Da Coluna de Carlos Damião (ND, 06/06/2018)
Militantes de um movimento social cometeram o erro de pintar faixas no próprio local do protesto – em defesa da Petrobras e contra a pretensão do desastroso governo neoliberal de Michel Temer, de privatizar a maior empresa pública brasileira. Um feirante da feirinha de artesanato do Largo São João Paulo2º (Catedral) chegou a avisar para um grupo de jovens: “Gente, os panos são muito finos e permeáveis. A tinta vai passar para o piso. Não deu outra”. E a burrada acabou dando munição para alguns políticos raivosos, que se especializaram em querer criminalizar tudo que diga respeito a movimentos sociais.
A Comcap terminou de remover a tinta nesta quarta-feira, dia 6. Claro que os responsáveis, caso identificados, devem responder pela trapalhada, cometida numa área tombada como patrimônio histórico. Mas na mesma região sobram exemplos de vandalismo que não merecem qualquer reparo por parte dos mesmos políticos. A 100 metros dali, toda a lateral do prédio histórico dos Correios (construído nos anos 1940) está rabiscada com pichações há mais de cinco anos. Nem Comcap (prefeitura), nem Câmara, jamais fizeram alguma coisa para recuperar a Rua Victor Meirelles, corredor cultural transformado num dos piores exemplos de desmazelo do poder público. Podem dizer que a culpa é dos vândalos, dos pichadores. Mas, não, a culpa é do abandono. Mesma questão que envolve a antiga escola Antonieta de Barros, que foi cedida pela Secretaria de Estado da Educação para a Assembleia Legislativa. A edificação é outro exemplo de desmazelo, de falta de interesse do poder público.
Mais abaixo, ainda na área Leste da Praça 15 de Novembro, estão as ruas João Pinto, Tiradentes, Saldanha Marinho, Nunes Machado, Antônio Luz, todas abandonadas pela prefeitura há mais de 10 anos. Paredes de prédios históricos, públicos ou particulares, foram pichadas implacavelmente. Nenhuma autoridade fez nada, nenhuma autoridade diz nada. E a solução para correr com os pichadores é uma só: cuidados permanentes. Patrulhamento – que, neste caso, é obrigação a Guarda Municipal; pela lei, é uma de suas atribuições, mas em Florianópolis a lei é só para bonito.
E o que dizer do prédio da Alfândega, próximo ao Mercado Público, construído no século 19? A edificação, ironicamente ocupada pelo Iphan (Instituto o Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), virou um lixo urbano. Seu aspecto degradado desanima qualquer florianopolitano ou visitante que valorize nosso patrimônio histórico. Em tese, a prefeitura tem um projeto de recuperação de todo o Largo da Alfândega Prefeito Dakir Polidoro. Em tese porque não sai do papel e depende de verba federal, cuja destinação incluiria a total recuperação do prédio da Alfândega. Mas, como no caso da antiga Casa de Câmara e Cadeia, tudo vira proselitismo vazio, se transforma em promessas ao vento.
Há mais exemplos pela cidade. A lateral do Edifício das Diretorias é outro caso. Pichada e ocupada como dormitório permanente por moradores de rua. Circular pela região, em especial no período da manhã, está quase exigindo o uso de máscaras, tal a catinga insuportável de fezes e urina. Toda a esquina com a Rua Deodoro é uma imensa latrina a céu aberto e fica a menos de 100 metros do gabinete do prefeito e a 200 metros da Câmara de Vereadores.
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