O relatório de balneabilidade divulgado pela Fundação do Meio Ambiente (Fatma) na última sexta-feira apontou que 50,7% dos pontos analisados no litoral catarinense estão sem condições para banho. Trata-se do pior desempenho de todas as análises semanais feitas nas últimas cinco temporadas de verão no Estado, segundo as próprias análises divulgadas pela Fatma. É, também, a primeira vez nesse período que o número de locais impróprios ultrapassou o de locais próprios para banho.
Historicamente, o número de pontos próprios para banho oscila entre 65% e 75%, de acordo com a Fatma. O fator de desequilíbrio nas últimas análises tem sido as constantes chuvas que caem no litoral, que varrem as ruas e galerias subterrâneas, levando a sujeira para o mar.
Além disso, diz Oscar Vasquez Filho, gerente de balneabilidade da Fatma, contribuem para o resultado negativo a grande população de turistas nesta época do ano, que aumenta a quantidade de esgoto produzida, e o ainda alto índice de residências que não se conectaram à rede de esgoto.
Como exemplo, ele cita Canasvieiras, em Florianópolis, onde aproximadamente 40% das casas não está ligada à rede da Casan, embora a cobertura seja total no bairro.
—Tem muita gente que, infelizmente, insiste em não fazer a ligação — diz Vasquez.
Em relação à chuva, o meteorologista Leandro Puchalski, da NSC Comunicação, ressalta que o volume está três vezes acima do normal. Até o dia 22 de janeiro, somente em Florianópolis já havia chovido mais de 500 mm, enquanto a média para todo o mês costuma ser de entre 190 e 210mm.
— Estamos tendo um mês extramente chuvoso, como há muitos anos não ocorria em janeiro. E isso não é só na quantidade de chuva, mas também no número de dias em que está chovendo — conta Puchalski.
Para Vinícius Ragghianti, ex-presidente da Associação Catarinense dos Engenheiros Sanitaristas e Ambientais, as chuvas realmente complicam as condições de balneabilidade, também escancarando um problema histórico de Santa Catarina, que é a falta de investimento em saneamento ambiental
— Com a infraestrutura que se tem hoje, nós somos reféns das chuvas. O número de turistas cresce ano a ano e temos visto problemas especialmente nas praias urbanizadas. O efluente não está sendo protegido. Infelizmente, o que se vê é que a taxa de investimento no aumento das redes coletoras não está acompanhando o crescimento da cidade e do turismo —diz, lembrando que, na Capital, 60% dos pontos estavam impróprios na última análise da Fatma.
O engenheiro diz ainda que já passou do momento de o Brasil passar a tratar o saneamento como algo vital. Segundo ele, essa é uma questão tão importante quanto energia elétrica ou o deslocamento viário.
— Um problema em uma rede elétrica é resolvido em minutos ou horas. Um problema com esgoto leva meses ou anos para ter uma solução.
Para a Casan, a variação da balneabilidade está relacionada à intensidade e a periodicidade das chuvas.
Entenda como é feita a análise da Fatma
A Fatma segue as normas da Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Dessa maneira, é levado em consideração o conjunto das últimas cinco análises. Para que um ponto seja considerado impróprio, duas dessas cinco análises precisam ter resultados negativos — com mais de 800 coliformes por 100 mililitros de água . Outra possibilidade de o ponto não estar banhável é se em apenas uma coleta forem localizados mais de 2 mil coliformes por 100 mililitros de água.
(Hora de Santa Catarina, 22/01/2018)
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