O mercado de tecnologia em Santa Catarina não desenvolveu apenas empresas inovadoras ao longo das últimas décadas. O ecossistema criado ao redor deste ambiente também mudou a forma como se financia projetos e pequenas empresas do setor.
Em março de 2020, poucos dias após as primeiras medidas de isolamento social em função da pandemia, a Associação Catarinense de Tecnologia (Acate) lançou uma iniciativa para auxiliar empresas de tecnologia de pequeno e médio porte na garantia de crédito para acessarem linhas de financiamento para capital de giro, investimento ou uma composição entre ambos. Nos primeiros oito meses de operação, o Fundo Garantidor da Acate liberou um total de R$ 3,7 milhões em recursos para 30 empresas associadas.
Mas esta não foi a primeira iniciativa que apoiou negócios inovadores em Santa Catarina.
Ao longo da década de 2010, começou a surgir uma demanda – alavancada pela Finep – para credenciamento de agentes para outro perfil de financiamento, para produtos e serviços “intangíveis”, tais como processos de inovação, softwares e produtos para empresas localizadas em incubadoras e parques tecnológicos. A necessidade de recursos para negócios inovadores e startups começava a bater às portas dos bancos de fomento, que por sua vez não tinham expertise neste tipo de operação.
Mas, historicamente, os bancos de fomento do país atuavam no financiamento de ativos fixos, como construção de novas fábricas, aquisição de equipamentos, com base em garantias reais das empresas (patrimônio em imóveis, máquinas, frota, entre outras).
Na região Sul, o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) acabou sendo a primeira instituição de fomento a buscar credenciamento para atuar com as linhas de inovação da FINEP . “Nos estruturamos e criamos o BRDE Inova como forma de mostrar que apoiar projetos inovadores era prioridade. O embrião dessa iniciativa foi em Santa Catarina, que já contava com um relevante ecossistema de empresas com este perfil”, comenta Felipe Castro do Couto, gerente de Planejamento do BRDE.
O credenciamento junto à FINEP e a atuação da agência regional também chamou a atenção do BNDES, que escolheu Santa Catarina como local para o lançamento de sua linha de crédito para inovação BNDES MPME Inovadora.
Em Santa Catarina, o programa BRDE Inova, que começou em 2013, já apoiou 130 empresas em mais de 200 contratos, somando recursos na ordem de R$ 406 milhões.
O BRDE também atua por meio de convênios operacionais com outras instituições, como cooperativas de crédito e entidades associativas. Nessa modalidade, o banco de fomento apoiou em Santa Catarina 104 empresas do setor, em operações com valores inferiores a R$ 1 milhão – um tíquete médio intensamente utilizado por negócios deste segmento.
“Nosso foco é financiar projetos de inovação incremental para melhorar a atividade das empresas, dos mais diversos portes”, explica Felipe. E, para empresas de software, um dos maiores entraves é a garantia – ou a falta dela. A solução foi utilizar uma ferramenta que já existia, mas não era muito explorada: os fundos de aval. “Em função de nossa atuação neste mercado, conseguimos flexibilizar a exigência de garantias reais para operações de até R$ 1 milhão por meio de parcerias e da utilização de fundos de aval”.
Uma das maiores operações de financiamento para empresas de software feitas pelo programa BRDE Inova foi com a catarinense Involves, que obteve recursos de R$ 8,8 milhões para desenvolvimento de produtos e ampliação da equipe de inovação.
NA ORIGEM, A EXPERIÊNCIA COM O JURO ZERO
Uma das primeiras experiências de crédito a empresas inovadoras na região aconteceu em 2007, quando começou a operar o programa Juro Zero em Santa Catarina – uma operação da Finep em parceria com a Associação Catarinense de Tecnologia. Ao longo de três anos, foram liberados R$ 19.390.403,00 para 38 empresas de TI do estado (dados: Acate, 2010), sem juros e garantias reais, em 100 parcelas corrigidas pelo IPCA.
O programa foi fundamental para o desenvolvimento de algumas empresas que são referência do ecossistema de tecnologia catarinense, como Agriness, BRy, Cianet, Pixeon, Way2, entre outras. Na época do Juro Zero, apenas duas empresas entre as que captaram recursos tinham faturamento acima de R$ 10 milhões – atualmente, 12 daquele grupo estão acima desta faixa de receita, sendo que sete têm faturamento de até R$ 100 milhões e outras duas faturam até R$ 300 milhões.
FUNDO GARANTIDOR: APOIO DURANTE A PANDEMIA
O Fundo Garantidor teve valor inicial em torno de R$ 1,5 milhão, com recursos viabilizados por meio de parceria com as Sociedades Garantidoras de Crédito GaranteNorte-SC e GaranteOeste-SC, com apoio do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e do Sebrae/SC.
Um terço deste total foi para microempresas, com faturamento entre R$ 81 mil e R$ 360 mil. Outros perfis beneficiados foram empresas com faturamento entre R$ 300 mil e R$ 1,5 milhão (oito operações) e negócios na faixa de R$ 1,5 milhão e R$ 4,8 milhões.
Entre as 30 empresas que obtiveram garantias por meio do FGA está a Asksuite, de Florianópolis, que desenvolve chatbots para o segmento hoteleiro. No início da pandemia, com o lockdown global, o mercado em que a startup atua praticamente parou, o que forçou um downsizing na equipe, entre outras ações emergenciais.
Com recursos emergenciais garantidos por meio do Fundo, a Asksuite conseguiu enfrentar parte do momento mais crítico do isolamento social – e também deu fôlego para, nos meses seguintes, conseguir uma captação de R$ 4 milhões junto ao fundo de venture capital Abseed: “O crédito obtido por meio da garantia foi muito importante para termos tranquilidade nos meses seguintes e abrirmos rodada no meio da pandemia – o que era um risco muito grande”, comentou à época o diretor de Operações Danilo Pavei.
O Fundo Garantidor Acate (FGA) não oferece o crédito, mas garante até 80% da operação, que pode ser contratada com qualquer concedente de crédito. Para ter acesso, é preciso ser associado à Acate há mais de seis meses e ter atuação empresarial e faturamento há mais de 12 meses.
(SC Inova, 02/02/2021)
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