Da Coluna de Estela Benetti (NSC, 20/06/2020)
O turismo é um dos setores mais importantes para a economia de Santa Catarina – responde por 12% do PIB – e, em função da pandemia, é um dos que enfrentam as maiores restrições para retomar atividades. Mas se depender do presidente da Santur, a Agência de Desenvolvimento do Turismo de Santa Catarina, Leandro “Mané” Ferrari, esses obstáculos serão superados e o Estado voltará a ser um dos líderes do turismo nacional. Para mostrar em números a força do setor em SC tanto para os próprios catarinenses quanto para investidores, a Santur acaba de divulgar o Diagnóstico Econômico e Plano de Retomada do Turismo Catarinense.
Nesta fase de enfrentamento ao novo coronavírus, o foco da Santur tem sido um trabalho técnico junto com a área de saúde do Estado para a reabertura gradativa de atividades turísticas com a maior segurança possível. Mas para o médio e longo prazo, Mané Ferrari informa que o governo do Estado tem diversos projetos em andamento para aquecer o setor. O próximo será o site Viaje Mais SC, para incentivar o turismo local e regional.
Graduado em jornalismo e gestão turística, Mané Ferrari é empresário do setor náutico. Antes de assumir a Santur, dia 17 de março deste ano, era diretor da pasta. Entre os cargos que exerce no associativismo empresarial estão o de presidente da Associação Náutica Brasileira (Acatmar) e do GT Náutico de Santa Catarina. Confira a entrevista:
Como a Santur está trabalhando para a retomada do turismo em Santa Catarina?
A retomada será com o turismo regional. A gente está trabalhando forte. Estamos montando o programa Viaje Mais Santa Catarina. Quem mora no Estado terá descontos na rede hoteleira, na visitação de atrativos e em outros serviços, para ajudar de fato o empresário neste momento. Esse programa é uma construção conjunta com os empresários. Está quase pronto. Vamos apresentar ao Conselho Estadual de Turismo e, provavelmente, até o final de junho estará lançado. As empresas terão que fazer seus cadastros.
Vocês vão lançar um site para as empresas informarem suas atrações?
Sim, será um site não só para as empresas informarem suas atrações, mas, também, para elas cadastrarem seu produto lá e venderem pacotes, oferecer descontos. Nosso objetivo é um trabalho conjunto para que o catarinense possa circular mais no Estado. Esse projeto está detalhado no Diagnóstico Turístico de Santa Catarina. Estamos criando também o selo Viaje Mais Santa Catarina para dar segurança ao visitante. Nosso Estado é o mais seguro em segurança pública. Queremos fazer com que seja o mais seguro também contra a Covid-19. A gente vem com números muito bons com relação ao Brasil. O governo de Santa Catarina fez o dever de casa na hora certa e isso tem ajudado muito.
Como está sendo o trabalho da Santur nessa fase da pandemia?
Durante a pandemia, a gente conseguiu fazer com que o setor fosse visto e ouvido pela área de Saúde do Estado, pelo governo. Tanto que temos aí, graças a esse trabalho, a abertura dos parques, zoológicos, hotéis, bares e restaurantes. Tudo isso resultou de um trabalho que fizemos com os empresários, dentro da Santur, gerando modelos e protocolos para mandar ao Centro de Operações de Emergência na Saúde do Estado (COES).
De que forma está acontecendo a retomada do setor? Os visitantes estão aparecendo?
Sabe que agora no inverno, na Serra, até nos surpreendeu. Tanto que teve aglomerações no mirante da Serra do Rio do Rastro num final de semana. Apareceu muita gente sem máscara. Aí instalamos uma barreira sanitária em Bom Jardim da Serra, com a Polícia Rodoviária, Bombeiros, para regrar. Está funcionando bem. Muitos hotéis parece que tiveram um bom público, claro que 50% ainda, mas um bom público no último final de semana. As pessoas estão saindo. Também lançamos o modelo drive in para filmes e shows com regras para as pessoas ficarem no carro e, se saírem, devem usar máscara. Isso está ajudando os empresários de eventos. São alternativas para o turismo não ficar de fora.
Vocês estão lançando o Diagnóstico do Turismo, que é uma publicação consistente, com muitos dados. Qual é o impacto esperado?
Fizemos esse diagnóstico para mostrar o que é turismo, tirar aquele estigma de que turismo é só lazer e festa. Não!, Ele é geração de emprego, é uma economia que traz recurso ao Estado, aos municípios. É um diagnóstico mostrando o outro lado do turismo, um setor que movimenta 52 atividades econômicas. E, neste momento difícil as pessoas estão sedentas por lazer, ainda mais em espaços públicos. Por isso definimos regras para dizer como as pessoas têm que se comportar em espaços públicos. Queremos que as pessoas sigam as regras e todo mundo consiga se preservar para evitar que aconteça como Gramado, no Rio Grande do Sul, por exemplo, que abriu e teve que fechar.
Qual segmento está com mais dificuldades no setor turístico?
