O cultivo de moluscos e a criação de aves estão entre as atividades econômicas de maior destaque em Santa Catarina. A produção nacional de ostras, mexilhões e vieiras é quase exclusividade do litoral catarinense. De acordo com a Produção Pecuária Municipal (PPM), do IBGE, foram 20.828 toneladas em 2016, o que corresponde a 97,9% da malacocultura brasileira. Já o rebanho de galináceos é o terceiro maior do país, com 140 milhões de cabeças, atrás apenas de Paraná e de São Paulo.
Pela primeira vez incluída em um Censo Agro, a pesquisa sobre produção de moluscos – ou malacocultura – exigiu do IBGE a definição de diretrizes específicas como, por exemplo, em que ponto da fazenda marinha a coleta de dados deveria ser feita. “Como a área de cultivo é no mar, ficou definido que os questionários devem ser respondidos no ponto de desembarque da produção”, conta o engenheiro agrônomo e analista censitário, Caio Andrade.
O cadastro das fazendas marinhas é outro ponto importante que está sendo levantado no Censo Agro. As áreas para cultivo de moluscos são concessões de 20 anos da União para os maricultores, que, em contrapartida, pagam taxa ao poder público federal.
A Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) é a responsável estadual pelas estatísticas do setor. Os dados mais recentes, relativos a 2016, demonstram que o cultivo de moluscos é realizado por 604 maricultores em 12 municípios do litoral catarinense. A maioria das fazendas marinhas fica nas baías sul e norte da Ilha de Santa Catarina: em Florianópolis, maior produtor nacional de ostra, e em Palhoça, maior produtor de mexilhões (ou mariscos, como são chamados na região). As vieiras, cultivadas principalmente em Penha, no litoral norte, têm produção bem menor (27 toneladas em 2016) do que a de ostras e mexilhões (2.280 toneladas e 12.534 toneladas, respectivamente, no período).
Segundo a Epagri, Santa Catarina vive uma década de estagnação. A produção de 2016 foi a menor desde 2009. Em relação a 2015, houve queda de 24,74%. O número de trabalhadores envolvidos diretamente na cadeia produtiva foi de 2.185 pessoas, uma redução de 5,62% frente a 2015, quando o setor contava com 2.315 empregados.A falta de política pública é o principal problema apontado pela Epagri. Maricultor há 22 anos, Nelson Silveira Junior não só concorda como eleva o tom da crítica quando fala de gestores públicos ligados ao setor: “tacanhos, muito ruins para a maricultura”. Ele comanda uma das maiores fazendas marinhas de Florianópolis, e foi um dos primeiros maricultores entrevistados pelo Censo Agro. “Não posso criticar sem contribuir. O Censo é importante para dar números ao governo e mostrar onde estão os problemas da cadeia produtiva”, diz o produtor de 57 anos.
Aviário automatizado de grande porte em São Ludgero, município do sul de Santa CatarinaRecém-retiradas do mar, ostras são lavadas antes de ir para entreposto receber selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF) Funcionários de fazenda marinha escolhem mexilhõesLanternas com ostras ficam presas a long-lines, fileiras de boias azuis e brancas a cerca de 100 metros da praiaPara ostras já crescidas, as caixas, ou lanternas, são mais resistentesNo primeiro estágio do cultivo são usadas caixas com tela fina para sementes de ostrasAviário automatizado de grande porte em São Ludgero, município do sul de Santa CatarinaRecém-retiradas do mar, ostras são lavadas antes de ir para entreposto receber selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF)
Avicultura: pequenas propriedades são integradas à cadeia produtiva
Berço de grandes marcas do setor, Santa Catarina tem na carne de frango seu principal produto de exportação. Mas enquanto abate e processamento são atividades industriais, a criação das aves depende, como ocorre há décadas, de milhares de pequenos e médios estabelecimentos rurais integrados à cadeia produtiva dos grandes frigoríficos.
Em Concórdia, cidade do Oeste catarinense, é difícil encontrar uma propriedade rural que não tenha aviário. “O número de aviários por propriedade varia. Agora as empresas estão fazendo quatro, cinco, por propriedade. Mas, nas mais antigas, são geralmente um ou dois”, diz o recenseador do IBGE, William Finger Azevedo, que encerrou seu trabalho de coleta de dados na semana passada, concluindo quatro setores em Concórdia e um no município vizinho de Presidente Castelo Branco.
O jovem de 19 anos mora com os pais, que são agricultores, na Linha Barra do Tigre, interior de Concórdia. William usou moto para visitar os estabelecimentos. “As estradas não estão ruins, só o tempo que anda muito instável. O que mais satisfaz a gente é que estamos sendo bem recebidos. Pedem para entrar, oferecem água, comida, chimarrão”, disse ele na primeira vez que falou com a reportagem, no fim de outubro. Procurado novamente na quinta-feira passada, William garantiu que o trabalho como recenseador “valeu a pena”.
Em Faxinal dos Guedes, outro município do Oeste catarinense, o trabalho de campo também está encerrado. No início da etapa de coleta, o recenseador Remi Telles, de 33 anos, foi a uma rádio local para divulgar o Censo Agro, deixando nome e telefone para tirar eventuais dúvidas dos produtores. “Muitos já estão me aguardando e, quando me encontram, perguntam quando vou visitá-los”, afirmou ele à época, acrescentando que o fato de ter nascido em Faxinal deixou os produtores “mais tranquilos quando souberam que era eu o recenseador”.
Segundo Remi, o chimarrão era de praxe na hora de responder ao questionário. Mas, dependendo do momento da visita, a hospitalidade era ainda maior. Em uma ocasião, o produtor estava preparando um churrasco. “Ele me recebeu e falou: ‘antes de conversar, vamos comer uma carne’”, lembra Remi. Em 12 de janeiro, ele encerrou o último dos quatro setores que lhe couberam na etapa de coleta. Agora espera uma oportunidade em outra cidade: “pediram para eu aguardar para ver se tem vaga”.
Existem aviários de diferentes tamanhos. Em Concórdia, segundo William, a maioria tem 100 metros de comprimento por 10 a 12 metros de largura, com capacidade para cerca de 12 mil aves. O período de engorda gira em torno de cinco semanas. Depois, são necessários entre oito e 12 dias para limpeza e higienização. É, portanto, um ciclo de dois meses. “Tem pouca demanda de mão de obra, quase tudo é automatizado. A maioria dos avicultores que visitei tem outra renda, gado de leite ou lavoura. E é pessoal de mais idade, que trabalha com os filhos”, explica.
De acordo com a professora e coordenadora do curso de Agronomia da Faculdade Concórdia (FACC), Laudete Maria Sartoretto, a avicultura sobreviveu às mudanças no campo principalmente por exigir pouca mão de obra. “As famílias hoje são menores, quando muito com três filhos e nem todos dispostos a ficar no campo. Com tudo automatizado e exigindo menos mão de obra, fica mais fácil para o pequeno e médio produtor manterem a atividade da avicultura”, diz.
(IBGE, 22/01/2018)
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