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Museu da UFSC e Euclides Vargas: histórias entrelaçadas

Em tom amarelo, janelas e portas brancas, com um ar bem diferente dos outros prédios ao seu redor, a primeira sede do Museu da UFSC chega aos 50 anos de idade em 29 de maio de 2018. A casa, que guarda muito das características originais de sua fundação, foi a princípio Instituto de Antropologia e alguns anos depois museu. A construção já era anterior a 1968 e um fato bem interessante, servia de estábulo para a Fazenda “Assis Brasil”, terreno que mais tarde seria o endereço da então Universidade de Santa Catarina. São paredes repletas de história, que respiram vida e memória, envoltas em um clima bem característico do local.

No auge de seus 25 anos, o museu universitário recebeu o nome do seu fundador, Oswaldo Rodrigues Cabral. Ele, Sílvio Coelho dos Santos e Walter Piazza foram os pioneiros historiadores que estrearam as atividades do museu, ainda nos primórdios da UFSC. Além deles, a instituição contava também com os professores Anamaria Beck e Edson Araújo. As primeiras pesquisas da equipe eram relacionadas às populações indígenas e pré-coloniais do Sul do Brasil, explorando a diversidade étnica de Santa Catarina.

Esta casa, em que passado e presente se manifestam, deve ser compreendida, para a restauradora e atual diretora do museu, Vanilde Rohling Ghizoni, “como patrimônio histórico da comunidade universitária e como tal, toda intervenção que venha a sofrer deve ser criteriosa, respeitando sua originalidade e integridade física”.

E entre as muitas histórias do museu há um registro em abril de 1979. Euclides Vargas, de apenas 20 anos, começava sua vida na UFSC como vigilante. No primeiro ano trabalhou em outro setor e o restante do tempo foi, sem lacunas e de forma rotineira, no museu. E lá se vão 39 anos de universidade, tempo suficiente para se aposentar, mas não é o seu desejo; gosta da companhia dos amigos, de circular entre o museu, de consertar o que se encontra em mau estado, entre muitas outras coisas que pesam na sua decisão de ficar.

O anseio do servidor é poder ver, novamente, a porta principal da “casa amarela” aberta, acessível ao público, com ampla divulgação nas escolas e na comunidade universitária, pois “muitos desconhecem a existência de um museu dentro da Universidade. Devemos valorizar esta casa, este trabalho, este acervo, que é da UFSC, que é de todos”, enfatizou.

Por dez anos, Euclides tinha a função de vigiar, porém, com a disposição que lhe sobrava, fazia muito mais do que proteger o patrimônio. Quando a Universidade realizou uma reclassificação de cargos, passou a ser Técnico em Restauração, aproximando-se do que realmente fazia no seu dia-a-dia.

Como ninguém, Euclides conhece o significado de cada item do acervo de Franklin Cascaes, que está sob a guarda da UFSC. Orgulha-se em ter feito o restauro de 80% das peças em argila crua, que o próprio artista confiava somente a ele e ao museólogo Gelci José Coelho “Peninha”, atualmente aposentado.

Também fala da satisfação de ter trabalhado com Peninha, que dirigiu o museu de 1996 a 2008. Para ele “era alguém que vestia a camisa e não media esforços para divulgar o museu”.

Do passado, Euclides sente falta daquele movimento de exposições e pessoas. “Eu cansei de sair daqui e ir ao Centro, de ônibus e até de bicicleta, levar panfletos. Antigamente, a gente montava uma exposição sem muito custo e até em outras cidades como Itajaí, Joinville, Laguna, Penha (Beto Carrero), sempre estava em movimento”. Hoje, há regras e normas e, para montar a do Cascaes, requer muito cuidado e investimento, o que tem sido inviável para o museu nos tempos atuais.

Para o restauro “bruto”, o método de que mais gostava, Euclides utilizava as técnicas que aprendeu em dois cursos, um no Centro Integrado de Cultura (CIC) e no Palácio Cruz e Souza, de Restauração e o de Montagem de Exposição, cujo nome do professor Aldo Nunes ainda guarda em sua privilegiada memória.

Pela vivência e por indicação dos colegas de trabalho, “Seu Euclides” foi escolhido para ser o personagem desta história. A “casa amarela” é para ele um segundo lar. Apesar de não admitir, é visível o carinho que tem pelo ofício e por este local, que significa tanto em sua vida.

Hoje, na antiga sede encontram-se a Administração, Laboratório de Antropologia e um auditório para 60 pessoas. No primeiro andar, em uma sala bem próxima à antiga porta principal do museu, Euclides cumpre sua jornada. Lá montou um pequeno almoxarifado e depósito. Desse ponto de visão, tem várias recordações do espaço, hoje desativado, de exposições. A parte de restauração não tem feito mais, mas mostra a caixa de areia que ele mesmo produziu para o restauro das peças de argila de Cascaes.

“Seu Euclides” circula e interfere na rotina de cada espaço, novo ou antigo. Explicou que, agora, as exposições são realizadas no novo espaço, inaugurado em 2012, em três grandes salas com condições ideais de climatização e sistema de monitoramento. O acervo é composto por objetos etnográficos produzidos por grupos indígenas e descendentes de migrantes e pelas obras de Cascaes. Está prevista para junho uma exposição do artista catarinense.

