Três anos de pesquisa; cerca de 130 expedições ao mar; mais de 140 pessoas de diferentes campos do conhecimento trabalhando em uma área com biodiversidade única. Estes números sintetizam a amplitude do Projeto de Monitoramento Ambiental da Reserva Biológica Marinha do Arvoredo e Entorno (MAArE/UFSC), que mapeou dados biológicos e oceanográficos deste patrimônio natural catarinense. Parte dos resultados, incluindo o alerta para os riscos da ação humana, pode ser conferido no livro que será lançado nesta quarta-feira e estará disponível para download na página do projeto.
O MAArE é resultado de uma condicionante ambiental do Processo de Licenciamento dos Campos Petrolíferos de Baúna e Piracaba, na Bacia de Santos, a cerca de 300 quilômetros da costa de Santa Catarina. O Instituto Chico Mendes para Conservação da Biodiversidade (ICMBio) solicitou que a Reserva Biológica Marinha do Arvoredo (Rebio Arvoredo), localizada entre Florianópolis e Bombinhas, fosse estudada como subsídio à gestão da Unidade de Conservação que possui uma área de 17.600 hectares − aproximadamente 40% do tamanho da Ilha de Santa Catarina. O projeto foi coordenado por pesquisadoras do Departamento de Ecologia e Zoologia da UFSC.
Os dados foram coletados entre 2014 e 2016 e compilados em relatórios técnicos e científicos, que geraram diversos trabalhos acadêmicos, como artigos, dissertações e teses. O livro, no entanto, foi planejado para ser acessível ao público mais amplo, que possa se interessar pelo monitoramento ambiental e pela conservação da natureza. A linguagem é simples e inclui gráficos, aquarelas e muitas fotografias. “Este livro resume o estado atual da Rebio Arvoredo como uma ‘fotografia’ científica e artística do patrimônio que estas ilhas guardam”, afirma João Paulo Krajewski, biólogo e doutor em ecologia de peixes marinhos, que viaja pelo mundo fotografando e filmando a natureza. Ele é responsável por grande parte das fotografias e por um capítulo do livro.
Segundo a professora Bárbara Segal, coordenadora do projeto e responsável pela parte biológica do MAArE, a pesquisa mostra a importância da unidade de conservação. De forma geral, há muito mais biodiversidade dentro da Rebio Arvoredo que no seu entorno. No caso de peixes como as garoupas, por exemplo, dentro da reserva eles são encontrados em maior número e tamanho, muitas vezes passando de 50 centímetros. “Esse status de conservação gera um panorama onde os peixes possuem um tamanho maior e consequentemente produzem mais ovos do que no entorno onde ocorre a pesca. Isso mostra claramente a importância de ter áreas reservadas para poder contribuir com as áreas que estão sendo pescadas no entorno”, avalia a pesquisadora.
O projeto também ajudou a identificar o coral-sol, uma espécie invasora que, por não ter um predador natural, prolifera-se rapidamente e ocupa o espaço das populações locais. Além de identificar o invasor e informar ao ICMBio, os pesquisadores-mergulhadores ajudaram a removê-lo. “A gente detectou, mapeou, e a ação foi feita em um momento em que as populações ainda não estavam muito espalhadas. Há ainda um foco em uma fenda pouco acessível, mas o ICMBio está fazendo o manejo. Não conseguiu erradicar, mas está com um controle relativamente bom”, afirmou Bárbara.
A região corre outros riscos. Um deles é em relação às mudanças climáticas. De acordo com a professora Andrea Santarosa Freire, vice-coordenadora e responsável pela parte oceanográficado projeto, com o forte El Niño de 2015/2016, que aquece o Oceano Pacífico, as águas catarinenses ficaram muito frias. “O fato é que não necessariamente as mudanças globais vão fazer com que as temperaturas fiquem mais quentes. Aqui pode ficar até mais frio, como aconteceu em 2016. E se ficar mais frio, esta fauna da Rebio vai sofrer porque é tropical e pode não resistir a baixas temperaturas”, explicou.
Há outros perigos mais próximos. O projeto detectou altos índices de poluição em dois locais da região: na baía norte, em Florianópolis, e na baía de Tijucas, em Tijucas. Esses espaços apresentam baixo índice de biodiversidade e podem, no futuro, afetar a Rebio. “Qual a tendência? Se não cuidarmos do entorno, essa poluição e essa baixa diversidade vão ocorrer dentro da reserva. O MAArE serve como um alerta. Os municípios no entorno precisam cuidar, todos têm uma responsabilidade em relação à reserva”, afirmou Andrea.
Além do livro, que estará disponível na página do projeto, também será lançado um banco de dados considerado de vanguarda no Brasil, que armazenará informações sobre os indicadores monitorados. Os gestores da Rebio Arvoredo e o público em geral terão acesso aos dados, que poderão ser usados tanto no presente, como no futuro. Outras Unidades de Conservação e outros projetos também poderão usar o sistema para armazenar e utilizar dados de monitoramentos ambientais.
Mais informações sobre o projeto MAArE podem ser solicitadas pelo e-mail Esta imagem contém um endereço de e-mail. É uma imagem de modo que spam não pode colher. ou pelo telefone (48) 3721-6160.
(UFSC, 21/08/2017}
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