Da Coluna de Rafael Martini (DC, 04/11/2017)
O turismo de Florianópolis, setor que responde por 20% do PIB do município, agoniza. Uma série de fatores ao longo dos últimos anos contribui para colocar em xeque a capacidade da segunda maior fonte de geração de riqueza da cidade, atrás somente da indústria de TI. O cenário é preocupante às vésperas da temporada de verão. Empresário de uma das maiores redes de restaurantes do Estado, com sede na Capital, foi categórico ao fazer um breve diagnóstico: “Neste ritmo, o turismo vai voltar ao que éramos há mais de 20 anos.”
Entre os aspectos que motivam o turista a escolher outro destino estão a poluição, mobilidade, qualidade dos serviços, crescente medo da violência e, pra completar, a ressaca que praticamente engoliu as faixa de areia de alguns dos principais balneários da cidade como Brava, Canasvieiras e Ingleses, no norte da Ilha, e da Mole no Leste.
Em tempos de redes sociais e notícias online, episódios como o do Rio do Brás em janeiro de 2016 e o assassinato da turista gaúcha que entrou por engano na Vila União no início deste ano ganham destaque nacional e até mesmo fora do Brasil.
Por mais esforços que as autoridades façam para reverter tais problemas, como no caso do rio, hoje praticamente despoluído, o fator preponderante para definição das merecidas férias de verão é a sedução deste potencial cliente. O turista precisa ter a convicção de que encontrará uma estrutura de qualidade, será bem recebido e terá opções de compras, lazer e gastronomia. Foi-se o tempo em que somente as belezas naturais botavam a mesa e garantiam o jantar desta indústria.
Mesmo assim, ano após ano, segue-se o festival de chutômetros absolutamente inverossímeis, como os praticados pela Santur, que ano passado previu 9 milhões de turistas em Santa Catarina. Ao final da temporada o que se viu foi um rio de lamúrias por parte do trade diante do fracasso de visitantes.
Para quem já sonhou em ser a Ibiza brasileira, os números mostram que estamos na contramão. A pesquisa Fecomércio-SC realizada anualmente com os turistas que visitam o litoral catarinense é uma das poucas fontes confiáveis para compreender este fenômeno. No último levantamento, da temporada 2017, constatou-se que o perfil preponderante dos turistas que visitam Florianópolis é de classe C (56%), na faixa de 31 a 40 anos (24,7%), são casados (45,8%), vem de veículo próprio (41,7%), hospedam-se em hotéis ou pousadas (36,2%), permanecem cerca de 10 dias, gastando, em média, R$ 3 mil por família. Para 67% deles, um dos maiores problemas é a falta de sinalização, conforme mostra a pesquisa de 2016.
Como bem frisou outro especialista no setor, longe de significar uma crítica ao perfil econômico do turista que escolhe Florianópolis, estes números deveriam servir de balizamento para ações para atraí-lo. Já que estamos falando de um perfil familiar, por que não dispor, por exemplo, de parques temáticos?
Em seu artigo publicado neste DC na edição de quinta-feira, o presidente da Embratur, Vinicius Lummertz, defendeu, como tem dito reiteradamente, que a superação destes obstáculos que prejudicam o desenvolvimento do turismo na Capital somente se dará com a roda da economia girando pra valer. “O desenvolvimento econômico é, acima de tudo, uma questão moral. Somente com ele virá a diminuição da pobreza e do desemprego. Simples assim”, disse.
Atualmente, reconhece Lummertz, Florianópolis está brincando com fogo no quesito turismo. “A quem interessa esta judicialização sem fim e insegurança jurídica? É preciso que se decida de uma vez se queremos ser uma Capital com multiatrações como marinas e parques, ou se vamos virar uma Ilha do Arvoredo, em que nada pode ser feito.” Florianópolis está diante de uma encruzilhada: ou pega o caminho do desenvolvimento sustentável, a partir do diálogo e da negociação, ou quando acordar para o problema será tarde.
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