Pesquisadores cinco laboratórios da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) assinam uma nota técnica alertando para a presença de metais em peixes capturados na Lagoa da Conceição, em Florianópolis. Alguns desses metais apresentam concentrações consideradas acima de valores aceitáveis e podem trazer risco para a saúde humana. Ao final da nota, os especialistas recomendam que seja iniciado um monitoramento sistematizado e permanente do pescado da Lagoa e das possíveis fontes de contaminação. A análise teve colaboração de laboratórios da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) e da Universidade Federal do Rio Grande (Furg).
O estudo foi liderado pelo programa de extensão Ecoando Sustentabilidade, em parceria com os moradores da Costa da Lagoa e o Laboratório de Determinações II da Furg, e analisa a concentração de 11 metais/metalóides em carapevas e linguados da Lagoa da Conceição. Os níveis de alguns elementos ultrapassa o limite máximo permitido na legislação. A nota estima que o risco de doenças, inclusive câncer, é elevado para as concentrações registradas de zinco, arsênio e chumbo.
O documento destaca que a contaminação por metais já foi detectada anteriormente em outros organismos da Lagoa. Um estudo publicado em 2018 mostra que, em 2002, as concentrações de chumbo e de cromo no berbigão, em todas as regiões da Lagoa, apresentavam valores até seis vezes acima do permitido na legislação americana.
As análises laboratoriais foram realizadas em seis exemplares de carapeva e nove exemplares de linguado capturados por pescadores da Costa da Lagoa entre os meses de março e maio de 2021. As amostras de músculo, brânquias, fígado e gônadas dos animais foram congeladas e transportadas em gelo seco até o Laboratório de Determinações II do Instituto de Ciências Biológicas da Furg.
Limites
Os testes laboratoriais indicaram desconformidades: “A maior parte das amostras de carapeva (fígado) e uma de linguado (músculo) apresentaram valores de cádmio acima dos limites permitidos. A maior parte das amostras de chumbo e uma boa parte das de zinco de todos os tipos de tecido apresentaram valores acima dos limites permitidos. Todas as amostras de cromo de todos os tecidos das duas espécies apresentaram concentrações acima dos valores permitidos”.
Os pesquisadores avaliaram os riscos à saúde decorrentes da contaminação dos pescados por metais pesados e concluíram que os índices de risco geral à saúde e o de risco de desenvolver câncer registraram valores acima do aceitável. “Embora o levantamento dos metais em peixes não tenha sido sistematizado, os dados indicam um padrão consistente de contaminação por alguns metais e um elevado risco à saúde dos consumidores desse pescado”, destaca a nota técnica.
“Esses resultados evidenciam que é urgente a realização de um diagnóstico amplo da situação do pescado da Lagoa da Conceição, das possíveis fontes de contaminação e da saúde de seus moradores, a fim de proporcionar informação qualificada para que tomadores de decisão e a comunidade possam discutir as ações a serem tomadas nas áreas da saúde, segurança alimentar, hídrica e ambiental”, afirma o professor Paulo R. Pagliosa, do programa de extensão Ecoando Sustentabilidade.
Por isso, os especialistas recomendam a adoção de um monitoramento sistematizado e permanente do pescado da Lagoa da Conceição e das possíveis fontes de contaminação. Como contribuição, a nota técnica traz um anexo com o detalhamento de como poderia ser esse monitoramento. O documento é assinado pelo Programa Ecoando Sustentabilidade (PES); Núcleo de Estudos do Mar (Nemar); Laboratório de Ficologia (Lafic); Laboratório de Biodiversidade Costeira (Labcost) e Laboratório de Biogeoquímica Marinha (Loqui), todos da UFSC, além do Laboratório de Ecologia da Udesc e do Laboratório de Determinações II da Furg.
(UFSC, 03/09/2021)
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