chuva com esgoto clandestino que ia direto para o mar é desviada para a URA. Dentro da unidade, o material poluente é removido de duas formas: o primeiro é por flotação por ar dissolvido. O processo remove o material sólido, deixando apenas na forma líquida, mais clara e limpa. A segunda forma é a desinfecção por ultravioleta. Os raios UV eliminam as bactérias da água. Após este processo a água, já limpa, é jogada ao mar.
Na região entre o GBS e a Ponta do Coral existem 22 galerias que drenam águas pluviais diretamente para a baía na Beira-Mar. Essas galerias levam contribuições irregulares das edificações e das próprias redes para o mar.
Segundo a presidente da Casan, Roberta Maas dos Anjos, atualmente o sistema da URA coleta 1000 kg de lixo por dia. Tudo isso desce pelos canais de drenagem, onde teoricamente deve sair apenas água. Roberta diz que o sistema de captação consegue atender 150 litros de materiais por segundo. Caso a quantidade ultrapasse este índice, há o extravasamento e o material vai bruto para o mar. Isto ocorre, segundo ela, nos dias de chuva.
– Precisamos intensificar a fiscalização para que não haja interferência da rede de esgoto na rede de drenagem – afirma a presidente da Casan.
Na prática, o que ocorre são ligações irregulares. As pessoas deixam de fazer as instalações corretas das residências na rede de esgoto e o material vai para a rede de drenagem, onde deveria passar apenas água da chuva. “A Casan faz a parte dela, mas há muita interferência”, acusa Roberta. Por isso ela fala da importância de que o projeto “Se Liga na Rede”, feito pela prefeitura, atue na fiscalização das ligações irregulares.
Cobrança da população
Apesar de separar as promessas políticas da parte técnica, a presidente da Casan admite que a cobrança da população pelos resultados diante da necessidade de balneabilidade na Beira-Mar Norte muda o planejamento: “Com certeza a Casan vem estudando formas de atender da melhor forma possível”.
Roberta diz que os resultados dos últimos anos estão ocorrendo dentro do que havia sido previsto pelos técnicos: “Vimos recuperação da área, pessoas curtindo a região”. Segundo ela, o cheiro forte também diminuiu no local.
Previsão de balneabilidade
Diferentemente do discurso da gestão anterior da Casan e até mesmo da prefeitura da Capital à época da inauguração do sistema da URA, a atual presidente da companhia não estipula prazos para que a balneabilidade seja uma constante no local:
– Não posso estipular um tempo porque vou depender dos órgãos fiscalizadores. É a longo prazo, o resultado vai vindo com o tempo. É uma questão de meio ambiente. Estamos evitando que esse esgoto vá direto para o mar como antes ocorria.
A defesa de Roberta é que a URA deveria ser temporária até que houvesse a ligação correta de esgoto nas residências sem despejo irregular de água na rede de drenagem. Há, inclusive, casos em que imóveis despejam materiais irregulares direto no mar, de acordo com a Casan.
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