Por Luiza Stein*
“Agrupamentos de pessoas ou organizações com objetivos ou características comuns”.
De forma simples, muitos conceitos de comunidade encontrados em várias fontes, remetem à este resumo. Porém, por trás da formação e principalmente, do desenvolvimento de uma comunidade, existem diversos fatores que vão além da reunião em prol de objetivos comuns ou da localização geográfica e que devem ser colocados em perspectiva. Por que algumas comunidades geram riquezas e trazem qualidade de vida para seus membros, mais do que outras? Por que algumas regiões do planeta são vistas como mais prósperas para se empreender, por exemplo?
Muitos estudos e trabalhos que atualmente tentam responder essas perguntas recaem sobre aspectos como ambiente, fomento ao empreendedorismo e capital social. No contexto da tecnologia e da inovação, os habitats (ambientes) são a base onde tudo acontece. Lugares onde as pessoas se encontram, dialogam, colaboram, onde há conhecimento e acesso a inúmeras facilidades. As iniciativas de fomento e desenvolvimento também exercem influência muito importante sobre o sucesso da comunidade.
Falando do setor de tecnologia em Santa Catarina, por exemplo, programas de incubação, aceleração, inovação aberta, oportunidades de pesquisa, apoio governamental e investimentos, criam uma rede que agrega um imenso valor à comunidade de tecnologia do estado e a diferencia positivamente de outras.
A comunidade é formada por pessoas e são elas que dão vida e sentido a estes ambientes, desenvolvendo o fomento e fazendo as oportunidades emergirem conforme suas necessidades e anseios. É aqui que chegamos ao capital social da comunidade. Sem trabalhar as pessoas e a cultura, o ambiente vira só um espaço físico, e as oportunidades em pouco resultam.
A escritora e urbanista Jane Jacobs, a partir de seus estudos sobre o cotidiano e desenvolvimento de comunidades em grandes cidades americanas, chegou a conclusões de que as pessoas precisam interagir umas com as outras nos ambientes, na vida pública, para gerar a energia suficiente para promover seu próprio desenvolvimento e o desenvolvimento da sua localidade. Em outras palavras, para desenvolver uma comunidade é preciso interação, apoio mútuo e colaboração. Ninguém cresce e se desenvolve sozinho. O produto das interações humanas, refletidos principalmente nos laços de confiança e nos vínculos entre as pessoas, são o que se entende por capital social, e que potencializa o desenvolvimento das próprias pessoas, de seus negócios e da sociedade.
Sem trabalhar as pessoas e a cultura, o ambiente vira só um espaço físico, e as oportunidades em pouco resultam.
Para a Associação Catarinense de Tecnologia (Acate), trabalhar a comunidade, a partir do associativismo e da colaboração entre as empresas, é o primeiro passo. Não é a toa que há 32 anos, grande parte das ações e programas empreendidos pela associação visam antes de mais nada, conectar pessoas para gerar negócios.
Um dos exemplos mais claros que trabalham essa essência, é o Programa Verticais de Negócios Acate, que reúne cerca de 300 empresas de tecnologia em 12 grupos, cada qual focado em um setor econômico, uma Vertical de Negócio. Desta forma, a Vertical Saúde, por exemplo, reúne periodicamente empresas que desenvolvem soluções tecnológicas para o setor de saúde. Juntas, essas empresas discutem assuntos pertinentes ao mercado e suas demandas, e sobre como em conjunto conseguem atendê-las, desenvolvendo as empresas e fomentando o ambiente de negócios.
A participação nos grupos que é feita de forma voluntária, acaba por aguçar nos participantes o senso de coletivo, de pertencimento e de responsabilidade dentro deste grupo. Apenas envolve-se quem de fato busca apoio na coletividade e entende que também é preciso se doar para receber. E quanto melhor e mais sólidos estiverem os parceiros e o mercado, mais oportunidades a empresa encontrará para crescer seu negócio. A pequena comunidade, aqui representada pela Vertical, é um meio de relacionamento sólido, para o qual a empresa contribui, e também confia em seus pares para auxiliar em seu desenvolvimento.
Os grupos focais estão conectados diretamente uns aos outros, de modo a complementarem esforços e gerar valor para toda a comunidade de tecnologia. A Acate então, busca a partir de Centros de Inovação (ambientes), programas de fomento, conexão com redes de parceiros, e principalmente, a partir da conexão entre as pessoas, desenvolver a comunidade catarinense de forma colaborativa e buscando ampliar o valor social.
*Luiza Stein é coordenadora do programa Verticais de Negócios da ACATE
(SCInova, 10/07/2018)
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