O sentido da palavra gastronomia, tão em voga neste momento, vai muito além dos inúmeros programas de televisão que ensinam receitas e promovem concursos acompanhados por milhões de pessoas em todo o mundo. Usando o termo “gastronomia de caçarola”, e demonstrando incômodo com essa distorção, o italiano Carlo Petrini, fundador do movimento Slow Food, desqualificou em Florianópolis, onde deu uma palestra este mês, o reducionismo que transforma algumas atrações televisivas em equivocado sinônimo de uma ciência interdisciplinar e complexa que envolve aspectos e noções de agricultura, zootecnia, biologia, genética, química e física – sem falar de seus vínculos com as áreas da antropologia, história da cultura e economia política.
Presente na cidade para uma série de encontros e visitas (incluindo a engenhos de farinha no interior da Ilha de Santa Catarina), Petrini mostrou-se, na altura de seus 68 anos, um militante entusiasmado da ecogastronomia, da alimentação saudável e de avanços nas legislações que normatizam a comercialização de produtos da agricultura familiar. “Nunca se falou tanto do assunto como hoje, mas só 10% da gastronomia é cozinha”, disparou o italiano, que comprou brigas ao redor do mundo com autoridades que criam todo tipo de restrição ao que não vem das grandes indústrias do setor alimentício. Neste sentido, ele não tem muitas ilusões quanto ao tamanho das barreiras que os pequenos agricultores vão enfrentar para se fazerem presentes na mesa dos consumidores em geral.
“Fala-se muito em comida, mas o sistema agrícola é um desastre”, afirma Petrini. “A concentração do poder alimentar está em mãos de oito a dez corporações no planeta, o número de pessoas morando nas cidades já ultrapassou o das que vivem no campo e os problemas climáticos, incluindo o efeito estufa e a desertificação, nunca foram tão acentuados. Essas questões cruciais não existiam quando nasceu o Slow Food, três décadas atrás. O futuro será de guerras por terra, água e disputa para comandar o ventre das pessoas. Além disso, a obesidade quadruplicou em muitos países, o diabetes tipo 2 aumentou inclusive entre as crianças e o sistema alimentar já responde por 34% do efeito estufa, contra 14% da emissão de poluentes pelos automóveis”.
(Confira Matéria completa em ND, 25/11/2017)
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