A situação crítica se concentra na servidão Fermino Manoel Zeferino, no canto Sul dos Ingleses. As dunas estão invadindo as casas e até mesmo o cemitério municipal. Com medo, alguns moradores deixaram o local.
Maria Carolina Villaça Gomes, professora do curso de Geografia da Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina), pesquisa as regiões de dunas, incluindo as que se encontram entre os bairros Santinho e Ingleses.
Segundo ela, as causas da movimentação das dunas são, em grande partem, naturais. No entanto, ela não descarta a ação humana.
“Quando observamos as imagens de satélite fica bastante clara a existência de muitos caminhos, principalmente, percorridos pelos turistas. Isso torna o material exposto, novamente, ao degradar a vegetação. Assim, essas areias ficam sujeitas a uma nova movimentação”, explica.
Estudos mostram, ainda, que a ação do vento faz com que as dunas se desloquem de 20 a 40 metros todos os anos.
Para Maria Carolina, não há culpados quando se trata da invasão das dunas. Isso porque as moradias que ocupam a servidão Fermino Manoel Zeferino são antigas, algumas com mais de 70 anos.
Na época em que as casas foram construídas, as dunas estavam bem distantes, assim como o mar.
“A área da retaguarda do final do campo de dunas é protegida em área de preservação. Só que, por um longo período, as áreas foram vistas como estáticas, ou seja, o planejamento não concebia essa capacidade que as dunas têm de se deslocar. Não havia monitoramento”, diz a professora.
Ernesto São Thiago, advogado especialista em questões relacionadas à orla, endossa a opinião da professora universitária. Para ele, houve falta de planejamento urbano no momento em que as dunas começaram a se aproximar das casas.
“Quando os [moradores] mais antigos se instalaram na região, o mar e as duas estavam bastante distantes. Houve o avanço do mar com o tempo. Então, os moradores na época, décadas atrás, entenderam que era seguro se instalar na região”, aponta.
O advogado afirma que é preciso analisar caso a caso. Isso porque há situações de moradias que são antigas e já consolidadas.
“As pessoas estavam de boa fé quando construíras as casas. O poder público também não tinha, naquele período, conhecimentos para entender que as construções naquele local poderiam, no futuro, se tornar um risco.”, avalia o advogado.
Agora, os especialistas apontam que as soluções para a questão do avanço das dunas pode ser custosa e difícil de serem executadas. A professora da Udesc diz que, em alguns áreas, é possível usar água para evitar que as areais sejam facilmente removidas pelos ventos.
Ela menciona, também, a construção de paliçadas, que são obras, geralmente, utilizadas para a contenção de encostas.
As dunas são áreas de preservação permanente. Contudo, nas proximidades, há também área turística residencial e área residencial mista.
De acordo com a Floram (Fundação Municipal do Meio Ambiente), as casas que se encontram na área em verde da imagem abaixo são consideradas irregulares. Os proprietários já foram autuados e alguns processos tramitam na Justiça há mais de dez anos.
Imagem do zoneamento da região de dunas nos Ingleses – Foto: Floram/Divulgação/ND
No entanto, existem residências regulares, construídas há dezenas de anos. Enquanto isso, os moradores da região aguardam soluções que impeçam que suas casas sejam “engolidas” pelas dunas.
A prefeitura de Florianópolis, por meio da Defesa Civil Municipal e da Floram, informou à reportagem que está acompanhando e gerenciando a situação no bairro Ingleses.
“Os órgãos estão alinhando as medidas de intervenção que serão realizadas prezando a segurança dos moradores e que tenha menor impacto ambiental. A questão será levada ao Ministério Público para garantir que as medidas tomadas sejam responsáveis quanto as questões ambientais”, informou a prefeitura.
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