Sessenta e oito cidades de Santa Catarina – quase um quarto do total – registraram algum tipo de desmatamento entre 2015 e 2016, conforme levantamento que será publicado hoje pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O Atlas dos Municípios da Mata Atlântica, que é um detalhamento da pesquisa divulgada em junho que trazia dados nacionais e por Estados, mostra um panorama da situação da cobertura florestal do bioma catarinense. No período avaliado, foram desmatados 1.045 hectares (ha), incluindo florestas, mangue e restinga.
Ponte Alta do Norte lidera o ranking do desmatamento na região, com a destruição de 103 ha de florestas. Logo na sequência, Porto União foi responsável pela eliminação de 60 ha e Água Doce e Araquari suprimiram 59 ha cada. As quatro cidades também aparecem no ranking nacional entre os cem municípios que mais desmataram entre 2015 e 2016.
– A Mata Atlântica é o bioma mais ameaçado do país, restam somente 12,4% da área original. Um total de 72% da população brasileira vive nela, assim como mais da metade dos animais ameaçados de extinção do país. Ao desmatar, estamos prejudicando nosso próprio bem-estar e qualidade de vida – diz a diretora executiva da Fundação SOS Mata Atlântica, Marcia Hirota.
O estudo apresenta a situação da cobertura florestal e o histórico do desmatamento nos 3.429 municípios dos 17 Estados inseridos no bioma. Todas as informações estão disponíveis no site Aqui Tem Mata, que oferece uma busca personalizada por meio de mapas interativos e gráficos.
Fatma foca em compensações
O presidente da Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina (Fatma), Alexandre Waltrick, afirma que o órgão acompanha a situação, mas pondera que certo grau de desmatamento é inevitável em um Estado amplamente coberto por mata nativa. Para ele, o importante é manter o rigor nas compensações e reflorestamentos.
– Somos o Estado que mais produziu em meio à crise. Temos que entender que em uma área de 100% de Mata Atlântica, cortar uma árvore já vai causar impacto. Então, ou a gente não autoriza a supressão e segura o desenvolvimento ou autoriza mas cria mecanismos para recompor, que é o que fazemos – garante.
Nesse contexto, Waltrick reforça que a Fatma tem atuado com foco nas contrapartidas, auxiliando quem preserva e buscando regularizar todas as unidades de conservação, entre outras ações.
Santa Catarina foi o quinto do país que mais extinguiu florestas
Quando se fala só de Mata Atlântica – excluindo mangue e restinga – Santa Catarina desmatou 846 hectares entre 2015 e 2016. Conforme o Atlas da Mata Atlântica, divulgado em junho, Santa Catarina foi o quinto Estado brasileiro que mais devastou o bioma no período – atrás de Bahia, Minas Gerais, Paraná e Piauí. Houve um aumento de 41% em relação à área devastada mapeada entre 2014 e 2015, que era de 598 hectares.
O levantamento foi feito com base em imagens de satélite capturadas no ano passado, comparadas com outras de anos anteriores. Um programa de computador comparou as fotografias, que focavam áreas a partir de três hectares, e ressaltou pontos onde a vegetação foi suprimida ou reduzida.
Entram nessa análise os 17 Estados que fazem parte do bioma e ecossistemas como vegetação litorânea, restinga, manguezais e mata de araucárias, por exemplo. Apenas regiões onde havia muita concentração de nuvens não puderam ser analisadas, principalmente no Meio-Oeste catarinense.
No Brasil todo, foram devastados 29 mil hectares, cerca de 60% a mais do que o observado entre 2014 e 2015. Segundo o instituto, há 10 anos não se registrava um decréscimo da vegetação do bioma nessas proporções. Em Santa Catarina, a supressão de Mata Atlântica agora é a maior desde o levantamento feito entre 2008 e 2010.
Contrapontos
A reportagem procurou as prefeituras das quatro cidades que aparecem entre as cem que mais desmataram no país
O prefeito de Água Doce, Antonio José Bissani, disse por nota que recebeu a informação com “surpresa desagradável”, afirma não ter “conhecimento de tal fato”, mas garante que fará “todo esforço para coibir tal situação se realmente está acontecendo”.
A prefeitura de Araquari também se manifestou por nota. O texto diz que a administração municipal ainda não teve acesso a essas informações, contudo, informa que todas as ações de corte na cidade são feitas “apenas visando um objetivo maior voltado para o desenvolvimento e respeitando a legislação”. Pontua que nos últimos anos a cidade tem sido muito procurada por empresários para instalações de empresas e novos empreendimentos imobiliários e as licenças de corte são fornecidas desde que esteja dentro da legislação. Além disso, afirma que toda vegetação que é retirada é compensada conforme manda a lei. Cada árvore que for retirada é reposta em outro lugar, dentro da mesma Bacia Hidrográfica.
As prefeituras de Ponte Alta do Norte e Porto União não responderam até o fechamento desta edição.
(Hora de Santa Catarina, 13/12/2017)
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