A história de Jurerê e as curiosidades que envolvem a compra do terreno no Norte da Ilha, dos primeiros moradores até a expansão e a transformação do bairro em um dos balneários mais frequentados de Santa Catarina virou livro. Pelas mãos da empresária Maria Helena Petry Makowiecky, reconhecida como Leninha aqui na Capital, cuja história se entrelaça com a do local, Florianópolis conhecerá, a partir de 5 de fevereiro, essa biografia ainda não tão conhecida pela população da Capital. Trinta por cento da renda angariada com a venda dos livros serão revertidos para a Associação de Desenvolvimento Comunitário (Adecom), para melhorias no bairro Jurerê.
A relação de Leninha com o bairro de Jurerê começou em 1956. Ela é filha de Annito Petry, empreendedor que juntamente com os amigos Julio Teixeira e Aderbal Ramos da Silva, anos mais tarde eleito governador do Estado, compraram mais de 6 milhões de metros quadrados de terra por 150 mil cruzeiros – o recibo original ainda está guardado. Em 1957, quando ela tinha apenas seis meses, Annito e a mulher, Zulmira Carmelina Salvi, saíram do Rio Grande de Sul com a família rumo a uma vida nova em Florianópolis.
A data escolhida para o lançamento do livro não poderia ser mais simbólica: 5 de fevereiro é o dia em que Annito Petry completaria 109 anos. “Inicialmente, lançaríamos a obra em outubro do ano passado, mas a pandemia não permitiu. Então reagendamos para o aniversário do meu pai. É um presente para ele”, considera Leninha.
Projeto de Oscar Niemeyer
As terras, compradas anos antes, ficavam na chamada Vila Caldeirão, eram habitadas apenas por pescadores. Havia cerca de 20 casas de pau a pique no local, quando os empreendedores fizeram o loteamento e criaram a Imobiliária Jurerê para comercializar os terrenos. O projeto de urbanização e do grande hotel que seria construído no local ficou por conta de Oscar Niemeyer, o mais renomado arquiteto brasileiro e responsável pelos projetos mais arrojados do mundo. “Ele era um apaixonado pela região e contribuiu muito para transformar o local em um paraíso do turismo brasileiro. O acordo com Niemeyer foi noticiado e repercutiu na imprensa nacional”, conta Leninha.
Além da urbanização, o arquiteto seria responsável pelo projeto de um hotel internacional de luxo, além de clube, camping, restaurante, cinema, parques e jardins. “Niemeyer planejava a circulação de pedestres por alamedas exclusivas de acesso à praia. Assim continua até hoje”, comenta.
Primeiro morador vindo de fora
Foi numa visita à irmã Zulmira Carmelina Salvi, também em 1957, para comemorar o primeiro aniversário de Leninha, que Luiz Amir Salvi, então com 19 anos, recebeu a proposta de ser o primeiro morador “forasteiro” do bairro. “Inicialmente, eu ficaria apenas 30 dias, enquanto meu cunhado [Anitto] estivesse no Rio de Janeiro para falar com Niemeyer. Mas o Dr. Aderbal me encontrou e foi direto ao assunto”, conta Luiz Amir.
Ele lembra que Aderbal Ramos foi direto ao ponto. Disse que era sócio majoritário da Imobiliária Jurerê e um homem poderoso na política e nos negócios. “Você tem futuro em Porto Alegre? Se você ficar aqui, garanto o seu futuro”, relembra o tio de Leninha.
No começo, Luiz Amir ficou desconfiado, mas mesmo assim confiou no então futuro governador. Um acerto. “Trabalhei por mais de 30 anos na Imobiliária Jurerê e gerenciei obras, abri estradas, plantei eucaliptos e cuidei pessoalmente dos sentenciados da colônia penal de Canasvieiras, que trabalhavam nas construções”, lembra ele, que até hoje é morador do bairro.
