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Por que hotéis só podem atender com 60% de capacidade?, pergunta a ABIH-SC

Da Coluna de Estela Benetti (NSC, 06/12/2020)

Um dos setores mais afetados pela Covid-19 é a hotelaria, que teve que ficar um tempo fechada e, até agora, segue com ocupação limitada pelas autoridades de saúde. O novo presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-SC), Rui Schürmann, afirma que a principal reivindicação do setor é a autorização para atender com ocupação de 100% das unidades dos hotéis. O argumento é de que não há risco de contaminação se apenas hóspedes da mesma família estão nas unidades. Os espaços comuns seguem normas de restrições.

Outros desafios do setor são a falta de matérias-primas para reformas e produtos para reposição. A nova diretoria da entidade em SC assumirá em janeiro. Confira a seguir a entrevista de Rui Schürmann para a coluna.

Quais são os maiores desafios enfrentados pelo setor hoteleiro catarinense em função da pandemia?

-Temos que pensar na hotelaria catarinense como dois setores. Um é o de negócios, que está muito afetado, com hotéis fechando, hotéis que não sabem se vão reabrir, sem expectativa nenhuma de movimento. O outro setor é a hotelaria de lazer, que é a maioria de Santa Catarina, tem a maior receita anual na temporada de verão, mas enfrenta, também, grande preocupação neste momento em função da pandemia.

O funcionário de hotel tem que ter um treinamento antes de trabalhar. Já foram contratados e treinados muitos trabalhadores para a temporada. Mas mesmo assim provavelmente os hotéis só poderão ocupar 40% ou 60% dos quartos. Se dentro dos aviões que é um charuto fechado há uma taxa muito pequena de contaminação, por que os hotéis só podem atender com apenas 40% ou 60% de capacidade?

Estamos muito preocupados com o futuro dos empregos. No começo da pandemia nós tivemos uma retração forte, e depois os hotéis voltaram a contratar com uma expectativa de funcionar no verão, mas se fecharem tudo na temporada como estão falando, o setor terá que demitir essas pessoas de novo. O estado tem que acabar com a limitação na ocupação dos hotéis.

O setor de turismo é um dos que mais está seguindo os protocolos de segurança da pandemia. Os hotéis reduziram espaços para ocupação nas áreas comuns. Espaços para café da manhã, por exemplo, tiveram uma redução de 50% das mesas e, se o hóspede quiser, o café pode ser levado ao quarto.

O setor reivindica das autoridades sanitárias autorização para o uso de todos apartamentos de hotéis ou pousadas. Por que acreditam que não há risco maior do que em outras atividades?

– O Ministério do Turismo é um dos poucos setores que definiu regras claras com o selo de qualidade. Elas dizem como que se limpa, quais são os produtos que têm que ser usados, os princípios ativos dos produtos, de que forma se serve café, de que forma se serve jantar, a academia do hotel está fechada, um ambiente do hotel de lazer ou algo assim está fechado, mas permite que o hotel tenha um movimento, que ele exista. O problema é que o estado chega e fala: “espera aí você vai trabalhar só com 60%, 40% da capacidade, dependendo da bandeira.

Uma coisa é ter aglomerações em shows, por exemplo, com mais de mil pessoas, mas qual é a razoabilidade de você ocupar 60% do hotel se o hóspede está fechado em seu quarto? Podem e devem fazer fiscalizações em hotéis com a vigilância sanitária para confirmar se estão cumprindo os protocolos, mas não é justo exigir de hotéis ocupação inferior, porque não faz sentido nenhum. Temos muitos hotéis de praia que não têm corredor. O hóspede sai direto para a praia. Uma série de pousadas no estado têm bangalôs e a única área comum é a do café, que está com restrições. E sobre o atendimento da área da saúde, o governador Carlos Moisés, na entrevista que concedeu quando reassumiu, falou que o estado estava com 70% da capacidade de leitos de UTI ocupada. Só que muitos leitos que foram abertos para Covid-19 foram fechados novamente.

Quais são outros problemas causados pela pandemia aos hoteleiros?

– Outro problema que enfrentamos no momento é a grande falta de matérias primas e produtos em geral. O hoteleiro geralmente pelo mês de setembro faz um investimento, troca parte dos lençóis, televisores, faz reformas… Mas este ano foi um desespero para conseguir os produtos, principalmente na área de construção civil, que enfrenta uma série de problemas de abastecimento de matérias-primas. E muitos donos de hotéis queriam aproveitar esse tempo de falta de ocupação para fazer reformas, algo que é complicado fazer quando há hóspedes. Geralmente é fechado um andar de cada vez, mas o hóspede começa a reclamar do barulho. Então, agora seria o momento perfeito, mas falta muita matéria-prima. Por exemplo, um componente que é usado para fazer a espuma de colchão está faltando porque não está vindo da Argentina pelo fato de a fronteira estar fechada.

No caso de televisores, se o hoteleiro tem uma de 30 polegadas e quer comprar uma de 50 para aumentar o conforto do hóspede, enfrentará falta de produto, mas poderá manter a de 30 polegadas.

O setor chegou a fazer alguma projeção sobre quanto vai perder de receita este ano em função da pandemia?

Não sei se essa estimativa foi feita, mas o segmento de negócios vai ter uma queda de mais de 60% com certeza, podendo chegar até 70%. No caso da hotelaria de lazer, não dá para estimar ainda. Nós tivemos um diferencial que foi um maior movimento em outubro e novembro. Acho que aquelas pessoas que estavam em casa, com os filhos sem aula, decidiram viajar.

A dificuldade de crédito continua para empresas?

O crédito foi complicado, o governo lançou algumas linhas, mas não chegaram para quem precisava. Essa é uma reclamação geral do mercado. Os bancos pedindo garantia real, condições que não eram possíveis de oferecer, principalmente os bancos comerciais. Os bancos públicos receberam poucos recursos. Então no segundo terceiro cliente que eles atendiam eles supriam a cota deles.

Quais são as expectativas com a breve chegada de vacinas contra Covid-19?

Acho que será muito positivo. Terá um efeito psicológico. Mesmo antes de todos receberem a vacina acredito que as pessoas vão começar a viajar mais e o turismo terá um aquecimento.

Como o senhor vê o futuro da hotelaria catarinense para os próximos anos?

Acredito que vai ser muito positivo, mas o cliente mudou devido ao acesso à informação. Então agora os hotéis vão ter que aprender a se vender na internet, em plataformas digitais.

O senhor assume a presidência da ABIH-SC em janeiro. O que será priorizado na sua gestão?

Nós vamos ter um foco muito grande na prestação de informações para a hotelaria, com mais dados, indicadores para avaliar performance. Também vamos priorizar mais conhecimento para gestão.

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