Artigo de Cleverson Siewert
CEO do Ascensus Group
Há poucos dias novos prefeitos tomaram posse com o desafio de planejar o futuro das cidades após uma pandemia que expôs tradicionais e novos problemas dos centros urbanos: degradação do meio ambiente, falta de mobilidade e de saneamento, desigualdades – inclusive no acesso a tecnologias digitais – e a famigerada burocracia da máquina pública, que gerou entraves logísticos até mesmo na aquisição de itens hospitalares nesses tempos difíceis.
O momento pede, mais que nunca, repensarmos nossas cidades a partir de iniciativas inteligentes, e isso só é possível com o diálogo entre poder público, cidadãos e empresas.
Primeiramente, é preciso levar em conta que as cidades representam hoje 2% do território do planeta, mas são responsáveis por 75% da energia consumida e 89% do gás carbono emitido. Atualmente, 50% da população está nas cidades e a expectativa é que 75% dos habitantes estejam nos centros urbanos nos próximos 40 anos, segundo a ONU. Ou seja, em quatro décadas precisaremos de uma capacidade urbana um terço maior de tudo que a humanidade construiu até agora.
Imagine se não desenvolvermos soluções e aplicarmos para aumentarmos a pegada ecológica? Como administraremos este gigantesco desafio?
Para além do conceito, precisamos transformar nossos centros urbanos em cidades inteligentes na prática. E como isso é possível? Envolvendo o cidadão, de forma a criar um comprometimento do governo local para permitir o desenvolvimento de smart city, de forma a gerar um ecossistema inovador capaz de otimizar e gerenciar os recursos necessários para servir melhor os cidadãos. Isto é, proporcionar melhor qualidade de vida com menor impacto possível ao planeta.
Uma cidade verdadeiramente sustentável é fundamentada em aspectos como capital humano, coesão social, economia, meio ambiente, governança, planejamento urbano, alcance internacional, mobilidade e inovação (Cities in Motion Index / IESE Business School).
Erroneamente, podemos pensar que uma cidade inteligente requer projetos espetaculares, mas é na diversidade das ações cotidianas que se faz a diferença. Em Londres, considerada a cidade mais inteligente do mundo pelo ranking, os postes de iluminação fornecem wi-fi, sensores de qualidade de ar e pontos de carregamento de veículos elétricos.
É necessário sim investir em inovação, mas as melhorias precisam ser adotadas a partir da tecnologia já disponível em um determinado cenário. Um município brasileiro que aposta em iluminação pública eficiente vai gerar economia de recursos para o governo, incentivo à produção, mais segurança aos cidadãos e maior sustentabilidade ambiental. Isso é importante se levarmos em conta que a demanda mundial por energia cresceu 2,3% somente em 2018, e a emissão de carbono vinculada a ela subiu 1,7%, fazendo com que alcançasse 33 bilhões de toneladas de CO2 emitidos, conforme a Agência Internacional de Energia.
A revolução não acontece na sociedade quando ela adota novas ferramentas, mas quando segue novos comportamentos.
O PAPEL DA INICIATIVA PRIVADA
Se a pandemia expôs defasagens das cidades brasileiras, também mostrou que temos cacife para encontrarmos soluções inteligentes. Um exemplo é o Smart Tracking, ferramenta que rastreia contatos de pacientes com Covid a partir de check in por QR Code no transporte público e estabelecimentos. O sistema desenvolvido pela Smart Tour Brasil, startup catarinense, é utilizado em Florianópolis.
A organização privada tem papel fundamental não apenas na inovação tecnológica, mas na lógica cultural smart – logo, o setor pode colaborar de forma significativa no debate. Aliás, este é um tema recorrente no Grupo de Cidades Inteligentes (GCI) do World Trade Center (WTC) Curitiba, Joinville e Porto Alegre, do qual participo representando o Grupo Ascensus.
CONEXÃO COM O CENTRO URBANO E ATRAÇÃO DE TALENTOS
Quando tratamos do ambiente urbano no aspecto profissional, a criatividade está diretamente ligada à conexão com a cidade e os novos talentos querem vivenciá-la. Isso pode ser constatado no estudo da consultoria Robert Half com profissionais de alto nível nos Estados Unidos. Eles afirmaram que, antes de aceitar uma proposta, avaliam a qualidade de vida local, a diversidade cultural, a disponibilidade de conectividade e entretenimento, assim como a perspectiva de carreira na região. Para atraí-los e mantê-los, a cidade precisa ser mais eficiente, mais habitável e mais sustentável.
Como todas as inovações da história da humanidade, o despertar das smart cities segue a relação estímulo-demanda. O cidadão participativo e conectado vai exigir dos gestores públicos soluções para a infraestrutura urbana por entender que é prioridade. Como os recursos são finitos e a realidade econômica das prefeituras é desfavorável pelo peso da máquina pública, a parceria com a iniciativa privada é fundamental.
Mas um melhor desempenho dessa relação precisa de legislações atualizadas para se adequarem ao novo cenário, que requer espaço para as startups, por exemplo.
Não tenho dúvida de que a união entre a população, o poder público e as empresas é o único caminho para construirmos uma vida e um mundo melhor para todos. Para você, quais são os principais entraves que dificultam o desenvolvimento urbano inteligente em nossas cidades? E como enfrentá-los?
CONHEÇA NOSSO CANAL SOBRE CIDADES INTELIGENTES
*Artigo originalmente publicado no LinkedIn Pulse
(SC Inova, 20/01/2021)
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