Da Coluna de Estela Benetti (NSC, 08/11/2021)
As famílias de baixa e média renda de Santa Catarina foram as mais afetadas economicamente pela pandemia. Análise exclusiva do Núcleo de Estudos de Economia Catarinense (Necat), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mostra uma alta de 4,7% na desigualdade da renda domiciliar per capita no período, segundo o índice de Gini estadual baseado na mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do segundo trimestre deste ano. A avaliação comparou o segundo trimestre de 2019, quando o índice estava em 0,430, com o segundo trimestre de 2021, quando subiu para 0,450.
No caso da renda individual, foi comparado o índice de 0,399 do segundo trimestre de 2019 com o de 0,413 do mesmo período deste ano, confirmando alta de 2,74% na desigualdade. O estudo foi realizado pelo professor de Economia da UFSC, Lauro Mattei, e pelo economista graduado pela instituição e pesquisador do Necat, Vicente Loeblein Heinen. O índice de Gini é um indicador de desigualdade que varia de zero a 1. O zero representa perfeita igualdade distributiva e o 1 a máxima desigualdade.
– Os impactos da pandemia da Covid-19 em Santa Catarina foram muito heterogêneos entre as classes de renda. Inicialmente, os trabalhadores da base da pirâmide de rendimentos foram os mais prejudicados, obrigando-os a retornar rapidamente ao mercado de trabalho. Entre as camadas médias, essa retomada tem sido mais lenta, processo que se reflete na maior dificuldade de retornar ao patamar de rendimentos prévio à pandemia. Já as famílias melhor posicionadas monetariamente foram aquelas menos prejudicadas pela crise, pelo menos quando se considera os segmentos que permaneceram no mercado de trabalho – afirmaram os economistas.
A pandemia gerou uma retração na renda média do brasileiro maior que a registrada em Santa Catarina, observam os economistas ao citar estudo de Marcelo Neri, da FGV, sobre o quadro nacional. Segundo Neri, a renda média individual do brasileiro está 9,4% menor frente ao final de 2019. Sobre a desigualdade entre a base e o topo da pirâmide de renda, o economista da FGV apurou que a metade mais pobre teve uma perda de 21,5% enquanto os 10% mais ricos tiveram queda de apenas 7,16%, isto é, três vezes menor. Essa retração na renda resultou da alta do desemprego, redução de rendimento por hora e redução da jornada de trabalho. A retração também aparece no índice de Gini nacional, que passou de 0,628 no quarto trimestre de 2019 para 0,646 no segundo trimestre de 2021.
No estudo, Mattei e Heinen analisaram também a massa salarial e a renda média domiciliar em SC. No segundo trimestre deste ano, a massa salarial de SC chegou a R$ 9,84 bilhões, segundo a pesquisa Pnad do IBGE, o que indica estabilidade frente ao mesmo período de 2020. O salário médio real no segundo trimestre de 2021 recuou para R$ 2.841,2, o que confirma uma queda média de 2% frente ao do trimestre anterior, de R$ 2.882,34, em função da inflação, que teve alta acumulada de 2,2% no último trimestre.
Ainda segundo o estudo, o rendimento per capita domiciliar no Estado, que considera também inativos e desempregados, ficou em R$ 1.345 no segundo trimestre deste ano, com alta de 1,7% frente ao mesmo período de 2020. Apesar dessa melhora, a renda ficou 0,8% abaixo do valor real do mesmo período de 2020 (R$ 1.365,50), o que indica que as perdas da pandemia ainda não foram superadas.
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