O aplicativo Cataki, que conecta catadores independentes com cidadãos e empresas que querem descartar materiais recicláveis, venceu o prêmio de inovação do fórum Netexplo, concedido a projetos de tecnologia com maior impacto social e nos negócios.
“Lutamos pelo reconhecimento dos catadores de lixo, que são verdadeiros agentes ambientais. O app é uma forma alternativa de aumentar a renda dos catadores com um benefício ambiental sem preço”, disse o grafiteiro e ativista Mundano, idealizador do Cataki, na cerimônia de premiação na sede da Unesco, em Paris.
O aplicativo sem fins lucrativos funciona como um “tinder da reciclagem”, que permite um “match” entre cidadãos comuns que querem descartar resíduos e os catadores que estão mais próximos do local da coleta. Desde julho de 2017, quando o Cataki foi lançado, 300 catadores de mais de 30 cidades brasileiras se registraram no aplicativo.
“Os catadores são cadastrados num banco de dados e começam a receber ligações dos usuários do app que querem descartar móveis, eletrônicos, vidro e papéis”, explica Breno Castro Alves, coordenador do projeto. Pelo aplicativo, é possível ver o perfil dos catadores mais próximos e fazer uma ligação para combinar o horário e local da coleta, bem como o preço do serviço.
“Como se trata de uma população muito vulnerável que ainda sofre com a exclusão digital, nós pensamos num conceito colaborativo que não demandaria muita tecnologia e sem nenhuma barreira de entrada”, acrescenta Alves. “O Cataki propõe um contato real, permitindo que pessoas de diferentes classes sociais conversem sobre um problema comum.”
O aplicativo Cataki, que custou R$ 160 mil, foi uma das dez inovações tecnológicas globais selecionadas pelo Netexplo, observatório independente de estudos sobre o impacto de tecnologias na sociedade e nos negócios, em parceria com a Unesco. Ao todo, dois mil projetos foram avaliados. E o Cataki foi o grande vencedor.
Marcus Goddard, diretor associado do Observatório Netexplo, destaca que o aplicativo ajuda o catador a fazer negócio, ter uma renda e ganhar reconhecimento. “É uma economia informal paralela que garante a reciclagem de toneladas de lixo no Brasil. Apesar de os catadores serem essenciais, eles não são reconhecidos pelo seu trabalho”, disse ele em entrevista à DW Brasil.
“O Cataki representa um uso muito inteligente da tecnologia, com um grande alcance. É um aplicativo muito simples para conectar pessoas, com uma grande relevância social por ser um instrumento de integração entre diferentes classes sociais”, avalia.
Rede de colaboração
Depois de ter se registrado no aplicativo, o catador Cláudio, de São Paulo, não tem dado conta de tanta demanda. “Uma moça me chamou para pegar uma máquina de lavar. Depois, me chamou outra vez para pegar uma porta. Um rapaz para quem ela me indicou me chamou para fazer um carreto. Depois, o dono de uma loja de ar-condicionado me deu todo o restante de chaparia. Só não pego mais trabalho, porque não estou dando conta de tantos pedidos”, relata.
Cláudio diz que o Cataki aumentou ainda mais a sua responsabilidade. “As pessoas têm me dado muito espaço para trabalhar. Tento atender os clientes da melhor maneira possível”, diz. “Muitas coisas que aconteceram na minha vida fecharam muitas portas, mas o Cataki começou a me dar alegria de fazer certas coisas, melhorou minha condição financeira. Todos estão dando a mão para mim e eu estou conseguindo seguir em frente diante de tantos problemas.”
O aplicativo também tem criado uma rede colaborativa. “Quando surge alguma coleta muito distante, eu repasso para um colega. Um ajuda o outro. Temos que ser unidos”, afirma a catadora Fátima, também de São Paulo.
“Nessa troca entre eles, nós descobrimos que em São Paulo tem uma catadora vendendo garrafa pet a 25 centavos, enquanto outro catador oferece o produto a R$ 1,50. Com essa informação, a catadora passou a ter um comprador que paga seis vezes mais do que o anterior. Esse é um resultado real da rede colaborativa que eles próprios estão formando”, destaca Alves.
Ideia surgiu da demanda
O projeto foi idealizado pelo grafiteiro Mundano, fundador do movimento Pimp my Carroça – um projeto para tirar catadores de materiais recicláveis da invisibilidade, com intervenções artísticas nas carroças, e que ganhou atenção global.
O app foi resultado do contato intenso de Mundano com os catadores. “Muitas pessoas vinham me pedir indicação para a coleta, então eu virei um secretário dos catadores, passando contatos. A partir dessa demanda, antes de o Uber ser lançado no Brasil, tive a ideia de criar a plataforma para facilitar esse ‘match’ entre catadores e quem precisa do serviço deles. Mas não somos o Tinder, somos o Cataki”, enfatiza.
