Um estudo sobre a instalação de emissários submarinos em Florianópolis foi um dos temas abordados na primeira plenária do Congresso Catarinense de Saneamento nesta quinta-feira (31).
O professor da Universidade do Paraná, Tobias Bleninger, mostrou o extenso levantamento de dados, as modelagens e simulações direcionadas a avaliar a adoção dessa tecnologia na Ilha.
Os estudos foram desenvolvidos a pedido da CASAN, para avaliar as melhores soluções tecnológica para as características oceanográficas da Ilha, além de identificar locais para a adequada dispersão do efluente.
Durante as análises foram levados em conta diversos fatores. Entre eles, a estimativa de crescimento e ocupação populacional, infraestrutura de saneamento existente, custos de operação em terra, diferentes níveis de tratamento, interferência em outros usos da água, como pesca, maricultura e turismo.
“O que é preciso ficar muito claro é que no caso de emissários submarinos não há uma receita pronta, uma solução padrão. É preciso estudar cada caso para que a melhor tecnologia seja escolhida”, frisou Tobias, que diversas vezes ressaltou em sua fala a importância da combinação entre tratamento do esgoto e emissário submarino para descarte final sem comprometimento às condições ambientais.
“O que precisamos ter em mente é que a situação do Brasil exige uma ação rápida para o saneamento. Não podemos esperar, pois sem implantação das soluções cada vez mais o esgoto está sendo descartado sem tratamento no ambiente”, ressaltou, falando de forma geral sobre a importância do saneamento para cidades litorâneas. “O importante é que a decisão sobre qual tecnologia adotar seja tomada com base em muitos dados e estudos”, finalizou o professor que possui especialização em Hidráulica e Meio Ambiente e doutorado em Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental pelo Karlsruhe Institute of Technology (Alemanha).
América Latina
“O mar não é uma piscina de água pura, é um ecossistema com muita atividade biológia, onde os nutrientes entram como parte do sistema. Na verdade, a descarga de nutrientes é até positiva para o mar”, defendeu israelense Menahem Libhaber, consultor do Banco Mundial, que trouxe para a plenária exemplos de emissários na América Latina.
“O Chile tem mais de 40emissários, e estudos de acompanhamento mostram que houve uma grande melhoria da qualidade da água do mar”, contou para a plateia repleta de profissionais e também de estudantes.
O engenheiro israelense convidado por ser um dos maiores conhecedores do assunto lembrou também do caso de Cartagena, cidade histórica voltada para o mar do Caribe. “Ali havia uma baia altamente contaminada até que foi implantado um emissário para descarte do esgoto a quatro quilômetros da costa”, explicou, frisando em sua apresentação a grande capacidade de diluição da água do mar.
Balneabilidade
Especialista em qualidade das águas costeiras da companhia de Meio Ambiente de São Paulo, a CETESB, Cláudia Lamparelli abordou os fatores que interferem na balneabilidade ̶ e avaliou o impacto de emissários submarinos em aguas costeiras.
“A balneabildade é um assunto complexo, que tem interferências de diversos fatores e depende da ação de vários atores”, ressaltou. “Alguns destes fatores são relacionados à ação humana, outros são fatores ambientais”, disse Cláudia, citando o crescimento das populações nas cidades litorâneas em períodos de verão como um dos grandes desafios para a qualidade das águas litorâneas. Nesse caso, investimentos em redes de coleta e tratamento são fundamentais para garantia da balneabilidade.
“Mas um ano muito chuvoso pode esconder os investimentos em saneamento”, alertou a palestrante, referindo-se aos fatores ambientais que influenciam a balneabilidade.
Segundo Claúdia, nas praias de Santos, onde está instalado um dos primeiros emissários submarinos do Brasil, houve um ganho significativo na qualidade da água litorânea. Porém ainda há impacto na balneabilidade em função das ligações irregulares de esgoto nos canais de drenagem.
“Se bem planejados e devidamente licenciados os emissários podem ser uma solução importante para melhoria da balneabilidade. Em São Paulo temos nove emissários que trouxeram uma importante melhoria nesse aspecto”, informou a profissional da Cetesb.
“Mas é importante ter claro que não adianta implantar emissários se não há crescimento da cobertura de redes de coletas”, alertou também a palestrante, que ressaltou a importância do monitoramento da balneabilidade e a divulgação das informações para a população. “Praia imprópria oferece riscos à saúde pública”.
(Casan, 31/08/2017)
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