Professores e alunos de Engenharia Mecânica da UFSC reviram egressos do curso que atualmente trabalham em empresas ligadas à produção de energia eólica no Workshop em Climatologia e Previsão Eólica, realizado no dia 2 de setembro. Representantes de empresas como Voltalia, Camargo Schubert e WEG compartilharam experiências após ouvir as apresentações sobre os resultados obtidos no projeto de P&D executado em uma parceria entre a empresa Atlantic Energias Renováveis, o Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), e a Universidade – envolvendo os Departamentos de Física e Engenharia Mecânica, o último por meio do Grupo Eólica do Laboratórios de Engenharia de Processos de Conversão e Tecnologia de Energia (Lepten).
“O segredo da pesquisa é a cooperação nacional e internacional”, disse o professor Júlio César Passos, do Grupo Eólica do Lepten, que coordena projetos de P&D relacionados à energia eólica desde 2002. O projeto UFSC-IFSC-Atlantic, contratado em 2017, resultou em técnicas de previsão de geração eólica para horizontes de 72 a 120 horas, aplicadas a dois parques comerciais em operação: Morrinhos, na Bahia, cujo terreno é considerado complexo, e Santa Vitória do Palmar, no Rio Grande do Sul, em terreno plano. Foram desenvolvidos procedimentos com o emprego de modelos de previsão global, de mesoescala e análise de redes neurais, bem como estudos que permitam estabelecer a existência de correlações entre os fenômenos atmosférico-oceânicos El Niño e La Niña, e os regimes de vento no sul do Brasil bem como dos ventos alísios, no nordeste brasileiro.
“Não é fácil achar quem tenha experiência nesta área,” pondera o engenheiro Eduardo Dias, da Atlantic, dizendo-se satisfeito com os resultados dos estudos conjuntos obtidos pela equipe multidisciplinar. Os códigos de previsão desenvolvidos em dois anos estão sendo adotados pela empresa que atua também na implantação e operação de projetos de geração de energia elétrica proveniente de fontes renováveis. Sediada em Curitiba a Atlantic recebeu em 2019, pelo segundo ano consecutivo, o Certificado de Destaque Ambiental – Selo Verde, conferido pelo Jornal do Meio Ambiente do Estado de São Paulo por suas boas práticas sustentáveis.”Um dos diferenciais da Atlantic é investir em P&D mesmo sem ser obrigada (pela Aneel), ressaltou a engenheira Mayara Miqueletti, também presente ao Workshop.
Duas outras engenheiras que representaram empresas no evento estudaram no Centro Tecnológico da UFSC. Mônica Machuca falou sobre Energias Renováveis na Voltalia, empresa francesa em que trabalha desde o fim do mestrado na universidade catarinense. Fundada em 2005 e atualmente ativa em 20 países, a Voltalia é provedora de serviços na produção de energia renovável a partir de energia solar, eólica, hídrica e biomassa (combinando soluções de armazenamento). Isadora Limas Coimbra atua na Camargo Schubert, cuja equipe já percorreu mais de 60 mil quilômetros no país em busca de dados que orientem a instalação de aerogeradores nos locais mais favoráveis à geração deste tipo de energia renovável. A Camargo dá consultoria a mais de 50% dos produtores de energia eólica no Brasil e contratou Isadora ao final do mestrado dela no Lepten, no qual a engenheira também fez mestrado após ter sido bolsista de Iniciação Científica (IC). Mônica também se interessou por aquele tipo de energia renovável quando obteve bolsa de IC no mesmo laboratório do Departamento de Engenharia Mecânica.
A formação de recursos humanos qualificados tem contribuído para a crescente participação da energia eólica na matriz energética brasileira, que varia de 5 a 7% da total. Mais importante, é a fonte que mais tem crescido nos últimos anos, o que torna o campo promissor para projetos de P&D. Um novo aerogerador foi apresentado no evento de segunda-feira pelo engenheiro da WEG, João Paulo Gualberto da Silva. Com ele, a empresa de Jaraguá do Sul produzirá energia eólica a um custo 27% inferior ao obtido com seus atuais carros-chefes, os aerogeradores AGW 2.1/110. Outra vantagem é sua capacidade de produção, 85% superior à energia gerada com os modelos mais eficientes da empresa. Curiosidade: o novo aerogerador tem tamanho comparável a cinco estátuas do Cristo Redentor (RJ) empilhadas.
O workshop foi encerrado com apresentações de três professores da UFSC – Paulo Wendhausen, Felipe Pimenta a Alexandre Trofino – que pesquisam temas correlatos à energia eólica, incluindo o projeto UFSCKite, pioneiro e único na América Latina. Estabelecido no final de 2012, ele vem desenvolvendo a tecnologia AWE em âmbito nacional para que ela possa ser inserida na matriz energética, beneficiando a sociedade brasileira por meio da geração de energia elétrica renovável a um custo mais baixo que o atual e em um número maior de localidades.
(UFSC, 04/09/2019)
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