Exposições abertas

7h30 às 18h30

“Arqueologia em Questão: Percorrendo o Litoral Catarinense” trata das ocupações de diversos grupos humanos na região, abrangendo culturas de tempos distintos e o ofício do arqueólogo.

Até 20 de julho – “Tecendo Saberes pelos caminhos Guarani, Kaigang e Laklanõ-Xokleng” desvela contribuições do projeto Saberes Indígenas na Escola para o diálogo entre a educação formal e o saber tradicional.

9h às 18h30

Até 30 de maio – “Mamilo Manifesto”, exposição curricular dos alunos do curso de museologia da UFSC, discute significados e representações referentes aos mamilos, pequena e polêmica parte do corpo humano, discutindo questões como a amamentação, a saúde e a estética, nos diferentes ciclos da vida.

Atendimento

O museu atende ao público externo de terça a sexta-feira, das 7h30 às 18h30, e no primeiro sábado de cada mês, das 13h às 17h.

Funcionamento dos setores administrativos, de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h.

Orientações para agendamento de visitas

Rosiani Bion de Almeida/Agecom/UFSC

Fotos: Henrique Almeida/Agecom/UFSC

50 anos de história

Neste 29 de maio de 2018, a primeira sede do Museu de Arqueologia e Etnologia Professor Oswaldo Rodrigues Cabral da UFSC, comemora 50 anos. Trata-se de edificação reformada e adaptada que integrava o complexo da antiga Fazenda “Assis Brasil”, cujo espaço foi transformado no atual Campus Universitário. Até a inauguração de sua sede, o Instituto de Antropologia funcionou junto ao Curso de História da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras.

Concebido inicialmente como um espaço de formação avançada na pesquisa arqueológica e de culturas indígenas, o Instituto compunha-se de três divisões: Arqueologia, Antropologia Física e Antropologia Cultural. Abrigava laboratórios de Arqueologia e Antropologia Física, que reuniam acervo arqueológico, indígena Etnografia Geral e Etnografia do Brasil, lecionadas nas suas dependências para os a, de culturas tradicionais do estado, sendo então utilizado como recurso didático nas disciplinas de Antropologia Cultural, Antropologia Física, alunos dos cursos de História e Geografia. O Instituto mantinha ainda uma biblioteca especializada em temas contemplados na pesquisa sobre folclore, antropologia e arqueologia.

Ao longo dos anos a edificação e o Instituto de Antropologia foram se adequando às novas demandas. Com a reforma universitária iniciada em 1968, o Instituto de Antropologia teve sua denominação alterada para “Museu de Antropologia”, em 1970. Sob a categorização de museu, a instituição instalada na antiga estrabaria da Fazenda “Assis Brasil”, ainda passaria por diversas mudanças de designação, porém sua função institucional não mais seria alterada. Nesse contexto, no ano de 1978 o Museu de Antropologia passou a ser denominado Museu Universitário. A partir desse momento, o Museu Universitário foi concebido, não sem equívoco, como uma instituição voltada exclusivamente para a guarda e exposição de acervo, sendo desincumbido das atividades de pesquisa e de ensino. Essa situação perdurou até meados da década de 1980, quando o projeto “O povoamento pré-histórico da Ilha de Santa Catarina”, coordenado pela arqueóloga Teresa Domitila Fossari (in memoriam), voltou a impulsionar a pesquisa no órgão. Em maio de 1993 adveio mais uma mudança: o Museu Universitário passou a ser denominado Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral, em homenagem ao seu idealizador, fundador e primeiro Diretor.

Com o passar dos anos, visando atender aos preceitos de uma instituição museológica, novos espaços foram construídos para ações de comunicação e guarda de acervo, uma vez que esta importante e significativa edificação histórica não poderia ter seu projeto arquitetônico alterado. O ingresso nessa nova fase suscitou na equipe do Museu a necessidade de consolidar a marca e a identidade da Instituição, bem como o caráter antropológico de suas coleções e de suas pesquisas, obscurecidos pela denominação Museu Universitário. Assim, em 2011, foi preconizada a denominação “Museu de Arqueologia e Etnologia Professor Oswaldo Rodrigues Cabral (MArquE)” que atualmente designa o perfil museológico e as atividades do órgão.

A estrutura estabelecida, que permanece até o presente momento, permitiu o desenvolvimento de diversas pesquisas nas áreas da Antropologia e Etnologia, acentuando a formação de acervo extremamente relevante no Estado de Santa Catarina. A edificação que hoje completa 50 anos abrigou e abriga ao longo de sua trajetória pesquisas que conquistaram o reconhecimento de autoridades da área, firmando-se, nesta rede, como referência entre os museus etnográficos do sul do país. No contexto, a edificação mostra-se fundamental à memória e ao patrimônio desta Instituição Federal de Ensino Superior, uma vez que para além do marco da pesquisa acadêmica, representa a identidade da UFSC e bem patrimonial a ser preservado para as futuras gerações.

(Ufsc, 29/05/2018)

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