Da Coluna de Fabio Gadotti (ND, 22/04/2020)
À frente da Saúde da Prefeitura de Florianópolis, Carlos Alberto Justo da Silva pede que população mantenha cuidados para evitar aumento de casos de Covid-19 e nova paralisação da economia.
Secretário de Saúde de Florianópolis, o médico Carlos Alberto Justo da Silva afirma que a estratégia de aplicação de testes para detectar casos positivos de Covid-19 é um instrumento importante como “mecanismo de diagnóstico da crise” e definição das medidas de combate à pandemia.
À coluna, ele disse nesta terça-feira (21) que conciliar o isolamento social com a abertura das atividades econômicas é um “grande desafio” para os próximos dias.
“A população aderiu ao isolamento social, foi parceira, e a gente espera que continue assim”, disse o Professor Paraná, como é conhecido.
Qual a avaliação sobre os testes rápidos e por quê a importância da estratégia?
Fazer testes PCR para pessoas assintomáticas e rápidos para quem tem alguma sintoma servem, principalmente, para ter instrumentos em saúde pública que determinem os próximos passos, as necessidades do sistema de saúde e também a manutenção ou não de flexibilização de quarentena. É muito importante para determinar como está a situação atual e como a pandemia se comportará. No drive thru fizemos até agora 531 testes em quatro dias, com 61 casos positivos. Isso nos ajuda, porque entre os testados – que apresentavam algum sintoma, como tosse e febre – chegamos ao percentual de 11,5% de positivos. Os demais se devem a outros tipos de virose, como Influenza. Perto do inverno, isso ajuda a detectar quantos são Covid-19 entre os pacientes com síndrome respiratória. Cientes que 20% dos pacientes sintomáticos de coronavírus vão precisar de hospitais, a partir do momento que soubermos quantos infectados existem vamos conseguir dimensionar a capacidade do sistema de saúde suportar a pandemia.
Como será o cronograma a partir de agora?
Os testes não serão só no drive thru a partir desta semana: pretendemos ampliar isso para as 46 unidades da prefeitura. Todos os centros já têm os kits e terminamos o treinamento. Quanto mais testes fizermos, mais teremos condições de estabelecer as demandas dos hospitais e saber se a quarentena está sendo eficiente. Os testes rápidos são importantes como mecanismo de diagnóstico da crise.
Depois de um isolamento bem restritivo, a liberação das atividades causa preocupação?
O impacto foi muito importante. No início da pandemia, estávamos com um coeficiente entre 3 e 3,5. O que isso quer dizer? Cada contaminado passa o vírus para até 3,5 pessoas. Quando se faz uma quarentena, o ideal é levar esse índice para 1, porque aliando isso ao isolamento maciço não há progressão geométrica de casos. Conseguimos reduzir o índice para 1,56. Agora, com a liberação de algumas atividades, esse grau aumentou em 11% e está em 1,75. É claro que quanto mais você libera e mantém aglomerações, esse indicador aumenta. Conciliar a questão do isolamento social com o processo de trabalho dos indivíduos e a manutenção das atividades é um grande desafio pela frente e os testes rápidos vão nos ajudar no dimensionamento disso o tempo inteiro. O achatamento da curva ocorreu, foi muito eficiente. Agora vamos ver como se comporta daqui para a frente.
Como está a estrutura do sistema de saúde da Capital para enfrentar a pandemia?
A questão da estrutura hospitalar não posso dizer, porque o município de Florianópolis não regula os leitos. Quem faz isso é a Secretaria de Estado da Saúde. Acreditamos que se o governo do Estado está dizendo que pode liberar (as atividades econômicas) é porque deve ter estudos que apontem que as condições programadas para a cidade estão adequadas. Não tenho ideia de qual o percentual da utilização da capacidade de saúde instalada.
Qual sua percepção sobre a adesão da população à quarentena?
A população de Florianópolis é disciplinada. É claro que sempre tem aquele resquício, de 10%, que contesta tudo e que não usa a racionalidade como mecanismo de decisão, e sim crenças, aspectos políticos, sociológicos, etc. Isso sempre vai existir, mas a grande maioria da população deu uma boa resposta. Como falei antes, saímos de 3,5 para 1,56 de projeção de contaminação. Isso mostrou que a população aderiu, foi parceira, e a gente espera que continue assim. Isso nos dá uma estimativa de possibilidade de sucesso dessa abertura – e que é necessária porque a população precisa aprender a conviver com o vírus e retomar as atividades – não pelas medidas públicas mas pelo comportamento dos próprios moradores. Se as pessoas continuarem tendo disciplina, se protegendo, saindo de casa somente quando for estritamente necessário, acredito que a gente possa manter algum grau de controle. E com os testes, a população deve ficar atenta: a qualquer momento, podemos ter que tomar medidas restritivas mais duras, como em outros países, em caso de perda de controle sobre a proliferação da Covid-19.
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