Da Coluna de Carlos Damião (ND, 14/07/2018)
A decisão do juiz federal Diógenes Tarcísio Marcelino Teixeira, da 3ª Vara Federal em Florianópolis, divulgada na quinta-feira pelo ND, vai dar mais velocidade às obras da Ponte Hercílio Luz, uma vez que a desapropriação de uma área na parte continental possibilitará a realização de uma obra fundamental – a construção da nova base de ancoragem das barras de olhal. A questão judicial se arrastou nos últimos três anos, até que a solução final foi despachada pelo magistrado.
O novo ritmo dos trabalhos deve aparecer nos próximos três meses, embora outros serviços necessários à reabilitação da ponte continuem sendo realizados normalmente. Visitar o canteiro de obras é uma experiência fascinante nestes tempos de paralisia econômica do Brasil. Ali está a demonstração do que a força de trabalho é capaz de produzir quando há interesse do Estado em investir em obras públicas. Ver o movimento dos profissionais em diversos pontos do monumento comprova o poder transformador do trabalho, que é base do desenvolvimento econômico em qualquer país.
São mais de 300 profissionais envolvidos nas diversas frentes da obra. Do pessoal administrativo e de segurança a operários e técnicos, operadores de gruas, auxiliares, engenheiros, consultores e fiscais. Todos comprometidos com o cronograma estabelecido em comum acordo entre a empresa responsável, a gigante portuguesa Teixeira Duarte, e os gestores do Deinfra (Departamento Estadual de Infraestrutura). Nesse cronograma ainda não há um prazo de conclusão estabelecido, porque a empresa e o governo dependiam da solução judicial para o último obstáculo no caminho das obras, justamente a desapropriação da área de 103 metros quadrados sob a cabeceira continental. Com a liberação do imóvel ainda neste mês de julho será possível projetar o mês certo de 2019 para a entrega da ponte reabilitada para o uso. “A partir de agora, o foco passa a ser o término dos trabalhos, porque agora temos um horizonte”, disse o secretário de Estado da Infraestrutura, engenheiro Paulo França, aos participantes da comissão de acompanhamento das obras, reunidos no canteiro na quinta-feira, dia 12/7.
França observou que a preocupação da sociedade em relação ao andamento das obras é plenamente justificável. “Não é uma obra qualquer, não é uma obra convencional; além do ganho para a mobilidade urbana, é um monumento que representa o Estado”, enfatizou.
Um dos membros da comissão, o engenheiro mecânico Carlos Bastos Abraham, vice-presidente da FNE (Federação Nacional de Engenheiros) e vice-presidente do Senge-SC (Sindicato dos Engenheiros de Santa Catarina), acompanha os trabalhos desde o início, e sempre reforça a dimensão do desafio, que é testemunhado por engenheiros de diferentes partes do Planeta por meio de aplicativos da internet. “É a única obra do gênero no mundo na atualidade”, destaca o engenheiro. “É um trabalho singular da engenharia, por isso desperta tanto interesse, porque é um ‘case’ fundamental para estudos técnicos e tecnológicos”.
Além da parte pesada, desempenhada pelos operários com a supervisão dos engenheiros, há uma retaguarda profissional de projetistas, engenheiros e profissionais de informática, que monitora todos os processos, todas as intervenções físicas. Esse monitoramento é essencial tanto à precisão técnica quanto à segurança dos trabalhos.
O coordenador da obra, engenheiro Wenceslau Diotallevy, que é dos quadros do Deinfra, disse na reunião que “hoje é um dos dias mais felizes da minha vida, estou enxergando a obra pronta, porque a desapropriação da área no Continente era o último procedimento administrativo necessário para imprimir a velocidade indispensável às atividades”.
Um cenário antigo com ares futuristas
Ao visitar o canteiro de obras, a sensação que se tem, em muitos momentos, é de que parece o set de filmagem de uma obra de ficção científica, com o contingente de operários empenhado na construção de um cenário futurista totalmente alheio à realidade do cotidiano. É um cenário do passado que ganha peças novas – como as barras de olhal (360 serão trocadas no total) – as longarinas e transversinas (bases de apoio do piso, que já está sendo colocado. O novo piso não será de madeira, como o original, nem de asfalto, como foi feito na década de 1960. É composto por placas de aço galvanizado. Tudo é feito de forma artesanal, por isso a obra requer o emprego maciço de mão de obra, num contraste evidente com a situação nacional, de desalento econômico. Na vistoria realizada quinta-feira, Diotallevy explicou que muitas peças originais deterioradas são analisadas minuciosamente, até que surja uma decisão técnica quanto ao conserto ou troca (o que seja possível). “Isso tudo é artesanal, exige a intervenção direta do operário, com a supervisão de engenheiros e projetistas. Muita gente não tem ideia da complexidade desse trabalho. Mas todos sairão ganhando com a ponte reabilitada e útil à mobilidade urbana”. Tanto França, quanto Diotallevy, enfatizam que a solução para os acessos depende dos estudos feitos pela prefeitura, “mas nós estamos participando, contribuindo”.
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