A Universidade Federal de Santa Catarina finalizou a primeira etapa da reforma da Igrejinha da UFSC, antiga igreja do bairro da Trindade, e concluiu o restauro da pintura mural Humanidade, de Hassis, localizado dentro da estrutura. A Igrejinha integra o conjunto de edifícios que abriga a sede do Departamento Artístico Cultural (DAC) da Secretaria de Cultura e Arte da UFSC (SeCArte). A conclusão dessas obras integra a programação comemorativa dos 60 anos da instituição (1960-2020).
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O mural Humanidade é definido como vibrante, colorido e contemporâneo pela restauradora Márcia Regina Escorteganha. “As pessoas vão se surpreender. A pintura do Hassis transcende a questão religiosa. Traz a cena do Apocalipse com uma qualidade de leitura estética fantástica. Não é sacra ou profana, é cultural, o artístico que jamais deixou de ser religioso”, explica. Ela trabalhou na restauração dos 160 m2 da obra em duas etapas (de 1º/11/2018 a 24/01/2019 e de 28/10/2019 a 30/09/2020).
>> Confira o relatório da restauração.
Concebido pelo artista plástico Hiedy de Assis Corrêa, o mural Humanidade foi entregue à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em 1978, como parte da reforma da Capela da Santíssima Trindade. A Universidade adquiriu o terreno da paróquia e, no final dos anos 1970, decidiu-se destinar o conjunto histórico para as artes – a igreja, para o Coral da UFSC; a Casa do Divino, para cursos de artes plásticas; e o Salão Paroquial, para o Teatro da UFSC.
Os investimentos aplicados nas obras totalizaram mais de R$ 415 mil – 156 mil aplicados na restauração do Mural e R$ 259.820,65 para a reforma da Igrejinha. Os recursos foram obtidos graças à destinação de uma emenda parlamentar do senador Esperidião Amin. “Meu avô materno, Pelegrino Marini, foi um bom artesão e um bom restaurador. Eu devo ter herdado um pouco desse talento, não para fazer, mas para aplaudir e gostar das artes e das atividades de restauração”, declarou o senador. “Eu tenho uma alegria muito grande por ter contribuído para resgatar um espaço que faz parte da minha infância, da minha mocidade, como de muito que frequentavam desde a Festa da Laranja até o campus da Universidade. Esse espaço é muito especial, especialmente pela história e pela contribuição inestimável do nosso grande artista, que esta obra de restauração deu à sua obra, vida. Eu fico muito feliz pela restauração da obra do nosso querido Hassis e, acima de tudo, pela vida que essa restauração dá ao campus universitário, à nossa querida Trindade, à memória da Festa da Laranja e, acima de tudo, à memória de nossa cidade”, ressaltou Amin, que chegou a ir até a UFSC acompanhar os trabalhos durante as obras.
>> Assista ao minidocumentário: Crônicas do Mural Humanidade
Hassis, como assinava Hiedy, era funcionário da UFSC quando visitou a reforma da Igrejinha no início de 1978. Ele ficou entusiasmado com a renovação do espaço e sugeriu à administração da UFSC a pintura de um mural, na mesma igreja na qual foi sacristão quando criança. Márcia sabia dessas histórias quando iniciou o trabalho de recuperação do mural. Além de ter conhecido Hassis pessoalmente (e até conversado com ele sobre os simbolismos do Humanidade), sua primeira pesquisa no mestrado do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura da UFSC (PósARQ) foi sobre os materiais construtivos e argamassas históricas da igrejinha. “Sempre trabalhei com restauro de patrimônio. Foi um prazer e uma honra restaurar o Mural do Hassis”.
Para a secretária de Cultura e Arte da UFSC, Maria de Lourdes Alves Borges, “a restauração do Mural do Hassis é um sonho de mais de uma década. Foi também um desejo do saudoso reitor Cancellier entregar à UFSC e à cidade a obra desse grande artista, o Hassis, para ser contemplada na sua extrema beleza. Fico muito feliz que tenhamos conseguido realizar seu sonho.”
O mural estava bastante danificado, comenta Márcia; em 40 anos, nunca foi restaurado. Três técnicas foram usadas no Mural: a ilusionista (para imitar a cor original), o tratteggio (uso de traços finos justapostos) e o esponjado (nas áreas grandes). Hassis usou tinta comercial sobre uma superfície toda peculiar, frisa Márcia. “Ele pintou sobre a tinta anterior da parede e sobre tudo que existia: prego, madeira. É uma edificação histórica, irregular. Tem que respeitar esse tipo de material”. Um guarda-corpo foi instalado ao longo do Mural, para evitar que as pessoas encostem – muitos dos danos foram causados por cadeiras, colocadas em fileira no mural.
Coordenador do Departamento Artístico Cultural (DAC), Zeca Pires define a reforma da Igrejinha e a restauração do Mural Humanidade como “dois pontos relevantes nas comemorações dos 60 anos da UFSC. A Igrejinha – obra histórica e representativa do bairro Trindade e da nossa cidade – poderá ser utilizada com mais conforto e segurança para as apresentações musicais do DAC e de outras artes realizadas por toda a comunidade. Já, O Mural Humanidade poderá ser apreciado com a força de suas cores originais e o vigor dos seus traços. Humanidade, restaurado, celebra a luta e a arte do autor e o desejo de todos os artistas. Nesse período de negação da história e esquecimento da memória artística, a conquista da UFSC é de todos que respeitam a importância da arte e da história.”
Estrutura
A reforma da Igrejinha, iniciou em janeiro de 2019, a um valor contratado de R$ 259.820,65, as obras foram executadas no telhado, na rede elétrica, troca do piso, reforma de portas antigas, troca do madeiramento de escada interna e do assoalho do coro, recuperação de partes do reboco, e a realização de uma nova pintura externa. Durante a reforma, foi encontrado um nicho escondido numa parede lateral, que abrigava um antigo altar, provavelmente da construção original, de 1853, que teria sido “ocultado” quando de uma grande reforma no edifício, em 1938.
A Igrejinha recebeu uma pintura externa que recupera uma cor antiga, amarelo ocre, que deverá ser aplicada em todo o conjunto, deixando os três edifícios (Igrejinha, Teatro e Casa do Divino) ainda mais destacados na paisagem do bairro. Para uma segunda etapa das reformas, deverão ser contempladas salas de apoio e sanitários. Esta primeira etapa das reformas na Igrejinha era necessária também para, ao manter a estabilidade do edifício, manter a integridade da pintura de Hassis.
(UFSC, 16/12/2020)
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