O Senado promoveu na tarde desta quinta-feira, dia 21 de novembro, em Brasília (DF), uma sessão especial no plenário para celebrar os 40 anos da UFSC à frente da gestão das fortalezas da Ilha de Santa Catarina. A instituição é atualmente responsável pelo gerenciamento, guarda, manutenção e conservação de três fortalezas históricas do litoral catarinense: Santa Cruz de Anhatomirim, Santo Antônio de Ratones e São José da Ponta Grossa. A solenidade foi transmitida pela TV Senado e, na ocasião, foi exibido o vídeo “De ruínas a Patrimônio Cultural da Humanidade”, que traz um histórico das fortificações até a candidatura a patrimônio mundial das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Assista à produção “De ruínas a Patrimônio Cultural da Humanidade”
A propositura para sessão, aprovada no dia 2 de julho deste ano, foi uma iniciativa do senador Esperidião Amin, por meio do requerimento nº 560/2019. Concomitantemente ao ato desta quinta-feira, ocorreu a apresentação de uma mostra composta por 18 pôsteres que contam parte da história dos monumentos, sua recuperação e abertura ao público. Também foram entregues à Biblioteca do Senado três publicações temáticas sobre as fortalezas: o livro infantil de educação patrimonial “Fortalezas da Ilha: uma visita ao passado”, a revista “Restauração das Fortalezas da Ilha de Santa Catarina: Depoimentos” e o livro “As defesas da Ilha de Santa Catarina e do Rio Grande de São Pedro em 1786″.
O evento contou com a presença da presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Kátia Santos Bogéa, das deputadas federais Carmen Zanotto e Angela Amin, da secretária de Cultura e Arte (SeCArte) da UFSC, Maria de Lourdes Alves Borges, do representante da Coordenadoria das Fortalezas da Ilha de Santa Catarina (CFISC), Roberto Tonera, da presidente da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), Ana Lucia Coutinho, do atual reitor da UFSC, Ubaldo Cesar Balthazar, e dos ex-reitores Bruno Rodolfo Schlemper Junior, Antônio Diomário de Queiroz e Lúcio José Botelho.
Na abertura da sessão, o senador Esperidião Amin destacou a relevância das fortificações como cenário histórico e na preservação de nossa memória coletiva. “As fortalezas guardam muitas histórias, não só do Brasil Colônia, mas também do período da proclamação da República. Foram palco de momentos decisivos na história. Em 1777, os espanhóis as tomaram, e também a Ilha de Santa Catarina, e só no ano seguinte, com a assinatura do tratado de Santo Ildefonso, devolveram-nas à Coroa Portuguesa. Mais de um século depois, na Revolução Federalista, o Forte de Anhatomirim foi usado como local de prisão e execução de muitos opositores do recém-instaurado governo republicano”, lembrou o senador.
Em seu discurso, Ubaldo enalteceu os personagens que foram essenciais para o êxito do trabalho da Universidade nessas quatro décadas. “Estar aqui é prestar os nossos mais sinceros agradecimentos a todas as pessoas e instituições que fizeram parte dessa história. Temos o papel de preservar nossas memórias, enaltecer nossos feitos, compartilhar nossas ações, no sentido de construir uma nação em que possamos todos nos orgulhar, um país em que a educação, o conhecimento e a ciência sejam sempre preservados”, disse o reitor da UFSC. “Que saibamos restaurar nossas ruínas, reconstruir relações, edificar fortalezas que nos protejam da intolerância e do ódio, e que possamos deixar nosso legado em defesa da vida”, completou.
O arquiteto da UFSC Roberto Tonera, que trabalha com os monumentos há cerca de trinta anos, aproveitou a oportunidade para ressaltar o valor das fortificações para o conhecimento. “A importância das fortalezas dentro da área acadêmica vai muito além da arquitetura, vai muito além das histórias, vincula-se inclusive à saúde (…). Hoje é uma das maiores atrações turístico-culturais do Sul do Brasil. Podemos dizer que, nesses quarenta anos, nós saímos das ruínas a ‘quase’ Patrimônio Cultural da Humanidade”, destacou na ocasião.
Confira a íntegra da sessão especial no Senado
Do sistema defensivo às ruínas
Construídas pela Coroa Portuguesa a partir de 1739, com a função de guarnecer a entrada da Barra Norte da Ilha, as fortalezas foram projetadas por José da Silva Paes, brigadeiro, engenheiro militar e primeiro governador da capitania de Santa Catarina. As obras deram início ao sistema defensivo da Ilha, que posteriormente foi ampliado com outras dezenas de fortificações, como fortes, baterias e trincheiras. Santa Catarina chegou a somar cerca de quarenta construções similares até o início do século XIX. Porém, ainda na primeira metade daquele século, a maioria das construções já havia desaparecido, por arruinamento, abandono ou demolição.
