A missão internacional organizada pela Associação Empresarial de Florianópolis (ACIF) e da associação FloripAmanhã, com a participação do Ministério do Turismo (MTur) conheceu alternativas em Copenhague, na Dinamarca, para a requalificação de espaços públicos nas grandes cidades brasileiras. Fizeram parte da comitiva o Ministro do Turismo, Vinicius Lummertz, o diretor do IPUF (Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis), Michel Mittmann e um grupo de arquitetos, empresários, profissionais liberais, representantes do movimento Floripa Sustentável. A missão começou em 17 de agosto e retornou ao Brasil na última semana, após cinco dias de atividades programadas.
Na avaliação de integrantes da missão, Florianópolis pode se beneficiar de algumas das soluções e equipamentos apresentados para resolver problemas como a mobilidade urbana e melhorar a qualidade de vida de seus habitantes. Em depoimento ao portal FloripAmanhã (leia no final da matéria) o Diretor do IPUF, Michel Mittmann, defende que Florianópolis tem diversas iniciativas alinhadas com o conceito de cidades para pessoas em mobilização e pode se tornar um laboratório para a inovação em planejamento urbano. Um projeto piloto sobre revitalização será encaminhado ao Ministério do Turismo.
Com 1,2 milhão de habitantes, Copenhague vem se modificando nas últimas três décadas para priorizar os ciclistas e pedestres no contexto da mobilidade urbana em detrimento dos carros. Entre os exemplos apresentados, a comitiva do MTur conheceu um estacionamento transformado em quadras de esportes, o estreitamento de uma avenida para ceder espaço ao tráfego das bicicletas e um cemitério que virou parque. O governo local apresentou as alternativas como estímulos à ocupação do espaço público, ao desenvolvimento do comércio e à representatividade de Copenhague entre as melhores cidades do mundo para se viver.
A chefe do Planejamento Urbano de Copenhague, Tina Sabby, falou à comitiva brasileira sobre os princípios gerais que devem basear a requalificação de cidades em qualquer parte do mundo, mesmo diante de diferenças culturais e de clima. “Basta levar em consideração as especificidades locais. No fundo, todos querem usar os espaços públicos e cabe aos governos e iniciativa privada o desafio de facilitar essa interação.”
As mudanças estruturais começam pela forma de pensamento. “A pergunta-chave é: como o seu prédio pode ajudar as pessoas a ficarem fora dele?”, levantou Sabby. Ela explicou que a Prefeitura de Copenhague estabeleceu uma meta para que as pessoas ficassem 20% mais tempo fora de casa. Para medir o objetivo, foram estabelecidos indicadores relacionados a uso de espaços públicos, ciclovias e praças. Atualmente, 41% da população vai para o trabalho de bicicleta em Copenhague.
Os visitantes brasileiros puderam ouvir durante a viagem os argumentos de Jam Gehl, considerado um dos maiores urbanistas da atualidade e autor do livro Cidades para pessoas. Ele estuda o comportamento humano em cidades há mais de 40 anos. O arquiteto apontou a relação direta entre a qualidade de vida em cidades como Melbourne, Zurique, Copenhague e Vancouver e seus esforços para privilegiar o acesso dos pedestres e ciclistas em detrimento dos carros.
Gehl defendeu que as ações podem ser replicadas em qualquer lugar do mundo “São intervenções baratas que levam em consideração apenas as necessidades dos seres humanos, que são animais sociáveis e precisam andar para estar saudáveis”.
No encontro, o diretor do IPUF, arquiteto urbanista Michel Mittmann, teve a oportunidade de falar sobre a organização espacial de Florianópolis e algumas das estratégias de atuação do planejamento urbano em Florianópolis. Foram discutidas metodologias e diretrizes de planejamento e gestão urbana de Copenhague em um paralelo cidade de Florianópolis. Os especialistas destacaram que o uso do espaço público reduz outros problemas das cidades, como a violência.
O modelo de gestão do equipamento turístico de Copenhague, vinculado ao Ministério do Negócio e Crescimento, também foi observado pelo MTur durante a visita. “É uma visão que retrata a importância econômica que o setor tem para o país”, avaliou o ministro Vinicius Lummertz.
O fundo que mantém o principal órgão de turismo da capital dinamarquesa é público-privado, gerido por um comitê com seis integrantes do poder público e sete de iniciativa privada. O colegiado aprova um plano anual para melhoria da experiência turística e mede a satisfação de visitantes e moradores. Em Copenhague, 80% dos moradores apoiam a atividade turística.
Dos US$ 20 milhões disponibilizados em 2017 pelo fundo, US$ 4 milhões foram do governo, enquanto setores como hoteleiro e o aeroportuário investiram o restante. Para Lummertz, no Brasil ainda existe incompreensão sobre a importância econômica do turismo. “O setor de viagens gera 10% do PIB global. É ele que permite o trânsito de pessoas, de ideias e o intercâmbio de experiências por meio da vivência, o que acelera o processo de desenvolvimento global”, destacou.
“A visita técnica nos permitiu conhecer as qualificações que estão sendo feitas em diversos pontos da cidade, em uma política contínua de valorização dos espaços públicos que se aplica em Copenhague. Também pudemos perceber um sistema cicloviário de forma mais ampla, observando alguns detalhes e nos encaminhando a um paralelo para o que temos proposto para a cidade de Florianópolis. Percebemos que as tendências praticadas pelo IPUF têm alinhamento com o que é proposto nessas cidades que destacam o transporte coletivo, a valorização do pedestre e do ciclista.
A viagem nos deu mais segurança e para encurtar caminhos na nossa experiência. Um dos pontos fundamentais discutidos foram as métricas que são estabelecidas sobre a qualidade e a usabilidade do espaço público e que podemos começar a observar também na cidade de Florianópolis. Não são métricas convencionais como tráfego de veículos, mas partem do conceito de cidades para pessoas, em que todo o planejamento de modais parte da percepção humana, de tornar os espaços favoráveis à utilização.
A aproximação com o escritório do urbanista Jan Gehl pode gerar parceria de projetos, já que o ideário é compartilhado, mas as ferramentas e conjuntos de dados utilizados é o que ainda não temos e eles têm. Isso pode ser operacionalizado em parceria com o Ministério do Turismo e o Movimento Floripa Sustentável, a fim de termos um tipo de laboratório de inovação na cidade sobre o desenvolvimento de espaços públicos. Devemos pensar, por exemplo, na infraestrutura de turismo voltada não para os visitantes, mas para os habitantes locais.
Também observamos na visita as possibilidades para melhorar a ocupação da área Leste do Centro, onde já se desenvolve um distrito criativo (Centro Sapiens), mas é necessário encontrar melhores alternativas de uso, revisão da ocupação dos terrenos, valorizar o patrimônio histórico também no sentido do uso além da recuperação.
Estamos avaliando como a parceria poderia ser aliada a nossa agenda da cidade, que já conta com programas de valorização do pedestre: regularização de calçadas dentro do projeto Calçada Certa; o Mais pedestre, que reduz em alguns pontos o espaço de automóveis; e o programa Mais Pedal, sobre melhoria do equipamento público para estimular o uso da bike. Temos pregado com estes projetos a ressignificação dos lugares antes dos investimentos maiores de longo prazo.
A implementação de políticas e propostas envolve mudança de paradigmas como resistência ao uso de bicicletas. Isto depende de integração e envolvimento entre as entidades, que é o que tentamos abraçar a partir do IPUF, para termos planos urbanos factíveis.
Fontes: Portal do Ministério do Turismo (MTur) e IPUF
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