Os moradores de Coqueiros, no Continente, estão indignados com um problema que classificam como crime ambiental e desrespeito ao contribuinte: esgoto a céu aberto, extravasando de uma galeria que desemboca na Praia do Meio.
Segundo os relatos, a situação vem se repetindo nos últimos anos. A Casan (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento) acredita que o problema pode estar relacionado a ligações clandestinas na rede de esgoto.
Antes de assumir o mandato como vereador na Capital, Marquinhos (PSC), que mora no bairro desde a década de 1970, presidiu a Ampims (Associação dos Moradores das Praias do Meio, Itaguaçu e Saudade). Ele critica a demora da Casan em buscar solução para a situação e explica que a galeria é da rua General Estilac Leal.
“É uma rede de esgoto antiga, obsoleta. Ela extravasa, porque ali tem muitos prédios, e vai para a rede pluvial. Da pluvial, desemboca na Praia do Meio. Nos últimos dois anos, acompanhei isso de perto umas quatro ou cinco vezes”, relatou.
Marquinhos denunciou a situação a diversos órgãos e já fez contato com o IMA-SC (Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina), mas ainda não obteve retorno, e com a Floram (Fundação Municipal do Meio Ambiente), que promete mandar fiscalização ao local. Ele também procurou o secretário de Meio Ambiente, Fábio Braga; e o Ministério Público Estadual e o Federal.
“Vai acontecer sempre, se não houver o investimento numa nova tubulação, mais robusta, maior, que atenda todos os condomínios ali. É rua pequena, mas tem muitos condomínios, é muita gente. Deixaram construir, sem investir na infraestrutura”, criticou.
O aposentado José Rui Cabral Soares, nativo da Ilha, 68 anos, disse que a calçada já afundou duas vezes acima da galeria cheia de esgoto e está afundando novamente. “Hoje, o cheiro estava insuportável. Eu caminho ali de manhã e estava terrível”, disse.
Elaine Otto, 75 anos, é ativista das causas de preservação ambiental e moradora do bairro há 30 anos. Ela reforça que o problema é recorrente. “Nem chego perto para ver, porque tenho vontade de vomitar. Aquilo deve estar poluindo nossa água. A primeira providência é interditar aquela praia. Tem gente fazendo canoagem, pescando, indo na água por causa desse calor. É grave. É a consequência do descaso”, relatou a moradora.
O engenheiro civil Roberto Boell Vaz, 57 anos, mora em Coqueiros há mais de 40. No fim da tarde de ontem, foi ao local rever uma situação que está cansado de presenciar. “O povo chega ali na praia, vê aquela aquela lagoinha e pensa que é pouca coisa. Da lagoinha para dentro da galeria, até aqui em frente a rua, se estiver no mesmo nível, tem mais de 50 metros cúbicos de esgoto acumulado”, lamentou.
O morador teme que a chuva típica do fim da tarde de Florianópolis leve o esgoto para o mar. “É uma vergonha. Se você pegar sua conta de água, 100% da conta você paga o esgoto, se paga R$ 50 de água, paga R$ 50 de esgoto. Depois, embaixo da conta, está lá: taxa de manutenção da rede de água e taxa de manutenção da rede de esgoto. Uma manutenção que não existe, é porca, muito mal-feita”, reclamou.
“Precisamos que mandem um caminhão limpa fossa para esgotar aquela galeria e evitar que o esgoto vá para o mar. Esse negócio está três dias e não mandaram ninguém ainda”, completou.
A Prefeitura de Florianópolis informou que a Superintendência de Saneamento da Secretaria Municipal do Meio Ambiente solicitou providências imediatas à Casan. Também disse que a equipe do Grupo Sanear foi acionada para verificar a origem do problema.
De acordo com a administração do município, o programa “Se Liga na Rede” inspeciona o bairro há um ano e meio.
Casan apura irregularidades
Após as denúncias dos moradores, a Casan promete verificar possíveis ligações clandestinas na rede de drenagem de Coqueiros. De acordo com a estatal, o problema pode ter origem no descarte inadequado de esgoto no escoamento de água da chuva e não em redes de saneamento básico ou fossas. O órgão também acredita que as conexões ilegais possam ser de residências da região, porém, ainda não se sabe a razão do problema.
Diante do aumento no consumo de água e produção de esgoto, a Casan emitiu comunicado com dicas sobre o uso adequado dos sistemas públicos de esgotamento sanitário. O objetivo é evitar problemas como entupimentos e extravasamentos nas redes coletoras, que exigem ações emergenciais dos setores operacionais de esgoto.
Segundo o órgão, esse trabalho resulta na retirada de grande quantidade de gordura, plásticos, panos, pedaços de tijolos, fraldas, cabelos e até camisinhas.
“O descarte de lixo traz problemas sérios para toda cidade, pois a rede não funciona de forma adequada e o esgoto volta para as casas e ruas”, afirmou o chefe da Agência Florianópolis, Francisco Pimentel. Outro problema identificado pela Casan é a ligação de água da chuva nos sistemas de esgoto, o que também compromete seu funcionamento.
Ocorrência semelhante nos Ingleses
Na terça-feira, a prefeitura autuou a Casan, após identificar grande vazamento de esgoto na rua Vanio Colaço, nos Ingleses, Norte da Ilha. A ação ocorreu após denúncia de moradores e, durante a fiscalização, foi encontrado esgoto desembocando no rio que chega na praia.
Além da autuação por problemas gerados ao meio ambiente e à saúde pública, haverá notificação contratual, por má prestação dos serviços. A Floram ainda está dimensionando o prejuízo ambiental.
“Ao chegar no local, identificamos o lançamento de esgoto bruto em via pública. É um crime contra o meio ambiente e traz inúmeros problemas à saúde pública. É importante que a população denuncie para que possamos acabar com esse tipo de situação”, declarou o secretário municipal do Meio Ambiente, Fábio Braga.
(ND, 20/01/2022)
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