A relação do bairro com a Ponte Hercílio Luz
A história do bairro Jurerê se relaciona com a Ponte Hercílio Luz. Em 1920, o governador Hercílio Luz começava a tirar do papel a ligação da Ilha ao continente, mas o local escolhido para a construção da cabeceira da ponte na parte insular era ocupado pelo antigo Cemitério de Desterro. “Além de remover as ossadas, a prefeitura precisaria comprar o terreno para seguir com o plano do governador. Para resolver o impasse, o superintendente da Capital, Henrique Rupp Júnior, se reuniu com o dono das terras do cemitério, Antônio Amaro da Costa”, conta Leninha.
Depois de muita negociação, o cemitério migrou para o bairro do Itacorubi, e como indenização pela desapropriação do terreno, Amaro da Costa recebeu uma porção de terras alagadiças e de pouco valor no Norte da Ilha, que se tornou Jurerê. Em 13 de maio de 1926, a ponte pênsil que virou o cartão-postal da cidade, seria inicialmente chamada de Ponte da Independência, posteriormente foi rebatizada de Ponte Hercílio Luz.
O livro: riqueza fotográfica e documental
Intitulado “Pousada dos Chás”, o livro teve como proposta inicial falar sobre os 18 anos do empreendimento idealizado pela autora, mas Leninha logo percebeu que não teria como fazer isso sem relembrar a história da chegada da família à Capital e de tudo o que envolve o bairro de Jurerê, porque as histórias se entrelaçam.
Todo o conteúdo histórico do livro é ilustrado por documentos, fotos do projeto, imagens áreas e antigas do bairro. Há ainda imagens das instalações da pousada e do chá da tarde, servido diariamente aos hóspedes, além dos recados deixados por eles. “A história da Pousada dos Chás fica em segundo plano. Ela não existiria se Jurerê não fosse este bairro tão especial na nossa família”, considera Leninha.
Realidade aumentada
O registro histórico feito por Leninha no livro não ficou apenas no papel. Algumas das imagens que ilustram a obra são acompanhadas da tecnologia de realidade aumentada: por meio de um aplicativo para celular (disponível para Android e IOS) é possível assistir a vídeos dos personagens e da própria autora relembrando esses momentos.
Lançamento do livro
O lançamento do livro “Pousada dos Chás” está marcado para o próximo dia 5 de fevereiro, das 17h às 20h30, na Pousada dos Chás. Por causa das restrições da pandemia, será um evento restrito para poucos convidados e sempre considerando todos os cuidados para evitar a contaminação pelo coronavírus.
Parte da renda angariada com a venda dos livros será revertida para a Associação de Desenvolvimento Comunitário (Adecom), e será revertida em melhorias no bairro Jurerê. “A Adecom nasceu em 2006, quando Jurerê não recebia a atenção devida. Junto com os nossos vizinhos, trabalhei para a implantação do sistema de monitoramento e para a urbanização do bairro. Não podia deixar este bairro ser abandonado. Hoje, a entidade precisa deste incentivo”, considera.
Sobre a autora e a Pousada dos Chás
Maria Helena Petry Makowiecky, a Leninha, é empreendedora reconhecida por todo o trade turístico pelo seu trabalho realizado à frente da Pousada dos Chás Hotel Boutique, empreendimento que em 2020 completou 18 anos e que já foi destaque no MPE Brasil 2016, prêmio de Competitividade para Micro e Pequenas Empresas na Categoria Serviços de Turismo. Todos os anos a Pousada recebe hóspedes de todo o mundo.
SERVIÇO
O quê: chá especial de lançamento do livro “Pousada dos Chás”, de Marina Helena Petry Makowiecky, a Leninha
Quando: sexta-feira, 5 de fevereiro
Horário: 17h às 20h30
Onde: Pousada dos Chás (Rua Francisco Gouvêia, 54 – Jurerê, Florianópolis)
(DeOlhoNaIlha, 26/01/2021)
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