É o de eventos. A retomada está mais complicada. Nós estamos trabalhando para mudar o tamanho de eventos, feiras… regrar. Estamos trabalhando com protocolos com o convention bureau. Estamos trabalhando também com casas noturnas e shows para que a gente construa com o COES, o conselho gestor de decisões do governo sobre a Covid-19, a liberação após o dia 5 de julho. Temos um decreto que autoriza liberar eventos dia 5 de julho. Não quer dizer que haverá liberação para todos, em todas as regiões. Isso vai depender da situação de cada região e município. As prefeituras vão avaliar. Pode ser que uma região com menos casos de Covid-19 possa ter liberação.
E como está o setor náutico?
A navegação, em nenhum momento ficou proibida pela Marinha do Brasil. O que aconteceu foi o fechamento de marinas náuticas por municípios, mas logo houve um entendimento sobre a necessidade de liberação porque um barco parado numa marina iria acabar estragando se não tivesse uma manutenção. Foi aberto para a classe de marinheiros trabalhar e depois, foi reaberto para todos. Mas, infelizmente, como acontece em vários outros setores, alguns acabaram juntando barcos e fazendo aglomerações. Mas todas as marinas receberam regras, com protocolos informando como deveriam acessar as marinas e ir ao mar somente com as suas famílias. E com relação ao setor náutico, o setor que eu atuo, estamos trabalhando pela retomada porque o turismo náutico tem grande impacto nos demais setores econômicos.
Temos novidades sobre cruzeiros marítimos?
Estamos trabalhando pela criação da Rota SC. Se o problema da Covid-19 estiver superado, na próxima temporada teremos cinco destinos de cruzeiros em Santa Catarina: Imbituba, São Francisco, Porto Belo, Balneário Camboriú e Itajaí.
Florianópolis não entrará nessa rota?
No caso de Florianópolis, posso dizer que fiz o dever de casa quando estava na Secretaria de Infraestrutura. Após 10 anos, fizemos a avaliação técnica. Temos, em Florianópolis, dois pontos para atracação de navios. Os dois em Canasvieiras. Agora é preciso fazer a retroárea para receber os visitantes. Isso é uma obra que ficou a cargo do município. Também há o projeto da Marina da Beira-mar. Para trazer passageiros de cruzeiros será preciso parar o navio em Jurerê ou Canasvieiras. A ideia da Santur é fazer com que esses navios permaneçam cinco dias no nosso Estado, gerando todo um momento econômico. Um cruzeirista gasta, em média, R$ 519 reais em cada parada.
O que mais chamou a sua atenção no diagnóstico turístico da Santur?
O que mais me chamou a atenção foi o impacto econômico dos eventos, um turismo que podemos praticar o ano inteiro, não só na temporada de verão. Esse sim é um produto que precisamos incentivar (um grande evento movimenta R$ 15,3 milhões em média e um pequeno, R$ 200 mil).
A Santur tem um projeto para sinalização turística. Como será?
A Santur começou um planejamento de sinalização turística em rodovias estaduais e na sinalização de atrativos turísticos para que o visitante consiga chegar, de fato, em todas as regiões. Estamos com o projeto quase pronto, um plano bem grande e audacioso junto com a Secretaria de Infraestrutura do Estado. Vamos começar e, depois, tentar captar recursos federais para isso. A ideia é finalizar o projeto este mês, é algo que nunca foi realizado em Santa Catarina.
É preciso pôr o pé na estrada…
Eu posso dizer que sou um felizardo. Quando estava no Conselho Estadual do Turismo, durante quatro anos, eu visitei cada cantinho deste Estado. E tem tanta coisa ainda para a gente explorar que não é vista, não é falada. No turismo, temos um mundo dentro do nosso Estado. É isso que a agente tem que divulgar, principalmente neste momento. A gente tem Europa, América (sobre colonizações), canyons, águas termais, litoral, serra… Eu não tenho dúvidas que a gente se destaca muito, em turismo, na comparação com outros Estados. Aqui, o turista está em Florianópolis, numa praia, e em 30 minutos chega na serra. Os atrativos são muito grandes e muito mais próximos um do outro. Somos o Estado mais visitado da Região Sul. Nesta fase, estamos convidando os turistas locais, estaduais. Mas também queremos continuar atraindo os visitantes nacionais e internacionais. A divulgação não vai parar, queremos trabalhar um pouco mais parcerias público-privadas e acordos internacionais, além de tentar melhorar legislação para reduzir entraves.
Quais são os projetos de investimentos que a Santur pretende acelerar?
Temos que finalizar o centro de eventos de Balneário Camboriú. É um projeto que vem se arrastando há anos. Estamos com as obras de equipamentos a todo o vapor, mesmo nesta fase de pandemia. Estamos trabalhando muito para isso. Também queremos tirar do papel a plataforma de vidro na Serra do Rio do Rastro. Além disso, precisamos instalar infraestrutura nas cabeceiras da Ponte Hercílio Luz. O plano é oferecer diversos serviços nessas áreas.
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