A Fundação Catarinense de Cultura (FCC) divulgou no final de setembro a lista de projetos ganhadores da edição 2020 do Prêmio Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura. Um deles é o 2º Grande Baile Místico da Ilha de Santa Catarina, iniciativa coletiva articulada pela associação FloripAmanhã em conjunto com o Museu da Escola Catarinense, vinculado à Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). A proposta é dar continuidade a um evento que movimentou as ruas do centro no ano passado, celebrando a memória e a mitologia da capital com aula-performance, teatro, dança e um cortejo alegórico a fantasia.
O 2º Grande Baile Místico estava previsto para este mês, mas em função da pandemia, foi transferido para outubro de 2021. Para não deixar passar em branco o primeiro aniversário, os organizadores lançam no dia 16/10 um livro digital de 132 páginas e um vídeo documentário com o registro do evento. A data, uma sexta-feira de lua nova, não foi escolhida por acaso: é também o aniversário do “bruxo” Franklin Cascaes (1908-1983), antropólogo, escritor, gravurista e pesquisador da cultura açoriana que retratou com sensibilidade as lendas de bruxas, boitatás, lobisomens e outros seres mitológicos da Ilha.
Clique aqui para acessar o livro e o vídeo do 1º Grande Baile Místico.
“Participamos da produção executiva com o objetivo de resgatar a cultura e a história mística local”, diz a presidente do Conselho Consultivo da FloripAmanhã, Zena Becker. Ela lembra que a capital catarinense faz parte da rede mundial de cidades criativas da Unesco, na categoria Gastronomia, e o organismo das Nações Unidas recomenda às municipalidades participantes que incentivem a cultura de maneira transversal.
Uma das organizadoras, a professora de comunicação Maria Isabel Orofino, conta que a primeira conversa sobre o Grande Baile Místico aconteceu numa manhã de inverno de 2018, na Enseada do Brito. Ela e o escritor Laudelino Sardá visitavam o antropólogo Gelci José Coelho, o Peninha, quando Sardá lembrou que em 2019 se completariam 125 anos da Revolução Federalista. O episódio trágico, no qual mais de 200 pessoas foram fuziladas na Ilha de Anhatomirim a mando do marechal-presidente Floriano Peixoto, levou à mudança do nome da cidade de Nossa Senhora do Desterro para Florianópolis.
Peninha, com sua fala rápida característica do sotaque local, começou a contar casos e histórias relacionadas. Ele lembrou que Cascaes jamais assinou o nome atual nas suas obras, escrevia sempre Nossa Senhora do Desterro. Também mencionou que o nome da cidade é “embruxado”, pois remete enganosamente às flores, e que a primeira das muitas propostas de mudança, em 1888, foi para Ondina, a ninfa das águas na mitologia escandinava. Na sequência, Peninha publicou o livro Narrativas absurdas: verdades contadas por um mentiroso. A partir da conversa, do livro e do desejo de conscientizar as pessoas sobre o passado local, surgiu o projeto.
“Nós tínhamos o desejo de mesclar o sagrado e o profano, invocando as entidades – com todo o respeito – para levar música, dança e cor às ruas do centro histórico”, conta Maria Isabel. A primeira parte do evento de 2019 foi uma homenagem solene aos mortos de Anhatomirim, seguida do momento festivo. Dois contos inspiraram o cortejo alegórico, recorda a professora: o Baile das Bruxas em Itaguaçu, de Peninha, e Festa das bruxas numa tarrafa de pescaria, de Cascaes. “É um desfile de carnaval de primavera pelas ruas do centro histórico, com um hino e a participação de várias bandas”, descreve.
Para a segunda edição, a ideia da comissão organizadora é prestar homenagem a Ernesto Meyer Filho (1919-1991), artista plástico que tinha os galos fantásticos como um dos temas preferidos de sua obra.
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