Da Coluna de Fabio Gadotti (ND, 18/10/2020)
O professor da USP Arlindo Philippi Jr., que é de Florianópolis, participou da construção do “Guia para Cidades Sustentáveis – Eleições 2020”, documento baseado nos 17 objetivos da Agenda 2030 da ONU. Ele é um dos painelistas, nesta segunda-feira (19), das 9h às 12h, de um evento online (www.iea.usp.br/aovivo) sobre a consolidação de uma cultura de sustentabilidade nas cidades brasileiras.
Quais os objetivos do guia?
Fornecer parâmetros que possam balizar as decisões de candidatos, subsidiar a mídia para questionamentos dos candidatos em torno da importância da sustentabilidade das cidades e fornecer à população uma ferramenta qualificada de cobrança dos candidatos sobre o que é prometido e cumprido.
É também para ser usado depois das eleições, como documento de cobrança da sociedade sobre a eficiência, eficácia, e principalmente, efetividade dos eleitos. A partir do documento, imaginamos modelos de gestão urbana, com forte embasamento científico e que tragam sustentabilidade às cidades.
Visão de futuro e participação social estão entre os pilares do documento?
Sim, toda cidade deveria se preocupar com uma visão de futuro: pensar sobre “o que eu quero para a cidade lá na frente”. A partir disso, é possível identificar as vulnerabilidades. Se o gestor souber trabalhar as soluções, vai encontrar o caminho para atingir a ideia da sustentabilidade dentro dos objetivos da ONU.
Um dos pilares é a necessidade de mais participação social. Sem isso, não há grandes perspectivas de avançar em torno de maior qualidade de vida. Mas tem que ter um maior interesse da população e lideranças abertas a ouvir.
Como engenheiro sanitarista e mestre em saúde pública, avalia de que forma a gestão da pandemia pelas autoridades das várias esferas?
O grande problema é que nossa vulnerabilidade ficou muito evidenciada durante a pandemia. A mais chocante é a profunda desigualdade social, caracterizada por condições precárias de habitação e a infraestrutura associada a isso, como saneamento, que é terrível.
Muitos dos problemas de agora são resultados de erros do passado. O processo de planejamento das cidades tem sido sistematicamente equivocado. Estudos feitos na pandemia identificam, inclusive, que as pessoas que vivem nas áreas mais vulneráveis têm tido o maior índice de contaminação e letalidade.
Não têm espaço, precisa de tempo imenso para locomoção, não tem água em condições próprias nem esgotamento sanitário. Os rios e córregos próximos normalmente são contaminados, o lixo não tem a gestão adequada. Isso dá todas as condições para vetores de doenças.
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