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Projeto cria oportunidades para jovens do maciço do Morro da Cruz, em Florianópolis

Poderia ser em qualquer canto do Brasil, mas é na região central de Florianópolis que o projeto Futebol Escola batalha para fomentar a cidadania e criar oportunidades para cerca de 80 crianças que vivem no Maciço do Morro da Cruz. Há um ano e três meses, Luiz Taffarel de Souza Lopes, de 28 anos, dá aulas de futebol para crianças e adolescentes dos morros do Mocotó, do 25, da Caixa, Mariquinha e Monte Cristo, todos os sábados de manhã, em um gramado na Prainha, ao lado da Passarela Nego Quirido.

– A gente aproveita essa área livre pra trazer a gurizada e tirar elas de coisas como drogas e armas. Mesmo que eles não se tornem jogadores profissionais, tentamos encaminhar para um futuro melhor e formar cidadãos – conta Taffarel.

Batizado em homenagem ao goleiro campeão mundial em 1994 com a seleção brasileira, Taffarel contradiz o nome e diz preferir jogar “do meio para a frente”. É com o pensamento ofensivo que ele treina a gurizada na formação 4-3-3, uma das mais usuais no futebol moderno. Segundo o treinador, a inspiração vem do Barcelona e do Paris Saint-Germain.

– Dividimos a turma em dois grupos, um de 6 a 11 anos, outro de 12 a 18. Antes de ir para o campo, fazemos um trabalho físico e treinamos fundamentos. Mas tem que ter bola rolando, se não eles ficam agoniados – brinca.

Durante a semana, Taffarel trabalha, há 7 anos, como auxiliar administrativo no Hospital de Caridade. Seu empenho e dedicação ao projeto não passa desapercebido na comunidade. Assim como o famoso goleiro, hoje, Taffarel é fonte de inspiração na cidade.

– Ele reúne a gurizada para um momento de diversão, em vez de sair pra fazer coisa ruim estão praticando esporte. Esse menino (Taffarel) dá um banho, vale ouro! – comenta José Carlos Oliveira Rosa, 59, avô de um dos adolescentes do projeto.

Doações e apoio

Para conseguir tocar o projeto de maneira voluntária e gratuita para todos os participantes, Taffarel conta com a ajuda de amigos e com doações de materiais esportivos. Enquanto o amigo Dodô ajuda com as aulas para os mais novos, um empresário dono de um posto de gasolina ajuda a bancar os custos do Futebol Escola.

– Tenho muito a agradecer ao Eduardo Caroni, que é um cara que apoia muito a gente. Desde que o projeto começou ele está nessa batalha conosco. A gente faz tudo na raça – afirma Taffarel.

Projeto abre portas

Todo esse esforço dá resultado. Graças ao projeto, o volante Ryan Neves, 15, conseguiu participar de uma “clínica” do Real Madrid em Florianópolis, em julho deste ano. Agora, o jovem está de malas prontas para um período de testes na equipe do Brasil de Pelotas (RS).

– O projeto é muito importante, tira a molecada da vida do crime. Sou muito grato por essa oportunidade, aprendi muito. Semana que vem vou para o Brasil de Pelotas. É uma experiência nova, ficar longe da família, mas o futebol é assim – afirma Ryan.

Chance de profissionalização

Ryan não é o único a conseguir jogar nas categorias de base de clubes brasileiros. No começo do ano, o atacante Luis Guilherme, cria do projeto, chegou a ser contratado pelo Macaé para a disputa do Campeonato Carioca, mas não conseguiu se firmar na equipe. Agora, é a vez do jovem Vitor Henrique, meio-campista de 13 anos, tentar aproveitar a chance no Avaí depois de ser aprovado em uma peneira.

– A peneira aconteceu no dia 15 (de setembro), foi difícil porque tinham uns 20 jogadores disputando a vaga. Foi o projeto que conseguiu essa chance para mim, agora vou tentar me firmar. Gosto do estilo de jogo do Pogba (do Manchester United), espero um dia chegar nesse nível – comenta Vitor.

O neto de José Carlos é outro jogador que busca uma oportunidade no Leão da Ilha. Lateral esquerdo, Rafael Costa, 16, chegou a fazer um período de testes no Internacional de Porto Alegre, mas voltou. Agora, se prepara para fazer um teste no Avaí.

– Foi uma alegria grande jogar lá no Inter, tenho que agradecer bastante ao Taffarel por essa oportunidade. Sonho desde pequeno em jogar futebol, se não fosse o projeto eu podia estar na rua – disse Rafael.

(DC, 19/09/2017)

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