Na Grande Florianópolis, 60% dos deslocamentos são realizados por veículos do transporte individual de passageiros e apenas 40% pelos ônibus do transporte coletivo. Isso acontece porque o tempo médio das viagens dos ônibus leva 78 minutos, enquanto um carro ou uma moto percorre a mesma distância em 35 minutos. Para aprimorar e achar soluções de um transporte coletivo mais eficiente, ambientalmente correto, com preço justo e rápido, o Observatório da Mobilidade Urbana da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) realizou nesta segunda-feira (21) um seminário que reuniu especialistas no setor. O problema identificado na região metropolitana é a falta de integração entre os sistemas municipais e intermunicipais.
Para um trabalhador que mora em Biguaçu e queira se deslocar até Palhoça, por exemplo, ele precisa pegar um ônibus até o Centro de Florianópolis para fazer uma conexão até o destino final. Além de pagar duas tarifas cheias, o usuário do transporte coletivo ainda sofre com os frequentes congestionamentos para entrar e sair da Ilha de Santa Catarina. Assim, a Suderf (Superintendência de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Florianópolis), em parceria com o Observatório da UFSC, elaborou uma rede integrada do transporte com oito municípios, com exceção de Florianópolis, que tem contrato de concessão em vigor.
O objetivo é integrar o transporte coletivo nestes municípios com uma única política tarifária. “Hoje temos linhas sobrepostas que não têm integração, nas quais o usuário precisar pagar caro e percorrer longas distâncias desnecessárias. Nosso objetivo é oferecer deslocamentos mais curtos, com tarifas mais baixas, mais horários e a maior abrangência territorial que estimule o desenvolvimento dos municípios”, explicou o diretor técnico da Suderf, Célio José Sztoltz.
Atualmente, os oito municípios da região metropolitana – São José, Biguaçu, Palhoça, Antônio Carlos, Santo Amaro da Imperatriz, São Pedro de Alcântara, Águas Mornas e Governador Celso Ramos – transportam 150 mil passageiros, mas 70% utilizam o transporte intermunicipal e 30% o municipal. O Deter (Departamento de Transporte e Terminais) é o responsável pelas linhas intermunicipais, mas o governo do Estado deve encaminhar um projeto de lei nos próximos três meses para a Assembleia Legislativa dando poderes à Suderf.
Plano pode entrar em ação com a construção de um terminal em Biguaçu
Para colocar o plano de integração dos sistemas municipais e o intermunicipal em ação, a Suderf acredita que será necessária a construção de um terminal em Biguaçu. Isso porque Palhoça já tem uma estação. O plano completo também prevê a construção de mais dois terminais em São José, em Barreiros e Forquilhinhas.
“O espaço de circulação viária é incapaz de comportar viagens para todos os carros ao mesmo tempo. Um exemplo é a ponte Hercílio Luz, que o Deinfra [Departamento Estadual de Infraestrutura] defende o uso misto. Se a ponte fosse ocupada somente por carros, teríamos 270 automóveis enfileirados, que transportam em média 1,3 passageiro, no total de 350 pessoas. Para transportar a mesma quantidade de passageiros, precisaríamos de quatro ônibus e, por isso, defendemos o uso exclusivo da ponte para o transporte coletivo”, disse o coordenador do Observatório da Mobilidade Urbana, professor Werner Kraus Júnior.
Célio Sztoltz informou que não haverá tarifa única. A princípio, as tarifas devem ser divididas em cinco patamares. O primeiro valor é para quem circula dentro do próprio município. A segunda é para quem passa para uma cidade vizinha e a terceira para quem for circular por dois municípios e, assim, sucessivamente.
Empresas devem investir em ônibus com energia limpa
Uma das propostas para melhorar o transporte coletivo é a modernização da frota, que deve resultar em economia, conforto e saúde. A intenção não é de apenas comprar ônibus novos, mas veículos com tecnologia de energia limpa, como a gás ou elétricos. Com a economia na otimização de linhas, o recurso seria reinvestido no sistema para renovar a frota em 5% no início do processo.
O coordenador da comissão de meio ambiente da Associação Nacional de Transporte Públicos, Olímpio de Melo Alvares Júnior, lembra que os congestionamentos geram mais poluição. “Quem está dentro do habitáculo do veículo respira mais gases poluentes em relação a um pedestre na rua, isso porque os carros estão no mesmo fluxo. A taxa de emissão é de oito a dez vezes maior durante um congestionamento e piora em dias de inversão térmica”, advertiu.
Na opinião do ex-secretário de Mobilidade e Infraestrutura de Lisboa (Portugal), o engenheiro civil Fernando Nunes da Silva, o problema é que o transporte individual de passageiros foi pensado como a solução da mobilidade no futuro. “Por ingenuidade, porque pensavam que o automóvel seria a solução na mobilidade do futuro, nos deixamos fascinar pela tecnologia e pelo concreto armado. Isso não significa que o ônibus é a solução para todos os problemas, na verdade, todos os meios de transporte são importantes, a questão é saber combinar e dosar a utilização de cada um”, destacou.
Sugestão de tarifas
Patamar 1: R$ 3,80 a R$ 4,30
Patamar 2: R$ 4,30 a R$ 4,80
Patamar 3: R$ 5,70 a R$ 6,20
Patamar 4: R$ 6,90 a R$ 7,60
Patamar 5: R$ 9 a R$ 9,70
(ND, 21/05/2018)
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