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Transferência de carga da Ponte Hercílio Luz, em Florianópolis, é concluída com sucesso na madrugada desta terça-feira

Às 23h52min desta segunda-feira, o toque da sirene na cabeceira insular da Ponte Hercílio Luz, em Florianópolis, emitiu a autorização para o início do levantamento de 10 centímetros do vão central da estrutura. O trabalho demorou 16 minutos, até que à 0h08min de terça-feira a mesma sirene, acionada pelo presidente do Deinfra, Wanderley Agostini, decretasse o fim do serviço. Entre os técnicos, o trabalho foi definido como um “sucesso”.

— A operação foi correta, ocorreu dentro do que era esperado — anunciou o engenheiro do Deinfra, Wenceslau Diotallevy.

A decisão dos engenheiros foi por elevar apenas 8,7 centímetros dos 10 previstos por uma questão de segurança. Diotallevy explica que essa etapa serviu para avaliar a reação da estrutura, além de testar o sistema de monitoramento desenvolvido exclusivamente para a transferência de carga. Essa etapa é assim chamada porque a 4,4 mil toneladas vão ficar totalmente sustentadas nas quatro bases provisórias construídas sob o mar.

A Velha Senhora agora será monitorada nas próximas horas para identificar possíveis reações das peças. O 1,3 centímetros não erguidos nessa etapa serão compensados nas próximas partes do processos, que devem erguer 10 centímetros cada. A previsão é que elas ocorram nesta terça-feira, na quinta-feira e na sexta-feira. Todas serão no mesmo horário desta segunda, com início da preparação às 23h.

— Fizemos a análise dos dados e constatamos que amanhã (terça-feira) podemos fazer a segunda fase da transferência de carga — revelou Diotallevy.

Por uma hora após a operação, nesta primeira etapa, a ponte foi monitorada para que fosse observado o comportamento das peças. Depois, iniciou-se a colocação de calços que vão manter a ponte suspensa. Essas peças dão a segurança para o contato entre o vão e a estrutura provisória montada sob a ponte. A finalização do processo completo ocorreu oficialmente apenas às 2h, com o aval dos engenheiros e técnicos. Com a etapa feita na madrugada desta terça-feira, o vão central está 21,7 centímetros elevado.

Hermes Carvalho, engenheiro da RMG Engenharia, contratada para fiscalizar a execução da reforma, revela que os números da transferência ficaram dentro do esperado. Na parte teórica, os técnicos haviam desenhado um cenário que se confirmou com a prática. Três centrais de bombeamento sobre a ponte foram acionadas. Elas monitoram cada um dos 54 macacos hidráulicos colocados em 27 pontos. Na cabeceira insular, engenheiros da Teixeira Duarte, empresa responsável pela obra, e da RMG controlaram os dados de dilatação, pressão e temperatura das peças.

Nesta etapa, o trânsito nas proximidades não foi fechado. Nem moradores precisaram ser retirados de casa, como ocorreu em fevereiro, na primeira etapa da transferência de carga, quando a ponte foi içada em 13 centímetros. Segundo o secretário de Defesa Civil do Estado, Rodrigo Moratelli, as atuais condições de monitoramento da estrutura deram segurança para que não fosse necessário o plano de contingência completo.

— A ponte agora está calçada, então a tendência de ocorrer um problema é menor. Estamos na fase laranja do plano de contingência, quando são necessários alguns cuidados, mas não os mesmos da primeira vez — explicou Moratelli.

Transferência de carga era projetada desde 1984

A primeira interdição da Ponte Hercílio Luz, em 1982, ocorreu pelo problema em uma barra de olhal. A peça serve para manter o vão central içado, além de dar as famosas curvas arquitetônicas do cartão-postal. Desde então o Estado avalia como recuperar a estrutura. O engenheiro alemão Jurn Mertens, engenheiro da RMG e projetista da atual reforma, recorda que em 1984 começou a ser desenhada a transferência de carga para a troca da barra.

Por falta de recursos, no entanto, o governo não levou a ideia adiante. O projeto de recuperação voltou à pauta com força a partir de 2010, com a contratação da empresa Espaço Aberto. A proposta dos empreiteiros previa uma transferência de carga diferente da que está sendo feita atualmente, explica Mertens. Ela seria feita por cabos na estrutura superior para posterior macaqueamento das barras de olhal.

— O projeto que ganhou a licitação foi uma transferência com cabos, não tinha estrutura inferior como o atual. Nunca concordamos com isso. Desde o começo tínhamos a ideia de fazer o suporte inferior, que seria uma alternativa bem mais segura, mais previsível, não teria situações que ficavam no ar — revela.

A Espaço Aberto, então, decidiu mudar o projeto e prever a construção das quatro bases de sustentação inferiores. Elas foram iniciadas pela empresa, mas concluídas pelos portugueses da Teixeira Duarte, contratadas emergencialmente sem licitação duas vezes. A primeira para terminar as bases e segunda para a efetiva reforma da estrutura.

Mertens esteve na etapa da ponte desta segunda-feira. O alemão preferiu não classificar nenhuma das fases como a mais crítica. Segundo ele, “todas têm sua importância e foram bem planejadas e estudadas”.

Próximos passos da obra

Com a conclusão da transferência de carga no final de semana, na segunda quinzena de outubro inicia a retirada dos pendurais, barras verticais do vão central usadas para suportar as barras de olhal. O trabalho vai se estender até o começo de novembro e fará as duas torres cederem entre 7 e 9 centímetros cada uma. Para isso, oito cabos de estaiamento foram instalados. Eles vão segurar as torres durante as retiradas das peças. Em três semanas, apontam os engenheiros da Teixeira Duarte, essa etapa estará pronta.

Será a vez, então, a partir de novembro, de usar novamente macacos hidráulicos. Eles vão levantar as barras de olhal em 70 centímetros cada. Assim, explica Diotallevy, não haverá mais tensão entre elas, o que possibilitará retirá-las sem acidentes. Serão 360 barras de 1,8 mil toneladas cada substituídas. Isso deve ocorrer em duas etapas até fevereiro de 2018 para que comecem os preparativos da colocação das novas peças, a partir de junho.

(DC, 10/10/2017)

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