As baleias-francas estão chegando a Santa Catarina. Tradicionais visitantes da região sul do Brasil no período de julho a novembro, a espécie tem sido avistada no litoral catarinense desde o dia sete de junho. Antes, no dia 15 de maio, uma fêmea com filhote foi avistada no Espírito Santo, entre as praias de Itaparica e Barra do Jucu, em Vila Velha. Este foi o primeiro registro do ano em águas brasileiras, abrindo assim, extraoficialmente, a temporada 2018 de avistagens no país.
A boa nova está sendo comemorada pelo Porto de Imbituba, que neste ano completa 10 anos de monitoramento aéreo e terrestre das baleias-francas e de outros mamíferos marinhos, através do Programa de Monitoramento de Cetáceos. Atualmente o Programa é realizado no âmbito do Plano de Controle Ambiental (PCA) do Porto, e tem como objetivo o monitoramento dos mamíferos marinhos que visitam a região do Porto de Imbituba.
Desde sua implantação, o monitoramento utiliza a metodologia de avistagem para catalogar a localização geográfica e o comportamento desses animais, a fim de ampliar o conhecimento acerca da ecologia das espécies frente às atividades portuárias. Como os navios que chegam a Imbituba atravessam a Área de Proteção Ambiental (APA) da Baleia Franca, local de grande concentração de baleias, o monitoramento da frequência de pequenos e grandes cetáceos no entorno do porto, estudando o seu comportamento e acompanhando o tráfego de embarcações, evita as rotas de colisão e zelam pela preservação da espécie.
Anualmente, mais de 100 baleias são registradas, em média, em Santa Catarina. A maioria são fêmeas em fase de procriação, que “passeiam” entre o litoral Norte do Rio Grande do Sul e a região Sul de Santa Catarina, limites da APA da Baleia Franca. Elas vêm para a costa sul-brasileira à procura de águas quentes e enseadas protegidas para o nascimento de seus filhotes. Estima-se que a cada três anos as baleias-francas têm um novo filhote, sendo que o tempo de gestação é de 12 meses. Elas partem da Antártica, onde se alimentam e acumulam reserva energética em forma de gordura para a jornada rumo ao continente sul-americano.
O Programa de Monitoramento
As avistagens feitas pelo Programa de Monitoramento de Cetáceos do Porto de Imbituba são realizadas a partir de pontos estratégicos do litoral, dentro e no entorno da área portuária. Os trabalhos são conduzidos pela equipe de especialistas da empresa Acquaplan Tecnologia e Consultoria Ambiental, atual contratada para executar o serviço, e supervisionados pela equipe de meio ambiente da SCPar Porto de Imbituba.
Durante a temporada, o monitoramento terrestre ocorre diariamente, em dois pontos de observação, nas enseadas das praias do Porto e Ribanceira, em Imbituba. O tempo de observação padrão é de seis horas diárias, divididas em dois turnos, podendo variar de acordo com a quantidade de horas/luz diárias e condições climáticas, bem como a movimentação dos navios.
Também integra a metodologia de avistagem o monitoramento aéreo, que consiste na realização de três sobrevoos de helicóptero, com duração estimada de 10 horas cada voo. Os sobrevoos ocorrem em toda a extensão da APA da Baleia Franca, com objetivo de registrar a localização, contar, fotografar e identificar os cetáceos através das calosidades únicas que cada baleia possui sobre a cabeça.
Além dos monitoramentos, também se destaca no Porto de Imbituba o Procedimento Interno de Boas Práticas, implantado na temporada passada com o objetivo de conscientizar a tripulação dos navios sobre a presença das baleias-francas no entorno do porto. “Nessa abordagem junto aos comandantes e à tripulação, eu levo informações sobre o comportamento das baleias-francas, mostro para eles o mapa dos limites da APA e também explico como ocorre o monitoramento dos cetáceos no porto”, comenta a oceanógrafa Camila Amorim, analista portuária da SCPar Porto de Imbituba.
Essa atuação focada na preservação das baleias, enquanto dá continuidade às operações portuárias de forma sustentável, rendeu ao Porto de Imbituba três premiações: o Prêmio Empresa Cidadã ADVB/SC, categoria Preservação Ambiental, nos anos de 2016 e 2017 e o 23º Prêmio Expressão de Ecologia, categoria Conservação da vida silvestre.
Sobre as baleias-francas
A histórica tradição da caça às baleias-francas em Santa Catarina quase levou a extinção da espécie na década de 1970. Apenas na década de 1980 as francas voltaram a ser observadas na costa brasileira, resultando no Decreto nº 92.185, de 20 de Dezembro de 1985, que pôs fim à caça de todas as espécies deste mamífero no Brasil, a partir de 1º de janeiro de 1986.
Avistagens realizadas esporadicamente nos anos 1990 confirmaram o retorno da espécie à região sul do Brasil. Isso motivou o governo federal a instituir, em 2000, a Área de Proteção Ambiental (APA) da Baleia Franca, que se estende de Torres, no litoral norte do Rio Grande do Sul, até a região sul da Ilha de Santa Catarina.
“Elas costumam retornar sempre ao mesmo local para terem os filhotes. Todos os animais visualizados pelo monitoramento na região da APA e no entorno do Porto de Imbituba são catalogados por meio de fotografia e filmagem das calosidades que elas têm em cima da cabeça, que são únicas para cada animal, como se fosse uma digital. Com isso, podemos saber se elas retornam”, explica o oceanógrafo Gilberto Oliveira Endoh Ougo, especialista da Acquaplan.
(Floripa News, 20/06/2018)
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