Quando a rede de catadores for maior, os usuários poderão compartilhar fotos e vídeos do que têm em casa e informar o endereço e horário desejado para a coleta. Os catadores mais próximos, que terão foto e informação de perfil, poderão então escolher se aceitam ou não fazer a coleta e sugerir um valor pelo trabalho. Essa nova versão do aplicativo ainda será desenvolvida.
“O grande desafio não é apenas criar coisas incríveis com tecnologia, mas como torná-las populares e acessíveis para uma camada com menos privilégios, à margem da sociedade. Essa é uma porta de entrada para incluí-los na cadeia de negócios”, observa Mundano. “Se formos esperar que o governo brasileiro ou as empresas paguem pelo serviço dos catadores, não vamos ter resultados. Eles fazem um serviço público de coleta e limpeza pública e precisam ser reconhecidos por isso.”
O serviço está mais estruturado em São Paulo e Recife. Mais recursos são necessários para chegar a outras regiões do país, mapear catadores e ampliar a rede. Com o reconhecimento internacional da iniciativa, Mundano e Alves esperam conseguir mais apoiadores.
Vestidos com gravata de chita e camisetas de blocos de carnaval, os coordenadores do Cataki celebraram a premiação com confetes feitos a partir de material reciclável, apesar do frio de 1 grau Celsius e a neve fina em Paris.
“Uma coisa de valor e que os catadores precisam é de atenção. Sentar junto e conversar. Ter alguém que te trata como pessoa e não como um ser invisível já é um ganho social muito importante. Esse é um ganho de rede e não de tecnologia”, disse Breno Castro Alves.
(G1, 15/02/2018)
Cookie | Duração | Descrição |
---|---|---|
cookielawinfo-checkbox-analytics | 11 meses | Este cookie é definido pelo plugin GDPR Cookie Consent. O cookie é usado para armazenar o consentimento do usuário para os cookies na categoria "Analíticos". |
cookielawinfo-checkbox-necessary | 11 meses | Este cookie é definido pelo plugin GDPR Cookie Consent. Os cookies são usados para armazenar o consentimento do usuário para os cookies na categoria "Necessários". |
viewed_cookie_policy | 11 meses | O cookie é definido pelo plugin GDPR Cookie Consent e é usado para armazenar se o usuário consentiu ou não com o uso de cookies. Ele não armazena nenhum dado pessoal. |
Cookie | Duração | Descrição |
---|---|---|
collect | sessão | Usado para enviar dados ao Google Analytics sobre o dispositivo e o comportamento do visitante. Rastreia o visitante através de dispositivos e canais de marketing. |
CONSENT | 2 anos | O YouTube define este cookie através dos vídeos incorporados do YouTube e regista dados estatísticos anônimos. |
iutk | 5 meses 27 dias | Este cookie é utilizado pelo sistema analítico Issuu. Os cookies são utilizados para recolher informações relativas à atividade dos visitantes sobre os produtos Issuuu. |
_ga | 2 anos | Este cookie do Google Analytics registra uma identificação única que é usada para gerar dados estatísticos sobre como o visitante usa o site. |
_gat | 1 dia | Usado pelo Google Analytics para limitar a taxa de solicitação. |
_gid | 1 dia | Usado pelo Google Analytics para distinguir usuários e gerar dados estatísticos sobre como o visitante usa o site. |
Cookie | Duração | Descrição |
---|---|---|
IDE | 1 ano 24 dias | Os cookies IDE Google DoubleClick são usados para armazenar informações sobre como o usuário utiliza o site para apresentá-los com anúncios relevantes e de acordo com o perfil do usuário. |
mc .quantserve.com | 1 ano 1 mês | Quantserve define o cookie mc para rastrear anonimamente o comportamento do usuário no site. |
test_cookie | 15 minutos | O test_cookie é definido pelo doubleclick.net e é usado para determinar se o navegador do usuário suporta cookies. |
VISITOR_INFO1_LIVE | 5 meses 27 dias | Um cookie colocado pelo YouTube para medir a largura de banda que determina se o usuário obtém a nova ou a antiga interface do player. |
YSC | sessão | O cookie YSC é colocado pelo Youtube e é utilizado para acompanhar as visualizações dos vídeos incorporados nas páginas do Youtube. |
yt-remote-connected-devices | permanente | O YouTube define este cookie para armazenar as preferências de vídeo do usuário usando o vídeo do YouTube incorporado. |
yt-remote-device-id | permanente | O YouTube define este cookie para armazenar as preferências de vídeo do usuário usando o vídeo do YouTube incorporado. |
yt.innertube::nextId | permanente | Este cookie, definido pelo YouTube, registra uma identificação única para armazenar dados sobre os vídeos do YouTube que o usuário viu. |
yt.innertube::requests | permanente | Este cookie, definido pelo YouTube, registra uma identificação única para armazenar dados sobre os vídeos do YouTube que o usuário viu. |