As obras de cabeamento subaquático de energia elétrica que estão acontecendo na Grande Florianópolis estão trazendo dores de cabeça para os moradores da região. Pescadores da cidade de Biguaçu estão perdendo itens essenciais para garantir a comida na mesa por conta do empreendimento.
Confira a reportagem do Balanço Geral Florianópolis sobre a situação.
A situação da rede de Reginaldo Altino Martins é uma amostra dos problemas enfrentados pelos pescadores: malha rasgada, camarão fugindo pelo buraco, e prejuízo no bolso. “Uma rede dessa hoje, no mínimo, é R$ 4 mil. Ela vai estourando na emenda. Tá a risco que nós perdemos uma caça de rede inteira, como eu já perdi”, contou Martins.
Outro caso é o de Valmir Manoel Arceno, que tira o sustento da família do que vem do mar. Ele já está há mais de um mês com dificuldades no faturamento. Segundo o pescador, “a dificuldade é muito grande. Seria a única rede que está permitido na baía trabalhar. Agora, nós estamos trabalhando, estamos levando danos direto, as redes estão se rasgando e ninguém toma providência. Aí, o pescador fica nervoso, fica agitado, porque ele tem as suas contas para pagar”.
O prejuízo também afetou Gilberto Machado, que vive da pesca há décadas na região da Baía Norte. “Tá ficando uns buracos ali. As redes estão caindo ali e estão rasgando, danificando nossas redes”, disse ele.
A colônia de pescadores de Biguaçu tem 18 ranchos de pesca. São cerca de 200 profissionais que se sentem afetados pelas obras. Os trabalhos se estendem por 13 km desde a região de Biguaçu até o litoral da Ilha de Santa Catarina, no bairro Ratones.
A interligação elétrica acontece debaixo d’água. Os cabos vão aumentar o fornecimento de energia na Grande Florianópolis. A região vai passar a contar com três sistemas de transmissão de energia, para reduzir riscos de interrupção no fornecimento de luz.
A reportagem do Balanço Geral Florianópolis procurou a empresa responsável pelas obras, a ISA CTEEP (Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista), que se manifestou por nota.
No documento, a companhia informou que tem cumprido as determinações dos órgãos ambientais federais, estaduais e municipais, para garantir a segurança e a continuidade da pesca na Baía Norte. A empresa reforçou que vem realizando reembolso aos pescadores por danos causados pelo empreendimento e reiterou que tem equipes no local para dar todo o suporte necessário.
Porém, segundo os pescadores, não é bem isso que tem acontecido. Os danos e a falta de assistência revoltam as famílias afetadas. “As coisas estão muito demoradas. O pescador já está com medo de eles passarem o último cabo, irem embora e nós ficarmos com o prejuízo na mão”, falou Machado.
“A fiscalização cuida da baía, prende o pescador, quer prender todo mundo, quer acabar com tudo. Por que que não toma essa providência? Por que a empresa é grande e nós somos pequenos? O barco do pescador tá lá apodrecendo, não tem ninguém que defende ele. Isso revolta a gente. Revolta porque tu sai para trabalhar e acontece isso aí”, desabafou Martins.
A licença de instalação para a linha de transmissão entre Biguaçu e Ratones foi emitida pelo IMA (Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina). Foi a segunda das três autorizações necessárias para o funcionamento das linhas. Enquanto isso, os pescadores fazem o apelo.
“Nós queremos uma solução para esse problema. Ou vai ficar para sempre esse impasse. A rede vai ficar trancada toda vida? É isso que nós temos que saber”, explicou Machado.
“Não tem ninguém que olhe pro pescador. Não tem. E você trabalha, você luta e cada vez pior. Tinha que ter um órgão público que olhasse pro pescador. Isso aí era obrigado a existir, mas infelizmente isso não tá acontecendo”, disse o pescador Ilson Campos.
(Balanço Geral, 19/07/2021)
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