Da Coluna de Carlos Damião (Notícias do Dia, 03/09/2017)
Dezenas de operários trabalhando. Arquitetos acompanhando a montagem de ambientes. Outros profissionais dando retoques finais ou conferindo o trabalho já finalizado. O que na quinta-feira, 31/8, parecia um cenário de pós-guerra, vai tomando forma rapidamente para receber, a partir do dia 8/9, o público da edição 2017 da Casa Cor SC. O prédio é o antigo Asilo São Vicente de Paulo, que abrigou órfãs da cidade durante cerca de 50 anos, administrado pela IDES (Irmandade do Divino Espírito Santo).
Depois da desativação do asilo, ali funcionou durante mais de 30 anos o Ipuf (Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis). Com o órgão desalojado em 2016, a coordenação da Casa Cor SC assumiu a responsabilidade de repaginar a maior parte da bela edificação, inaugurada em 1910.
“Foi um milagre termos sido procurados pela direção da Casa Cor SC”, diz o provedor da IDES, Ademar Cirimbelli. “Costumamos dizer na IDES que ‘fazemos o possível – o Divino Espírito Santo faz o impossível’. Seremos eternamente gratos à Casa Cor por essa iniciativa”.
Chácara
A história do imóvel remete ao final do século 19. Tudo começou em 28 de dezembro de 1898, quando Maria Francisca de Paula Braga ditou seu testamento, doando uma quantidade significativa de imóveis para organizações religiosas. Solteira, sem herdeiros, ela determinou logo no início do testamento: “Deixo a minha casa e chácara sita à rua Almirante Alvim e fundos à rua Sebastião Braga, onde residiu o reverendíssimo padre Sebastião Antonio Martins, ao reverendíssimo padre vigário da Igreja Matriz desta cidade para um Azylo de Órphãos”.
Quem assumiu a responsabilidade pelo imóvel foi justamente a IDES, fundada em 10 de junho (dia de Portugal) de 1773, nele instalando aquilo que a rica florianopolitana legara à Irmandade. O Asilo de Órfãs de Santa Catarina, como foi inicialmente chamado, incorporou atividades que já eram realizadas pelas irmãs da Divina Providência, no Asilo São Vicente de Paulo. Acabou adotando esse nome.
Recuperação
O trabalho dos engenheiros, arquitetos e operários é meticuloso, acompanhado de perto pelo diretor da Casa Cor SC, Luiz Bernardo. A degradação do prédio era visível e assustadora quando os responsáveis pela mostra assumiram o espaço. Mas, acostumados a desafios semelhantes não só em Florianópolis, como em outras cidades onde a Casa Cor é realizada, os empresários e os técnicos buscaram imediatamente as soluções. Todo o sistema elétrico e hidráulico foi refeito e modernizado. Acessos internos que estavam lacrados há muito tempo foram reabertos. Pisos com ladrilhos originais estão recuperados, assim como os assoalhos feitos em madeira de lei. Partes das paredes exibem os tijolos da construção. Outras partes mostram as várias camadas de pinturas aplicadas durante os 107 anos de história do prédio. Os ambientes são muito bem iluminados, graças aos janelões centenários. A parte frontal proporciona uma bela vista para a Praça Getúlio Vargas. Ao lado do antigo asilo está a Capela do Divino Espírito Santo, também vinculada à IDES, uma das mais procuradas de Florianópolis para cerimônias de casamento.
Inclusão e cidadania
A direção da IDES deve decidir posteriormente à edição da Casa Cor SC 2017 qual a utilização mais recomendada para os ambientes restaurados. Atualmente, a entidade atende mais de 750 crianças e adolescentes, além de suas famílias, com projetos de inclusão, capacitação, motivação, entre outros, “sempre incentivando o protagonismo do público beneficiado para o exercício da sua cidadania”. Além disso, a IDES serve em seu restaurante mais de 43 mil refeições por mês.
Luiz Bernardo observa que esse objetivo social é parte da missão da própria Casa Cor SC, que sempre deixa um legado para as cidades e para as comunidades. “Recuperamos o patrimônio histórico, mas também temos consciência de nossa missão social. Essa parceria com a IDES é a prova disso”, finaliza.
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