Mesmo o tombamento como patrimônio histórico brasileiro, em 1938, pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan) – atual Iphan – não foi suficiente para assegurar a preservação ou a recuperação dessas construções. As fortificações que permaneceram ativas encontravam-se em péssimo estado de conservação; o sistema defensivo amargava dias de descaso, de modo que algumas das construções estavam desmoronando e totalmente cobertas por mato.
Na década de 1970, o Iphan começou as obras de restauro na Fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim e, ao fim da década, a UFSC assumiu a tutela do monumento por meio de um convênio assinado entre a Universidade, o Iphan e a Marinha do Brasil. A fortaleza foi aberta à visitação pública em 1984. Sete anos mais tarde, as fortalezas de Santo Antônio de Ratones e São José da Ponta Grossa passaram à guarda da UFSC, tendo sido abertas ao público em 1992.
Candidatura a Patrimônio Mundial
As edificações de Anhatomirim, hoje em área de jurisdição do município de Governador Celso Ramos, e de Ratones, pertencente a Florianópolis, atualmente integram o Conjunto de Fortificações do Brasil, candidato a Patrimônio Mundial. Composto por 19 fortificações situadas em 10 estados brasileiros, o conjunto está entre os bens que integram a Lista Indicativa brasileira a Patrimônio Mundial da Organização da Unesco. O grupo representa as construções defensivas implantadas no território nacional, nos pontos que serviram para definir as fronteiras marítimas e fluviais que resultaram no maior país da América Latina: o Brasil. A proteção, a conservação e a gestão das fortificações serão pilares a serem considerados no processo de avaliação da candidatura.
Além da UFSC, compõem o comitê de candidatura: o Iphan, a Marinha do Brasil, a Secretaria do Patrimônio da União, o Governo do Estado de Santa Catarina, os municípios de Florianópolis e de Governador Celso Ramos, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a Associação Catarinense de Conservadores e Restauradores, a Convention Bureau e a Associação Náutica Brasileira (Acatmar).
Coordenadoria das Fortalezas da UFSC
As fortalezas estão hoje sob a responsabilidade da CFISC, antigo “Projeto Fortalezas”, setor vinculado à SeCArte. Os três monumentos encontram-se abertos à visitação pública para a realização de atividades de cultura, educação, turismo e lazer. No ano passado, a Universidade registrou 196 mil visitantes nas três unidades.
Localizada na Praia do Forte, a Fortaleza de São José é a única fortificação que pode ser acessada por via terrestre. Já a Fortaleza de Santa Cruz e a Fortaleza de Santo Antônio ficam localizadas, respectivamente, nas ilhas de Anhatomirim e Ratones Grande, na Baía Norte da Ilha de Santa Catarina. A UFSC não possui serviço de traslado às ilhas, mas disponibiliza em seu site as empresas que prestam o serviço de transporte náutico na região. Os monumentos podem ser visitados todos os dias da semana das 9h às 17h, com exceção da Fortaleza de São José da Ponta Grossa, que fecha entre 12h e 13h. Os ingressos custam R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia-entrada), e a renda obtida com a taxa de visitação é utilizada na manutenção do local.
No endereço eletrônico da Coordenadoria das Fortalezas é possível fazer um passeio virtual e saber mais sobre a estrutura de visitação e a história de cada uma das edificações salvaguardadas pela instituição. Informações adicionais sobre essas e as demais fortificações de Santa Catarina, do Brasil e de outros países podem ser acessadas na página fortalezas.org – “Banco de Dados Internacional Sobre Fortificações”, plataforma digital também desenvolvida e gerenciada pela UFSC e chancelada pelo Comitê Científico Internacional sobre Fortificações e Patrimônio Cultural Militar (Icofort), órgão ligado ao International Council on Monuments and Sites (Icomos).
A Coordenadoria das Fortalezas está localizada no pavimento térreo do Centro de Cultura e Eventos da UFSC, e o contato com o setor pode ser feito pelo e-mail e pelo telefone (48) 3721-8302. A Coordenadoria também está nas redes sociais: facebook.com.br/fortalezas.ufsc e instagram.com/fortalezasdaufsc.
(UFSC, 21/11/2019)
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