Da Coluna de Carlos Damião (ND, 27/01/2018)
O Museu Histórico de Santa Catarina, que funciona no Palácio Cruz e Sousa, preserva tesouros pouco conhecidos e, em geral, à espera de identificação e valorização. Nos últimos anos a administração da unidade cultural – vinculada à Fundação Catarinense de Cultura – tem investido no arrolamento dos materiais conservados ao longo de séculos; muitas dessas peças, entre documentos, medalhas, fotografias e objetos, têm inestimável valor histórico. Após essa etapa será feita a triagem e, num terceiro momento, o inventário propriamente dito.
Há poucos dias, por exemplo, a restauradora Márcia Escorteganha descobriu por acaso, no salão da reserva técnica, um fragmento do mapa do Brasil elaborado provavelmente no fim do século 15 pelo cartógrafo que acompanhava uma expedição de navegadores estrangeiros. Ela fez uma higienização a seco e colocou papéis brancos na parte posterior do mapa para absorção dos fungos. O quadro, com uma réplica em tamanho maior (um terço em relação ao original), está exposto desde sexta-feira na Sala do Governador do Museu Histórico.
“Estima-se que esse mapa tenha sido confeccionado antes do Tratado de Tordesilhas (1494), em vista da divisão territorial que apresenta. O Brasil era basicamente o litoral e a Ilha de Santa Catarina está presente à marcação cartográfica”, diz Márcia, doutora em arquitetura e urbanismo pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).
No medalhão (legenda) está escrito em alemão arcaico o seguinte texto, traduzido pela restauradora, com auxílio de ferramentas técnicas: “Continuação do Brasil para História geral pelo eixo longitudinal. Escala de medida baseada nas milhas marítimas francesas. Milhões de cidades indígenas destruídas baseadas no mapa geográfico da América feito pelo senhor Danville”. Uma pista sobre a origem do mapa está em outra inscrição: “Fornecido por Glarmester J. A. Petersen – Dinamarca – Knabrostraede 9”.
A referência às cidades indígenas é de total relevância para pesquisadores, porque mostra o território de grande extensão que os guaranis ocupavam – cercado ao centro do documento –, que à época pertencia ao Paraguai.
Não há informações sobre quem doou o mapa ao governo catarinense, nem sobre a época em que ocorreu essa doação. “Acredita-se que o dono do mapa era um dinamarquês. Na Dinamarca existe uma tradição cartográfica muito significativa”, diz Márcia.
Modernização da cidade
Na sala da reserva técnica chamam atenção também dois volumes preciosos, com encadernação luxuosa, mas deteriorada, que documentam em fotografias as diversas etapas da implantação dos serviços de água e energia, durante o governo do coronel Gustavo Richard (período 1906-1910). Entre as imagens estão detalhes da construção da Usina Maruim (Colônia Santana, São José), a primeira hidrelétrica de Santa Catarina, que trouxe energia para a Capital. A primeira lâmpada foi acesa na residência de Richard, no Centro. Ela está exposta num dos salões do Museu. “Esses dois volumes serão restaurados nos próximos meses, para que os visitantes possam conhecer as melhorias que a cidade recebeu durante a administração de Richard”, observa Márcia Escorteganha. Gustavo Richard foi o governante que deu início ao processo de modernização de Florianópolis.
Trabalho meticuloso
A administradora do Museu Histórico, Maria José da Costa Brandão, acompanha de perto os trabalhos de Márcia Escorteganha no interior do palácio. “A restauradora atua tanto na reserva técnica, onde estão objetos, imagens e documentos à espera de arrolamento e que depois passarão pela triagem e inventário, quanto na restauração dos diversos ambientes da edificação. Isso começou em 2014 e ainda não tem prazo para terminar, tudo é muito meticuloso, segue critérios técnicos que demoram bastante a apresentar os resultados finais”, diz Maria José. Os tetos estão prontos, assim como a marchetaria e os lustres. As paredes estão em processo de recuperação, com aplicação de uma massa específica (que dá a impressão errada de que existem rachaduras). A parte elétrica será totalmente revisada e revitalizada a partir de 19 de fevereiro, com o fechamento do museu para o público visitante.
Educação valorizada
Cristiane Pedrini Ugolini, arte-educadora, relata que mais de 10 mil estudantes são atendidos anualmente no palácio, recebendo informações sobre o acervo do Museu Histórico. “Também atuamos com a formação de professores e recebemos públicos diferenciados, como moradores de rua e pessoas que são atendidas em centros terapêuticos para dependentes químicos”, diz.
Quanto aos turistas, a força da movimentação fica entre dezembro e o período do Carnaval. “Só em janeiro tivemos mais de 4 mil visitantes”, finaliza Maria José da Costa Brandão.
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