Da Coluna de Estela Benetti (NSC, 23/06/2020)
Não dá para ignorar o maior número de casos de Covid-19 no Estado. Prova disso é a maior taxa de ocupação de vagas de UTI no SUS até agora, 64,4%, como informa matéria do Diário Catarinense, dos jornalistas Cristian Weiss e Jean Laurindo. Isso exige que todos sigam com as medidas de prevenção. Esse aumento de casos e aglomerações locais motivou a prefeitura de Florianópolis a restringir novamente algumas atividades econômicas como shoppings, galerias e academias a partir desta quarta-feira. Mas essa decisão tem atraindo duras críticas, com razões.
Em primeiro lugar, é lamentável que muitas pessoas, mesmo bombardeadas dia e noite com notícias e imagens fortes sobre os perigos da pandemia do novo coronavírus, continuem se aglomerando. Não têm a responsabilidade de cuidar da saúde própria e da dos outros. Isso mostra que é necessário o poder público punir com multas e outras penalidades os infratores. Nesse caso, foi coerente a decisão da prefeitura de Florianópolis de elevar de R$ 125 para de R$ 1.250 a multa a quem não usar máscara, a partir desta quarta-feira. Mas além de estabelecer, é preciso exigir o uso da proteção ou efetivamente multar.
No âmbito institucional, faltou à prefeitura ouvir outros municípios e entidades empresariais para a busca de soluções conjuntas. Será que a decisão de Florianópolis vai atingir os objetivos numa região conurbada com mais três municípios: São José, Palhoça e Biguaçu? Não seria melhor buscar um acordo para adotar as mesmas normas considerando que o problema é semelhante na Grande Florianópolis?
No caso específico das atividades econômicas: são esses estabelecimentos que deveriam ter restrições? Adianta fechar galerias e shoppings se as aglomerações acontecem por causa de bancos ou outros serviços no Centro da cidade? Os shoppings tradicionais se adaptaram às medidas preventivas e informam que o movimento está em 30% do que era antes.
Esta é a pior crise econômica já enfrentada por todos pelas limitações que impõe. As empresas investiram para a adoção das novas normas sanitárias porque viram uma oportunidade de retomar atividades parciais para sobreviver. Fechar restaurantes à noite pode inviabilizar essas empresas que já se adequaram ao limite de 50% de atividade ou menos. Uma alternativa seria imitar o mundo lá fora, como Nova York, onde os restaurantes foram liberados a colocar mesas nas calçadas e nas ruas. Joinville, por exemplo, limitou ocupação sem definir horários para restaurantes.
As entidades empresariais da Capital criticaram esse novo fechamento adotado pelo prefeito Gean Loureiro, principalmente por não terem sido ouvidas. O presidente da Associação Empresarial de Florianópolis (Acif), Rodrigo Rossoni, faz algumas das afirmações mais contundentes, reconhecendo que novas restrições podem fechar mais empresas e mais empregos.
– A culpa do desemprego é da prefeitura, que toma decisão isolada, sem diálogo e sem medidas compensatórias para as empresas sobreviverem – disse Rossoni para a coluna.
Além da falta de diálogo com instituições e de punições a infratores, falta ao setor público um empenho claro na aplicação dos aprendizados do tratamento à Covid-19. Existe um consenso na área médica de que tratar os pacientes logo que começam os primeiros sintomas, com o fortalecimento do sistema imunológico e redução da carga viral, evita casos graves e salva milhares de vidas.
O serviço do SUS precisa estar alerta a isso para atender os pacientes imediatamente e prover todos os medicamentos para que consigam fazer o tratamento adequado. O setor privado tem feito mais isso, o que explica, em parte, menos perda de vidas e menor ocupação de vagas de UTI. Com esses cuidados na saúde pública, será possível ampliar a prevenção e salvar mais pessoas, mantendo uma parte da economia rodando.
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