Um estudo publicado recentemente na revista Nature Communications, que contou com a base de dados do Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina, mostrou que os impactos humanos sobre os remanescentes da Mata Atlântica já provocaram perdas de até 42% de sua biodiversidade e estoques de carbono florestal, que são essenciais para a conservação da vida e regulação do clima do nosso planeta. “Todos sabemos que a Mata Atlântica perdeu mais de 80% de suas florestas. Mas, o que muitos não sabem é que a biodiversidade e estoques de carbono de seus 20% remanescentes foram erodidos ao longo dos anos”, explica Renato Lima, líder do estudo. “Se considerarmos a Mata Atlântica como um todo, as perdas dos estoques de carbono equivalem ao desmatamento de até 70 mil km2 de florestas (quase 10 milhões de campos de futebol) ou 2,6 bilhões de dólares em créditos de carbono”, acrescenta Lima.
O cenário é preocupante, mas o trabalho também traz uma mensagem otimista. O combate à degradação florestal no que sobrou da Mata Atlântica pode atrair bilhões de dólares em investimentos relacionados a créditos de carbono. “Florestas degradadas podem ser vistas não como um ônus, mas como uma oportunidade para atrair investimentos, gerar empregos e, ao mesmo tempo, conservar o que ainda resta da Mata Atlântica”, diz Paulo Inácio Prado, professor da USP e autor do estudo. Essa oportunidade deve interessar especialmente investidores, empresas e outros atores atentos aos fatores ESG (Governança ambiental, social e corporativa).
Jérôme Chave (CNRS/França), coautor do trabalho, relembra que estudos avaliando impactos humanos tanto na biomassa quanto da biodiversidade florestal são raros. “A degradação da biodiversidade é difícil de ser mensurada usando apenas sensores remotos, como imagens de satélite. Portanto, ainda precisamos de inventários em campo para obter valores confiáveis de perda da biodiversidade”. O estudo também ressaltou a importância de unidades de conservação para reduzir perdas de biodiversidade e carbono. “Unidades de conservação de proteção integral foram as áreas que apresentaram as menores perdas de biodiversidade e carbono”, diz Hans ter Steege (Naturalis Biodiversity Center/Holanda). “Mas nós encontramos perdas importantes mesmo dentro destas áreas protegidas, reforçando a importância não apenas de criar novas unidades de conservação na Mata Atlântica, mas também de garantir a fiscalização efetiva das unidades já existentes”, conclui ter Steege.
Uma das saídas para buscar reverter as perdas de biodiversidade e carbono é a restauração florestal, como comenta André de Gasper e o prof. Alexander Vibrans, professores da FURB e autores do estudo. “A restauração das áreas ao redor dos remanescentes florestais degradados é importante, mas ela não garante a recuperação da biodiversidade e estoques de carbono perdidos dentro desses remanescentes. Assim, a restauração florestal é necessária tanto fora quanto dentro dos remanescentes degradados da Mata Atlântica”. Portanto, este importante estudo reforça que o futuro da biodiversidade e dos estoques de carbono florestais não depende apenas do desmatamento evitado ou da restauração de áreas degradadas. Ele depende também do combate à degradação nos fragmentos florestais que restaram.
Link para o trabalho: https://www.nature.com/articles/s41467-020-20217-w
Citação do trabalho: R.A.F. Lima, A.A. Oliveira, G.R. Pitta, A.L. de Gasper, A.C. Vibrans, J. Chave, H. ter Steege, P.I. Prado. The erosion of biodiversity and biomass in the Atlantic Forest biodiversity hotspot. Nature Communications 11: 6347 (2020).
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