Nós brincávamos há alguns anos que quem quisesse ficar em Florianópolis tinha duas opções: ou ir para o setor público ou ser pescador”, conta o presidente da Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE), Daniel Leipnitz, ao lembrar da época em que abrir empresas de tecnologia na cidade ainda era considerado uma aventura. Hoje a cidade é um dos principais polos tecnológicos do país, atrás apenas de São Paulo, e juntas as empresas do setor faturam na capital R$ 11 bilhões ao ano.
Segundo Leipnitz, que também é empresário do setor de tecnologia, o início de tudo foi com as universidades, que começaram a formar bons profissionais. A primeira foi a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), criada em 1960, que logo no início, em 1962, recebia os primeiros alunos do curso de engenharia mecânica, e logo depois de outras áreas da engenharia. Nessa época, Florianópolis tinha 80 mil habitantes e nenhum centro industrial próximo. Depois, vieram o Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) e a Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc).
“As faculdades de engenharia eram excelentes e os alunos vinham estudar aqui, adoravam a cidade e não queriam voltar para sua terra, e como não havia lugar para todos trabalharem no setor público, criar empresas tornou-se opção”, comenta.
As primeiras empresas começaram a se instalar na cidade há mais de 30 anos, com um grupo de 8 a 10 empreendedores que abriram 4 empresas. No final da década de 90, início dos anos 2000, outro grupo de empresas começou a se instalar, entre eles Leipnitz. Porém, foi a partir de 2010 que o número de empresas dobrou, bem como o faturamento se multiplicou.
“No primeiro ano, o faturamento das quatro empresas juntas não passou de R$ 28 mil. Hoje, são mais de 1.000 empresas e R$ 11 bilhões de faturamento anual”, compara o empresário, comemorando a evolução.
Ainda segundo o presidente da Acate, diversos fatores explicam esse crescimento: “As primeiras empresas começaram a formação de um ecossistema, uma composição de vários atores importantes para o desenvolvimento: boas universidades, bons consultores, contadores especializados, dinheiro disponível, fundos de investimento, que foram tornando esse ecossistema mais forte, mais robusto e motivaram a chegada de outras empresas”, explica o empresário.
Além disso, Leipnitz destaca que a crise econômica de alguma forma ajudou a fortalecer o segmento de tecnologia, já que o principal produto desse tipo de empresas são soluções de softwares e hardwares que comércios e indústrias buscam nesses momentos para reduzirem custos e se tornarem mais produtivas.
Nacionalmente, o empresário afirma que Florianópolis já é reconhecido como um dos polos tecnológicos mais importantes do país, mas também há diversos esforços para tornar o trabalho das empresas catarinenses conhecido a nível mundial. A Associação criou um plano chamado Acate Internacional, em paralelo com o Floripa Hub, da Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (ACIF): “O objetivo deste trabalho é preparar as empresas para pensar globalmente, para exportar e trabalhar mundo afora”, explica.
Entre as iniciativas está um escritório em Boston, nos Estados Unidos, inaugurado no dia 21 de março. “É um espaço físico, com uma equipe de trabalho para possibilitar um intercâmbio com empresas de lá, busca de parceiros comerciais e contato com entidades, como as câmaras de comércio, entre outras ações que podem ajudar na expansão de empresas do estado”, comenta Leipnitz.
O presidente da Acate ainda cita como esforços os centros de inovação, que funcionam como shoppings de tecnologia, reunindo as empresas de tecnologia no mesmo lugar. Nos próximos meses, mais dois centros devem ser inaugurados, em São José e Joinville. “Acreditamos que estar no mesmo lugar acelera a comunicação, o compartilhamento das práticas e com isso se consegue também acelerar o crescimento”, finaliza Leipnitz, deixando claro que mesmo com tantos progressos o objetivo é chegar ainda mais longe.
(G1SC, 03/05/2018)
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