Três meses após o anúncio da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan) sobre o projeto de despoluição da Beira-mar Norte, em Florianópolis, um laboratório, a pedido do NSC Notícias, faz testes no mar. O objetivo é verificar a quantidade de bactérias concentradas a mais de 200 metros da costa. Isso porque a Casan afirmou que a maior parte desses micro-organismos nocivos à saúde fica na água mais próxima à orla.
Projeto
A Beira-mar Norte é um ponto impróprio para banho há cerca de 50 anos. A Casan disse que a poluição chega até o mar através da rede que deveria trazer só água da chuva, mas, por conta das ligações irregulares, traz esgoto também.
O que o projeto vai fazer é impedir que essa água poluída chegue até o mar. Uma tubulação vai captar e levar essa água contaminada até uma estação de tratamento antes de despejar no mar.
A estação terá capacidade para tratar 150 litros por segundo, é o dobro do que chega hoje no mar quando não está chovendo.
“Nós vamos interceptar essas galerias com dispositivos que vão permitir que, em caso de chuva extrema, se abram para proteger a cidade de alagamentos. E vão bombear essa água que está sendo captada frequentemente, que está chegando no mar, e vão levar para a unidade de tratamento, muito semelhante a uma estação de tratamento de água. Só que não vai ser de água para tomar, vai ser água para a gente poder tomar banho”, disse o engenheiro químico da Casan Alexandre Trevisan.
Testes
O que desperta dúvida em relação à eficácia do projeto é que ele vai funcionar apenas do lado da baía onde fica a Avenida Beira-mar Norte. Do outro, as ligações clandestinas vão continuar despejando esgoto no mar. Para rebater esse argumento, a Casan disse que fez estudos que comprovam que a maior quantidade de bactéria se concentra a até 200 metros da orla e que depois disso a água do mar seria, inclusive, própria para banho.
O NSC Notícias procurou um laboratório especializado em análise de água e fez o teste. As coletas foram feitas durante três dias com o apoio do Grupo de Busca e Salvamento, do Corpo de Bombeiros.
Foram escolhidos três locais para coletar a água. “Todos a 200 metros depois da orla e esses três pontos são para a gente conseguir um resultado mais significativo para esse nosso trabalho. Pegamos um mais no início, um no meio e outro mais para o fim”, explicou a química responsável pelo teste, Ana Paulo Bohm.
Em cada ponto são coletados sempre quatro frascos. A análise seguiu os parâmetros estabelecidos por lei. Os mesmos que o Instituto do Meio Ambiente (IMA) segue para analisar a qualidade da água nas praias em Santa Catarina.
Seguindo esses critérios, o limite máximo permitido para uma das bactérias mais perigosas para a saúde é de 2 mil por 100 ml de água.
No primeiro dia, o teste foi positivo. No primeiro ponto, próximo à Ponte Hercílio Luz, havia 70 colônias de bactérias por 100 ml. No segundo, perto do trapiche, 60 colônias por 100 ml. E no terceiro ponto, próximo ao shopping, 40 por 100ml.
Isso quer dizer que nos três pontos tinha bactéria, mas em níveis abaixo do limite tolerado pelas regras oficiais. O resultado dos demais dias serão mostrados nas outras duas reportagens da série.
(G1SC, 04/06/2018)
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