Estamos acostumados a associar economia e indústria a coisa séria: fábricas cinzas e conglomerados e siglas infinitas. É algo a se reclamar quando falta dinheiro e a temer quando a crise chega. É difícil ver economia na música, na peça de teatro, no filme cabeça e no de comédia pastelona e no jogo de celular para matar o tempo. Assim como a cultura, o entretenimento tem um lugar menor na nossa visão de importância, como se fossem menores que as “coisas sérias” da vida, como pagar boleto e declarar o imposto de renda.
Mesmo assim, passamos 145 dias do ano na internet, passamos horas discutindo finais de novelas e séries e outras muitas ouvindo música. Um programa culinário de tv mudou a demanda por produtos de uma cadeia toda de agricultura, as redes sociais são os novos canais de venda, e youtubers são nossos novos milionários. Muito prazer, isso tudo é economia, economia criativa. Mas afinal, o que é economia criativa?
Segundo British Council, a definição de economia criativa acompanha as mudanças e variações das tendências culturais e econômicas, e por isso está em discussão todo o tempo. O que a maioria dos estudiosos concordam é que economia criativa é o conjunto de atividades econômicas que envolvem conhecimento e criatividade, com estreita relação com tecnologia e propriedade intelectual. O termo pode até parecer novo, mas as atividades que fazem parte da economia criativa estão presentes nos setores mais tradicionais.
Por exemplo, o setor têxtil, é impulsionada pela indústria da moda, sendo uma parte dessa cadeia e não ao contrario. Os produtos do setor de têxtil só são vendidos se houver o setor de moda, que cria os modelos para serem produzidos.
Em meados de 2004, a economia criativa chegou no Brasil como uma discussão. O termo se popularizou ao longo dos anos puxado pelo movimento de startups e empresas de tecnologia que fazem parte do setor. Hoje, possui cursos específicos de economia criativa como o do Sebrae, linhas de fomento e investimento: grandes bancos validam projetos relacionados à economia criativa com investimentos, como o BNDES Fundo Cultural – Apoio ao Patrimônio Cultural Brasileiro, por exemplo, apoia projetos de preservação e revitalização do patrimônio cultural brasileiro.
Fazendo uma relação com a economia internacional, os países mais desenvolvidos voltaram sua atenção para as possibilidade da economia criativa quando continuou aquecida e em crescimento em meio a crise mundial em 2010. Em 2015, a economia criativa no Brasil representou 2,5 % do PIB, crescendo mais que a própria economia. Diante de todo esse crescimento, por que as áreas que compõem esse setor tão pungente e significativo para a economia nacional se veem em constante defesa de sua importância? Do patinete que sai da rua à crise no audiovisual, por que é tão difícil para o Brasil apostar na economia criativa?
Com o surgimento de novas mídias e modelos econômicos falidos, vieram também novas formas de economia. A economia criativa faz parte dessa nova leva econômica, que tem o conhecimento como valor, e não um ativo físico. Essa é a grande vantagem: num mundo onde a globalização se consolidou e produtos estão cada vez mais parecidos, economias que giram em torno de trabalhos que precisam de criatividade e trabalhos mais “humanos” são cada vez mais necessárias.
Esse movimento se choca com premissas antigas e antiquadas, e nasce uma necessidade de uma nova forma de pensar, para gerar bens e consumo para ser agente da economia criativa. A palavra da moda é inovação e, para inovar, é preciso uma cultura real, diversidade e a vontade de quebrar paradigmas.
(NSC, 18/06/2019)
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